Ludmilla voltou a se posicionar de forma contundente contra o racismo e reacendeu o debate sobre responsabilidade institucional na mídia brasileira. Nesta segunda-feira (22), a cantora revelou que recusou uma homenagem proposta pelo SBT após constatar que a emissora segue mantendo em seu quadro o apresentador Marcão do Povo, responsável por um ataque racista contra ela em 2017. A decisão foi comunicada por meio de um desabafo nas redes sociais, no qual a artista afirmou que não aceita reconhecimento vindo de um espaço que, segundo ela, ainda dá voz a atitudes racistas.
"Não vou compactuar com racismo", declarou Ludmilla, deixando claro que sua escolha não se trata de vaidade ou orgulho pessoal, mas de coerência com sua história e com a luta antirracista que carrega publicamente.
Por que Ludmilla recusou a homenagem do SBT
Segundo a cantora, o contato feito pela emissora tinha como objetivo prestar uma homenagem à sua trajetória artística. No entanto, Ludmilla afirmou que não poderia aceitar enquanto o SBT mantiver Marcão do Povo em sua programação, atualmente à frente do telejornal Primeiro Impacto.
"Eu não posso aceitar uma homenagem enquanto essa mesma emissora segue dando espaço e respaldo a pessoas coniventes com atitudes racistas. Isso é incoerente e inaceitável", afirmou a artista, em tom firme.
Para Ludmilla, homenagens não apagam feridas abertas nem substituem ações concretas. "Racismo não se resolve com homenagem, e sim com responsabilidade", completou.
O caso que envolve Ludmilla e Marcão do Povo teve início em 2017, quando o apresentador, à época no comando do Balanço Geral em Brasília, chamou a cantora de "pobre macaca" durante uma transmissão ao vivo. A fala gerou indignação nacional e levou à demissão do jornalista pela Record. Pouco tempo depois, no entanto, ele foi contratado pelo SBT, decisão que também provocou forte repercussão negativa.
Ludmilla entrou com uma ação judicial por injúria racial, e o processo se arrastou por anos. Em 2023, Marcão chegou a ser condenado a um ano e quatro meses de prisão, mas recorreu da decisão.
Recentemente, Marcão do Povo afirmou publicamente que teria sido inocentado de todas as acusações. Ludmilla voltou às redes sociais para rebater a declaração e esclarecer a situação jurídica.
"Ele não foi inocentado. O que aconteceu foi uma manobra processual que o livrou de cumprir pena. A Justiça reconheceu o racismo, mas ele não vai pagar por isso", explicou a cantora, visivelmente indignada.
A artista classificou como "enojante" o fato de o apresentador seguir com espaço em uma emissora de grande alcance. Para ela, o problema ultrapassa o caso pessoal e expõe uma falha estrutural na forma como o racismo ainda é tratado no Brasil.
Após recusar a homenagem do SBT, Ludmilla recebeu uma onda de apoio nas redes sociais. Seguidores, artistas e fãs destacaram a importância de sua postura e elogiaram a coragem de manter sua posição mesmo diante de uma grande emissora.
"Eu quero agradecer profundamente a todas as pessoas que entenderam a gravidade do que aconteceu e se posicionaram comigo. O apoio de vocês fortalece", disse a cantora.
Ao longo de sua carreira, Ludmilla se consolidou não apenas como uma das maiores artistas do país, mas também como uma voz ativa contra o racismo, a LGBTfobia e outras formas de discriminação. Sua decisão de recusar a homenagem do SBT reforça essa trajetória e reacende a discussão sobre o papel da mídia na reprodução ou no combate ao preconceito.
Mais do que um desabafo pessoal, o gesto da cantora se transforma em um recado direto: reconhecimento simbólico não substitui justiça, e silêncio institucional também é posicionamento.