Neandertais viviam em pequenos grupos, sugere estudo

Por meio do sequenciamento do DNA de parentes do homem moderno, pesquisadores analisaram a comunidade da espécie que viveu há 54 mil anos

20 out 2022 - 14h01
(atualizado em 25/10/2022 às 09h49)

Análise genética de ossos e dentes encontrados em cavernas na Sibéria ajuda a decifrar estrutura social e familiar dos neandertais. Ciência sabe pouco sobre como espécie se agrupava.Restos de ossos e dentes encontrados em duas cavernas da Sibéria estão ajudando os cientistas a decifrar a estrutura social de neandertais. Por meio do sequenciamento do DNA desses parentes do homem moderno, pesquisadores analisaram a vida social de uma comunidade da espécie que viveu há cerca de 54 mil anos.

Análise de DNA descobriu parentesco entre restos de neandertais encontrados em cavernas
Análise de DNA descobriu parentesco entre restos de neandertais encontrados em cavernas
Foto: DW / Deutsche Welle

Para o estudo publicado nesta quarta-feira (19/10), cientistas analisaram o DNA de 13 neandertais, sendo oito adultos e cinco crianças e adolescentes, e descobriram uma rede interconectada de relacionamentos, incluindo um pai e uma filha, e possíveis tia ou avó e sobrinho. A análise mostrou ainda que todos os neandertais eram consanguíneos, o que indica que as comunidades eram compostas por pequenos grupos de parentes próximos com entre 10 e 20 membros.

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O estudo conclui ainda que eram as mulheres que migravam para outras comunidades, e os homens tendiam a permanecer onde nasceram. Os cientistas acreditam que ao menos 60% das mulheres vieram de outras comunidades para se juntar às famílias de seus parceiros.

As cavernas eram a base do grupo, que percorria regiões próximas em busca de matérias-primas e alimentos. Além das amostras, foram encontradas nas cavernas de Chagrskaya inúmeras ferramentas de pedra e ossos. A caça de cavalos, bisões e outros animais nos vales dos rios da região forneciam carne e peles para a comunidade, afirmam os pesquisadores.

Um dos maiores estudos genéticos de neandertais

A análise também não detectou nenhuma evidência de cruzamento entre neandertais e o hominídeo de Denisova, cujos restos mortais foram encontrados a 100 quilômetros das cavernas de onde saíram as amostras estudadas.

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Publicado na revista especializada Nature, esse é um dos maiores estudos genéticos da população neandertal já realizado. A pesquisa foi conduzida por cientistas do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva, entre eles, o ganhador do Nobel de Medicina deste ano, Svante Pääbo.

Estudos anteriores revelaram que os neandertais eram mais sofisticados do que se pensava, tendo adotado práticas como a de enterrar os mortos e fabricar ferramentas e ornamentos elaborados. No entanto, pouco se sabe sobre sua estrutura familiar e social.

"Nossas descobertas tornam os neandertais mais relacionáveis, e, de certa maneira, mais humanos. Eles viviam e morriam em pequenos grupos familiares, provavelmente num ambiente extremo. No entanto, eles conseguiram sobreviver por centenas de milhares de anos", afirmou o geneticista populacional Benjamin Peter, coautor do estudo.

Quem eram os neandertais

O neandertal é uma subespécie de humanos arcaicos que se separaram dos humanos modernos entre 315 mil e 800 mil anos atrás. Especialistas acreditam que sua população tenha variado entre 3 mil e 12 mil indivíduos, que se reproduziam, antes de serem extintos há 40 mil anos.

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A pequena população tornou a espécie suscetível ao declínio devido a doenças, baixas taxas de fertilidade e competição com outros animais. A causa de sua extinção é um mistério, mas as teorias incluem mudanças climáticas, doenças e a chegada do humano moderno.

Comparados aos humanos modernos, os neandertais tinham um corpo mais robusto e membros mais curtos. Especialistas acreditam que eles eram resistentes e podiam conservar bem o calor corporal para viver em climas frios.

Pesquisas anteriores revelaram que os neandertais cuidavam dos doentes com analgésicos e penicilina feitos de plantas e fungos. Os fósseis da espécie encontrados mostram que entre 79% e 94% deles possuíam alguma lesão traumática. Um estudo indicou que 74% das amostras analisadas mostravam ferimentos causados por ataques de animais.

O primeiro genoma neandertal foi sequenciado há pouco mais de uma década por Pääbo e outros cientistas do Max Planck. Esse trabalho rendeu a Pääbo o atual Nobel. O estudo publicado nesta quarta-feira é uma continuação desse primeiro sequenciamento.

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cn/ek (DW, Reuters, DPA, AFP)

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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