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O que é o Rumble, mencionado no documento encontrado pela PF na casa de Bolsonaro

Parceira da rede social de Trump, plataforma conservadora virou peça-chave na disputa entre Brasil e EUA

18 jul 2025 - 13h59
(atualizado às 14h02)

O Rumble, plataforma de vídeos que é reduto da extrema-direita global, se tornou um dos pontos centrais da operação contra Jair Bolsonaro desta sexta-feira, 18. Durante buscas autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal encontrou na casa do ex-presidente uma cópia impressa da ação que a empresa move contra o ministro Alexandre de Moraes na Justiça dos Estados Unidos.

O documento, protocolado no início do ano em parceria com a Trump Media (conglomerado de comunicação de Donald Trump), acusa Moraes de censura e pede que suas ordens judiciais não tenham efeito em território americano.

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A descoberta reforça suspeitas de que Bolsonaro tentou influenciar autoridades estrangeiras contra decisões do Judiciário brasileiro. Na mesma operação, os agentes apreenderam seu celular, cerca de US$ 14 mil, R$ 8 mil em espécie e um pendrive escondido em um banheiro. O ex-presidente agora está proibido de usar redes sociais, entrar em embaixadas e manter contato com diplomatas e aliados políticos, incluindo seu filho Eduardo Bolsonaro.

Fundado em 2013, o Rumble é uma plataforma de vídeos similar ao YouTube. A partir de 2021, passou a abrigar influenciadores e políticos banidos por violar regras de conteúdo em redes como X (antigo Twitter), Facebook, YouTube e Instagram. Desde então, passou a fornecer a infraestrutura tecnológica da Truth Social, rede social criada por Trump após ser suspenso das plataformas tradicionais. O vínculo foi consolidado com investimentos de figuras próximas ao ex-presidente, como Peter Thiel (bilionário cofundador do Paypal) e o atual vice, J.D. Vance.

O embate entre o Rumble e o STF teve início com a recusa da empresa em cumprir ordens judiciais brasileiras, como a suspensão de perfis envolvidos em ataques à democracia, incluindo o blogueiro Allan dos Santos. Em fevereiro de 2025, Moraes determinou o bloqueio da plataforma no Brasil por tempo indeterminado, após a empresa se recusar a indicar um representante legal no país. A medida foi confirmada por unanimidade pela Primeira Turma do Supremo.

Mais recentemente, Moraes ordenou também a suspensão do perfil do comentarista Rodrigo Constantino, agora cidadão americano. O Rumble voltou a desobedecer a ordem e, junto com a Trump Media, acionou a Justiça da Flórida pedindo que as determinações de Moraes não tenham efeito nos Estados Unidos. O processo gerou notificação oficial ao ministro, que poderá ser julgado à revelia se não responder no prazo estipulado.

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O caso se agravou ainda mais após Donald Trump publicar, no dia 9 de julho, uma carta aberta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No texto, o republicano denunciou o STF por supostas "ordens secretas e ilegais" e anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Especialistas veem a carta como parte de uma articulação entre o governo americano, parlamentares aliados a Bolsonaro e grandes empresas de tecnologia dos EUA, incomodadas com os avanços regulatórios no Brasil.

Entre os pontos de maior incômodo estão a mudança no entendimento do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que passou a permitir a responsabilização de plataformas mesmo sem ordem judicial, a tramitação do Marco Legal da Inteligência Artificial e as diretrizes firmadas pelo Brasil nos Brics e no G20 sobre soberania digital. As big techs enxergam esses movimentos como uma ameaça direta a seus modelos de negócio baseados em autorregulação e opacidade algorítmica.

Para investigadores, a cópia da petição do Rumble na casa de Bolsonaro mostra que a ofensiva internacional tem conexão direta com a estratégia de defesa do ex-presidente. Em maio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) já havia pedido apuração sobre possíveis tentativas de Bolsonaro de estimular retaliações internacionais contra Moraes. A PF agora também investiga se houve tentativa deliberada de obstruir investigações ou pressionar instituições brasileiras por meio de articulações no exterior.

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