Homem ameaça repórter, é preso, se arrepende e faz declaração de amor 

Ocorrência ressalta o lado esdrúxulo da cobertura policial para saciar o apetite do telespectador por excentricidades do cotidiano

11 mai 2024 - 10h14
(atualizado às 10h24)

Já ouviram falar do Edomilson Martins? Pois ele é famoso no Ceará. Usa o slogan ‘o repórter indomável’. Trabalha para o portal Jijoca Jeri Online. 

No fim de abril, o jornalista protagonizou um episódio bizarro que ilustra bem a cobertura policial no interior do Brasil. 

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Ele acompanhou agentes da PM em uma averiguação de perturbação do sossego por som alto. O homem denunciado por vizinhos não gostou de ser filmado. 

“Se tu publicar isso aí, vai ver”, disse o cidadão. “Se tu publicar, vai pro buraco.” Sentindo-se ameaçado, Edomilson solicitou aos policiais que o prendessem em flagrante por ameaça. 

Assumidamente alcoolizado, o rapaz foi algemado e colocado na ‘gaiola’ da viatura, porém, o desfecho da matéria lembra um esquete de humor popularesco. 

O homem entrou em acordo com o jornalista. “Eu lhe peço perdão”, propôs. Na sequência, encostou a cabeça no ombro do repórter. 

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Questionado sobre a intimidação, ele disse ter sido “um momento de loucura”. “Nunca faria isso com você, que é o repórter da nossa cidade.” 

Na sequência, surpreendeu ao lançar uma declaração. “Eu te amo”, afirmou, com voz melosa. “Você me ama?”, quis confirmar o repórter. “Te amo”, respondeu o homem. “Tudo bem, vou pedir aos policiais para tirar as suas algemas.”

O amor venceu. O indivíduo se livrou da prisão e o ‘indomável’ garantiu uma matéria com potencial de audiência. A coluna decidiu destacar essa ‘pérola’ como exemplo do jornalismo policial regional.

Homem faz as pazes com o repórter após dizer que o enviaria "para o buraco"
Homem faz as pazes com o repórter após dizer que o enviaria "para o buraco"
Foto: Reprodução

Exageros à parte, muitas vezes, os pequenos e médios veículos de comunicação precisam hipervalorizar fatos corriqueiros a fim de preencher o noticiário. 

Sim, há sensacionalismo em numerosos casos. Mas a culpa não é apenas da reportagem. O público consumidor – pouco preocupado com questões éticas – alimenta essa produção jornalística com viés apelativo, assim como os anunciantes que a apoiam. 

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Se dá audiência e faturamento, por que se preocupar? Sempre interessado em espiar pequenas e grandes desgraças alheias, o povo jamais recusa pão e circo – ainda que um circo de horror.

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