Opinião - Carta a Oruam: terapia é o caminho para quebrar ciclos e buscar a paz
No momento em que Oruam se entrega, envolvido em mais um problema com os homens da lei, é hora de pensar nas emoções
Por mais que se fale de Oruam e que se debatam suas atitudes, talvez ninguém ainda tenha dado o toque mais importante: procurar ajuda terapêutica, um auxílio especializado ao qual todos deveriam ter acesso. Não ria, é mais sério do que parece.
Oruam, meu jovem:
Toda vez que vejo você se metendo em encrencas, me pergunto: não tem ninguém que possa te convencer a fazer terapia? Isso mesmo, terapia - psicanálise, sessões terapêuticas, deitar no divã e deixar o coração falar.
É uma cura que o dinheiro pode comprar, meu mano: terapia. Não sou especialista, mas entendi, em muitos anos de análise, um princípio básico, de que a origem dos nossos problemas está na trajetória de vida, sobretudo nos primeiros anos.
Fazer terapia serve para entender os motivos pelos quais fazemos ou não certas coisas. Não significa ser louco ou passar a odiar pais e familiares. Significa se entender e os entender melhor. Oruam, na moral: a gente vive repetindo padrões de comportamento.
Você que é músico deve conhecer aquela do Belchior, sobre ainda sermos os mesmos e vivermos como os nossos pais. É o que rola, Oruam, a gente acaba percorrendo caminhos semelhantes. E veja, meu truta: isto não é uma crítica a seu pais, mãe, avós e familiares.
Não é sobre eles, é sobre você. Não é fácil carregar seu fardo, mas te garanto, ele pode ser mais leve. Você pode aprender a lidar com sua história de uma forma mais suave, menos agressiva – não para os outros – meu irmão, mas para evitar que você se machuque tanto.
Não te conheço pessoalmente Oruam, embora tenha entrevistado sua avó para o livro dela, e troco mensagens com sua tia, como fonte de informação jornalística. Mas se me permite, com todo respeito, dar este toque, repito: faça terapia.
Terapia não é para os fracos, Oruam, é para os fortes, os sobreviventes, para quem tem coragem de rever sua própria trajetória. Te garanto que, em determinados momentos, falar na terapia é bem mais difícil do que dar um depoimento à polícia. Mas tenho certeza de que você é capaz.
E mais: abraçando a causa, você dará outro exemplo pra favela, de que cuidar das emoções é fundamental. Você, inclusive, poderia encampar, com sua força, uma campanha pela ampliação desse serviço de saúde pública. Seria lindo, Oruam, seria revolucionário.
Sei que esta carta pode parecer estranha, ainda mais neste momento em que as sugestões jurídicas são as mais importantes. Mas seus advogados resolverão essas pendências. Só não poderão evitar as próximas, que a terapia poderá.
Fica em paz, Oruam. E, sobretudo, busque a paz. Resolva seus problemas jurídicos e use um pouquinho da sua grana para contratar a melhor terapia que puder. Depois me conta. Garanto que vai dar bom. É um santo remédio.