Papua-Nova Guiné costuma chamar a atenção por combinar um território relativamente pequeno, comparável em extensão ao estado da Bahia, com uma enorme diversidade humana e cultural. Com cerca de 10 milhões de habitantes, o país reúne centenas de povos, tradições e modos de vida muito distintos, espalhados entre ilhas, planaltos e florestas tropicais. Porém, entre todos os destaques, um dado sobressai. Afinal, é o país com o maior número de línguas diferentes faladas em seu território.
Localizada na Oceania, na metade leste da ilha da Nova Guiné e em diversas ilhas menores ao redor, a nação forma uma espécie de mosaico cultural. Ademais, a geografia marcada por montanhas íngremes, vales isolados e áreas de floresta densa contribuiu historicamente para a formação de comunidades relativamente separadas entre si. Esse isolamento favoreceu o surgimento e a preservação de idiomas próprios, o que ajuda a entender por que a Papua Nova Guiné se tornou um caso singular no estudo das línguas do mundo.
Por que Papua-Nova Guiné é o país com mais línguas do mundo?
A palavra-chave central ao falar sobre o país é justamente sua diversidade linguística. Afinal, estimativas recentes apontam para aproximadamente 840 línguas catalogadas na Papua-Nova Guiné, um recorde mundial. Em termos de comparação, trata-se de um número muito superior ao total de línguas faladas em continentes inteiros. Porém, esse quadro não surgiu de forma repentina. Ele resulta de milhares de anos de ocupação humana, adaptação ao território e convivência entre povos que desenvolveram idiomas próprios para suas relações internas.
Ao longo da história, muitos grupos se instalaram em regiões isoladas por montanhas, rios ou florestas, mantendo pouco contato com vizinhos de outros vales ou ilhas. Assim, línguas foram se diferenciando, ganhando vocabulário, sons e estruturas gramaticais próprias. Por isso, em vez de um idioma nacional único, a Papua-Nova Guiné reúne uma rede complexa de línguas locais, dialetos e formas de falar que refletem identidades específicas de clãs, vilas e comunidades.
Como funciona o multilinguismo em Papua Nova Guiné no dia a dia?
No cotidiano, a convivência de tantas línguas faz com que o multilinguismo seja regra, e não exceção. Muitas pessoas crescem falando o idioma da própria aldeia como língua materna e aprendem outros para se comunicar em mercados, escolas ou em cidades maiores. Além das centenas de línguas nativas, o país utiliza o tok pisin (uma língua crioula de base inglesa) e o inglês como importantes meios de comunicação entre grupos distintos.
De modo geral, a população está acostumada a alternar entre idiomas conforme o contexto. Em casa, predomina a língua tradicional da família. Já em espaços públicos mais amplos, entram em cena o tok pisin e, em algumas situações formais, o inglês. Dessa forma, essa combinação de línguas de herança local com idiomas de circulação mais ampla ajuda a manter vivas as tradições. Ao mesmo tempo, permite participação em instâncias administrativas, escolares e econômicas.
- Língua da aldeia: usada em rituais, histórias orais e relações familiares.
- Tok pisin: empregado em comércios, rádios locais e conversas entre grupos diferentes.
- Inglês: presente em documentos oficiais, parte do sistema educacional e comunicação internacional.
Quais são os desafios para preservar 840 línguas em um país do tamanho da Bahia?
Manter um patrimônio linguístico tão amplo em um território equivalente ao do estado da Bahia envolve vários desafios práticos. A urbanização, o acesso crescente a mídias globais e a busca por oportunidades de trabalho fazem com que línguas de maior circulação, como o tok pisin e o inglês, ganhem espaço. Em consequência, muitos idiomas locais correm risco de redução drástica no número de falantes, especialmente entre os mais jovens.
Pesquisadores e organizações atuam na documentação dessas línguas, registrando vocabulários, narrativas tradicionais e gramáticas. Esse trabalho costuma incluir gravação de áudios, elaboração de dicionários e materiais escolares adaptados. Em algumas regiões, escolas comunitárias tentam equilibrar o ensino em uma língua local com o aprendizado de tok pisin ou inglês, buscando evitar que os estudantes se afastem de sua herança cultural.
- Mapeamento de idiomas: identificação das comunidades e do número de falantes.
- Registro escrito e sonoro: criação de arquivos com histórias, cantos e expressões.
- Uso educacional: inclusão de línguas locais nos primeiros anos de ensino.
- Parcerias acadêmicas: colaboração entre universidades e comunidades.
Importância cultural e social da diversidade linguística na Papua Nova Guiné
A quantidade de línguas faladas na Papua Nova Guiné não representa apenas um dado numérico. Cada idioma está ligado a conhecimentos sobre plantas, animais, técnicas agrícolas, rituais e formas de organização social. Muitos desses saberes são transmitidos principalmente de forma oral, em narrativas, cantos e discursos cerimoniais, o que torna a preservação linguística diretamente relacionada à preservação cultural.
Além disso, a diversidade linguística contribui para a forma como o país se vê no cenário internacional. Papua Nova Guiné aparece com frequência em estudos de linguística, antropologia e etnologia, servindo como referência para pesquisas sobre contato entre línguas, formação de crioulos e políticas de preservação cultural. A manutenção desse patrimônio, em um território do tamanho da Bahia e com cerca de 10 milhões de habitantes, segue sendo um dos grandes temas para o futuro do país.