Desde sua introdução polarizadora na segunda temporada, Kali Prasad (008) permaneceu como uma das maiores pontas soltas da mitologia de Stranger Things. Interpretada pela atriz dinamarquesa Linnea Berthelsen, a personagem retornou no Volume 2 da quinta temporada não apenas para um fan service, mas como peça central para entender os planos do governo e o possível desfecho da saga. Abaixo, recapitulamos a trajetória da ilusionista, as revelações perturbadoras sobre seu cativeiro e o dilema moral que ela traz para o episódio final.
A outra cobaia de Hawkins
Apresentada no controverso episódio "A Irmã Perdida", em 2017, Kali foi estabelecida como o oposto ideológico de Eleven (Millie Bobby Brown). Enquanto a protagonista buscava família e normalidade, Kali buscava vingança. Com o poder de criar ilusões mentais (diferente da telecinese física de Eleven ou Vecna), ela liderava uma gangue de desajustados focada em caçar e eliminar os ex-funcionários do Laboratório de Hawkins.
Naquela época, sua função narrativa foi servir como um espelho sombrio, ensinando a irmã a canalizar sua raiva, mas também mostrando o custo de uma vida consumida pelo ódio. Quando Eleven escolheu voltar para salvar seus amigos em vez de continuar a vendetta, Kali desapareceu da trama, deixando uma lacuna que durou anos.
O retorno sombrio na 5ª Temporada
O retorno de Berthelsen ao elenco no Volume 2 trouxe um contexto muito mais trágico do que o esperado. Longe de estar vivendo livremente, descobrimos que Kali foi caçada pela nova antagonista da série, a Dra. Kay (Linda Hamilton). A gangue que servia como sua família substituta foi executada, e Kali foi levada para o "MAC-Z", a base militar situada dentro do Mundo Invertido.
Diferente de sua primeira aparição, onde detinha o controle, a Kali da 5ª temporada surge vulnerável, raspada e acorrentada, reduzida novamente à condição de rato de laboratório. É através dela que a série expõe a brutalidade do novo regime militar: Kali estava sendo usada como um "banco de sangue" vivo.
O Projeto Indigo e a falha genética
A grande atualização de lore trazida pela personagem envolve a ressurreição do "Projeto Indigo". A Dra. Kay utilizava o sangue de Kali em transfusões para mulheres grávidas, na tentativa de replicar os experimentos que o Dr. Brenner fez décadas atrás para criar Henry Creel e a própria Eleven. O objetivo era gerar uma nova safra de super-humanos para uso militar.
No entanto, a narrativa confirma uma limitação nos poderes de 008. Os experimentos fracassaram porque o sangue de Kali não possui a mesma potência ou compatibilidade genética que o de Henry ou Eleven. Essa revelação coloca a personagem em uma posição de "meio para um fim": ela serviu apenas para provar à Dra. Kay que, para o projeto funcionar, a captura de Eleven é indispensável.
Talvez a contribuição mais importante de Kali para a reta final seja filosófica. Enquanto Eleven e o grupo de Hawkins lutam movidos pela esperança de uma vida normal, Kali traz para a mesa um niilismo fundamentado na experiência.
Após ver seus amigos mortos e ser torturada novamente, a personagem de Linnea Berthelsen defende a tese de que o ciclo de exploração nunca terminará enquanto as "cobaias" estiverem vivas. Para ela, matar Vecna não é suficiente, pois o governo (representado por figuras como Brenner e Kay) sempre buscará transformar os poderes delas em armas.
Essa visão culmina na proposta sombria feita por Kali nos momentos finais do Volume 2: a de que ela e Eleven devem permanecer no Mundo Invertido/Abismo para garantir a destruição da ponte interdimensional, sacrificando-se para encerrar a linhagem de sangue sobrenatural de uma vez por todas.
Se na segunda temporada Kali representava a vingança, no final da série ela passa a representar o martírio. Resta saber se, no episódio de Ano Novo, Eleven conseguirá convencer sua "irmã perdida" de que existe vida além do laboratório, ou se a profecia fatalista de 008 se cumprirá.