Assim como Giovanna Ewbank, o psicólogo e influenciador de lifestyle Gabriel Magela foi vítima de deepfake há um mês. Ele recebeu, de um seguidor, um vídeo de si mesmo em que vendia produtos falsos.
Ele não apenas não havia gravado o vídeo, como não autorizou o uso de sua imagem para reproduções via inteligência artificial. Quando viu que seu rosto estava sendo usado para aplicar golpes, se desesperou.
“Escrevi, primeiro, para a agência que cuida da minha carreira. Eles pediram que eu registrasse um boletim de ocorrência imediatamente, e foi o que fiz”, conta ao Terra. Apesar das poucas denúncias ao conteúdo, o vídeo foi derrubado rapidamente, lembra a vítima.
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Os riscos do deepfake
Especialista em marketing de influência e sócio da agência Holofotte, Yuri Tanaka afirma que o deepfake é prejudicial não apenas para a vítima, como também para a agência que cuida dela e para seguidores.
“Muitas vezes, antes que o criador possa desmentir o vídeo, a narrativa já está estabelecida e os prejuízos à reputação já ocorreram. A falta de checagem de informações por parte dos usuários contribui para essa dinâmica, já que o reconhecimento da imagem e voz leva o público a aceitar o conteúdo como verdadeiro”, explica Tanaka.
“Além disso, ataques virtuais, bloqueios em massa e denúncias coordenadas podem agravar ainda mais a situação, dificultando a recuperação da credibilidade”, ele adenda.
Gabriel Magela conta à reportagem que ficou temeroso de que o deepfake influenciasse na sua reputação.
“Me senti bem mal, justamente por trabalhar muito para que a minha imagem seja associada a um conteúdo de qualidade. Sou psicólogo, foco em conteúdos sobre saúde mental, todos baseados em ciência. Por isso, um vídeo em que supostamente divulgo produtos em cujos benefícios não acredito pode prejudicar meus seguidores”, diz.
André Maini, especialista em Tecnologia e Marketing de influência e Head de B.I. e Novas tecnologias na ID. Impulso Digital, alega que um dos maiores problemas é a manipulação da imagem de influenciadores para promover coisas com as quais eles nunca concordaram. Foi o que aconteceu com Gabriel.
“Isso pode gerar um baita prejuízo para a reputação do criador e ainda confundir o público, que acredita estar vendo um conteúdo legítimo. E quando falamos de influência digital, confiança é a moeda mais valiosa. Se ela se perde, a conexão com o público também se perde”, alerta.
O que é o deepfake
Deepfake é uma tecnologia que usa inteligência artificial para criar vídeos e áudios falsos, mas muito realistas. A base disso são algoritmos treinados com uma grande quantidade de dados — imagens, expressões, falas — que conseguem imitar com precisão o rosto e a voz de uma pessoa.
Com a evolução dessas ferramentas, que hoje são até acessíveis, ficou muito mais fácil produzir esse tipo de conteúdo, o que obviamente traz riscos importantes, especialmente quando usado de forma maliciosa.
Mas como se prevenir?
Maini diz que é imprescindível ficar atento. “Já existem ferramentas que ajudam a monitorar e identificar o uso indevido de imagem e voz, e isso pode ser um bom investimento, principalmente para quem tem uma presença digital mais forte”, diz.
“Ter contratos que deixem bem claro os limites do uso de imagem também é fundamental. Além disso, se apoiar em uma equipe jurídica ou uma agência que possa agir rápido em caso de violação faz toda a diferença. O ideal é tratar a imagem como um ativo que precisa de proteção constante”, explica o especialista.
Fui vítima, e agora?
O especialista em marketing de influência Yuri Tanaka alerta que, ao ser vítima de um deepfake, é preciso ter estratégias a serem executadas rapidamente.
O primeiro passo ao identificar esse tipo de caso de manipulação é buscar suporte jurídico e registrar um boletim de ocorrência, formalizando o caso para possíveis medidas legais.
Em seguida, fazer um posicionamento rápido e transparente nas redes sociais pode ajudar a esclarecer a situação para a audiência.
“Para quem é influenciador, assessoria de imprensa e monitoramento constante da reputação digital são ferramentas essenciais para conter danos e evitar que conteúdos falsos se tornem virais sem contraponto.”
Como saber se o vídeo é real?
Especialista em desenvolvimento web e mobile, o engenheiro da computação Patrick Monteiro dá algumas dicas para usuários verificarem se os vídeos que receberam são reais ou montagem.
O primeiro passo para identificar um vídeo falso é prestar atenção nos detalhes. Mesmo que a tecnologia esteja muito avançada, vídeos criados por IA ainda têm falhas sutis. Aqui estão alguns pontos para observar:
Movimentos estranhos: se o rosto de uma pessoa no vídeo parece se mover de forma artificial ou as expressões faciais estão desconexas do contexto, isso pode ser um sinal de manipulação.
Falta de detalhes no fundo: os vídeos gerados por IA, muitas vezes, têm falhas no fundo. Pode ser que as imagens de objetos ou pessoas ao redor da pessoa principal não se movam de maneira natural.
Áudio e vídeo sem sincronização: em muitos deepfakes, a sincronização da boca com a fala pode não ser perfeita, resultando em uma sensação estranha quando você assiste.
Em muitos casos, a origem do vídeo pode ajudar a identificar se ele é real ou falso. Vídeos que circulam em plataformas duvidosas ou em contas desconhecidas nas redes sociais podem ser um sinal de alerta.
“Por isso, pesquise sobre o autor do vídeo. Se o vídeo for compartilhado por uma pessoa ou perfil desconhecido, procure saber mais sobre quem está compartilhando. Grandes empresas de mídia ou jornalistas geralmente verificam seus conteúdos antes de publicá-los”, alerta.