Garçons robôs pedem passagem em padaria de São Paulo e cativam a clientela

Família Virgulino, como é conhecida, é composta por três membros: Virgulino, Virgulina e Virgulino Jr; automatização é tendência até 2050

12 dez 2025 - 04h59
Resumo
Uma padaria em São Paulo adota garçons robôs para otimizar o atendimento e suprir a falta de mão de obra, unindo tecnologia e interação humana, refletindo uma tendência global de crescente automatização.
Garçons robôs fazem sucesso com clientes de padaria em São Paulo
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Eles deslizam pelo salão, com calma, precisão e educação. “Com licença, poderia me deixar passar, por favor. Preciso passar”, solicita o menorzinho da família. Atualmente, são três: Virgulino, Virgulina e Virgulino Júnior. Ora empilham louças para lavar, ora carregam pedidos de clientes. Nesses momentos, os painéis de controle substituem as listas de funções por sorrisos digitais. Afinal, simpatia é pré-requisito para um bom garçom --mesmo ele sendo feito por circuitos e sensores.

Desde setembro em operação, os garçons robôs viraram sensação na padaria Villa Grano, da Vila Clementino, na Zona Sul de São Paulo. “Tive a experiência de ver o robô, chamei outras pessoas para verem também, achei ele fofo e interessante”, avaliou Priscila Kaji, 39, cliente e professora universitária, acompanhada da amiga Aridiane Ribeiro, 37, também docente. “É a primeira vez que venho. Vim, inclusive, conhecer a padaria e o atendimento pelo robô”, confessou Aridiane. “Fomos atendidas pela gentil senhora que nos recebeu aqui, uma pessoa, e depois o robô veio trazer o nosso pedido. Acho que a complementação dos dois é bem bacana.”

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Garçons robôs, a solução

Quem também não esconde o sorriso no rosto é Luis Pereira Ferreira, dono e gerente da padaria. Isso porque, além da mídia gratuita e orgânica trazida pela família Virgulino, o empresário viu uma saída na automatização para a falta de mão de obra, a qual enfrenta desde a pandemia de covid-19. “Estamos com 20 vagas abertas na nossa loja, em todos os setores, padaria, confeitaria, atendimento, cozinha, manobristas, e não estamos conseguindo [preenchê-las]”, detalhou. 

Em conversa com um amigo que importa tecnologia da China, Ferreira soube dos robôs que, a princípio, utilizados em hospitais. Ele topou realizar um teste com um deles.  “Adorei, os funcionários adoraram. Hoje, estamos com três”, comemorou Ferreira.

Garçons robos viraram sensação em padaria da Zona Sul de São Paulo
Garçons robos viraram sensação em padaria da Zona Sul de São Paulo
Foto: Foto: David Plassa/Redação Terra

Segundo Ferreira, a intenção de automatizar parte do serviço era destinada à limpeza das mesas: “Aí, quando eu me deparo no segundo dia, os atendentes já estavam mandando os produtos para os clientes. Falei: ‘Meu, mas era só para a gente fazer o recolhe.’ ‘Ah, senhor, mas é tão simples, né?’ E aí começaram a mandar para as mesas.”

O empresário acrescenta que cada garçom robô consegue atender quatro mesas diferentes. “Ele tem sensores: assim que a pessoa retira o produto da bandeja, ele percebe que tirou o produto, agradece e vai para a próxima em sequência.” No último mês, por exemplo, um dos Virgulinos rodou 37 km na padaria, com um total de 184 mil entregas. “É o que mais trabalha”, brinca o gerente.

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Garçon robôs x garçons humanos

Apesar do entusiasmo com a tecnologia, Ferreira acredita que uma máquina jamais substituirá o ser humano. “Em todos os ramos, a gente precisa do atendimento humano. Nós gostamos, a pessoa tem que ser atendida, tem que ter as pessoas”, esclarece. “O robô vem, sim, complementar a mão de obra da gente, auxiliar os nossos colaboradores.”

Elizabete Delmondes, de 50 anos, é exemplo da importância do fator humano nas relações com clientes. Afinal, a “gentil” atendente mencionada no início da matéria também recebeu a reportagem do Terra com estima e é só elogios aos novos companheiros de salão: “Como a gente está com pouco funcionário, ajudam bastante. Enquanto ele leva os pratos até a pia, eu já vou para outro atendimento. Ao invés de duas ou três vezes numa mesa, faço esse processo de uma vez só.”

Padaria na Zona Sul de São Paulo já conta com três garçons robôs
Foto: Foto: David Plassa/Redação Terra

Para enfatizar a importância humana, Ferreira ainda lembra: “Temos 20 vagas abertas antes do robô, continuamos com as mesmas vagas abertas e contratando. E, quem quiser trabalhar, temos vaga aqui”, anuncia.

Robôs em funções humanas, uma tendência

Até 2050, presenciaremos aproximadamente 1 bilhão de robôs humanoides ocuparem funções anteriormente exercidas por seres humanos. Ao menos é o que aponta relatório de 2025 publicado pela instituição financeira global Morgan Stanley.

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Cerca de 90% dessa tecnologia serão utilizados para trabalhos repetitivos, simples ou estruturados nas áreas comerciais e industriais. “A adoção deverá ser relativamente lenta até meados da década de 2030, acelerando ao final e na década de 2040”, projeta Adam Jonas, chefe de pesquisa global de automóveis e mobilidade compartilhada da Morgan Stanley, em texto divulgado no site da instituição.

Até 2050, 1 bilhão de robôs ocuparão funções humanas, aponta Morgan Stanley
Foto: Foto: David Plassa/Redação Terra

A estimativa é que o mercado de robôs humanoides movimente US$ 5 trilhões até 2050 (o equivalente a R$ 27.295 trilhões, na cotação atual). Isso inclui cadeias de suprimentos relacionadas, reparo, manutenção e suporte --como o realizado na família Virgulino pelo assistente de TI, Mateus Oliveira, 25, que trabalha na empresa responsável pela instalação e manutenção dos garçons robôs. “Faço o mapeamento da loja, das mesas citadas, onde o robô entende que vai levar as refeições para os clientes, também o retorno de louças, para que ele possa levar pratos sujos, copos, etc”, explica.

É a primeira vez de Oliveira trabalhando com robôs, que não pensou muito para aceitar a proposta: “Hoje em dia, a gente vem com uma crescente de pedidos de robôs. Essa tecnologia vem para auxiliar o time nos comércios, para somar e dar aquela força”, arremata.

Fonte: Portal Terra
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