Músicos de Salvador lançam projeto sobre sorriso
Artistas independentes produziram música e videoclipe com artistas da capital baiana e do Brasil, todos sorrindo
Acreditando que a música pode transformar o cotidiano e a vida das pessoas, a dupla independente cujo nome artístico é Cândido e Heder Novaes, de Salvador, estão lançando o videoclipe da canção Sorria. O projeto reúne sorrisos de artistas locais e nacionais como Fran (Os Gilsons), Roberto Barreto (Baiana System) e Suellen Massena, registrados durante a celebração da festa de Iemanjá deste ano, quando, de forma espontânea, sorrisos foram captados para compor a obra audiovisual.
O lançamento do videoclipe fez parte das ações de um projeto maior, que contou com produções de camisetas com frases e trechos da música. Isso foi importante para aliviar os custos, ajudando a difundir a mensagem positiva que a faixa traz. A dupla de músicos conduziu todas as etapas da produção e relata como tem sido difícil fazer arte com qualidade de forma independente na Bahia.
A letra da música foi escrita no momento mais intenso da pandemia de Covid-19 em Salvador. “Foi muito difícil se perceber em meio a máscaras, devido a restrições sanitárias, sabendo que aquilo era importante, mas que escondia algo precioso para nossa identidade”, relata Heder Novaes. Na época, os artistas realizaram lives nas redes sociais para compartilhar afeto e difundir seus trabalhos artísticos. Nessa vivência digital, nasceu a composição.
Com produção assinada por Cândido, Sorria traz como proposta estética a instrumentação tradicional do samba, ligando elementos da natureza, a exemplo do som emitido pelos pássaros.
Artistas são crias da periferia de Salvador
Roberto Cândido de Souza Filho e Heder Jesus dos Santos, ambos com 32 anos, moram em bairros próximos de Salvador. Heder é da região da Cidade Baixa, nascido e criado no Jardim Cruzeiro, área periférica. Cândido mora no bairro de Brotas, mas viveu a vida toda no IAPI, também nas bordas de Salvador.
Eles se conheceram em 2007, na Oficina de Teatro do antigo Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Na ocasião, montaram a peça "O voo sobre o oceano", e desde então trabalham juntos. A parceria ficou mais intensa durante o período de isolamento da pandemia, quando se apoiaram afetiva e psicologicamente, utilizando as redes sociais para fazerem lives e criarem em ambiente virtual.
Além das relações artísticas, eles são críticos do cenário musical de Salvador, que consideram excludente.
Muito esforço para pequenos movimentos
De acordo com Cândido, a principal dificuldade artística é encontrar oportunidades de sobreviver através do trabalho musical na capital baiana. Ele alega que os caminhos para escoar a produção são difíceis, impedindo a construção de conexões duradouras com o público. No final das contas, fica prejudicada a possibilidade de produzir e viver de arte.
“A gente constrói em paralelo carreiras em outras áreas, para poder manter o mínimo para sobreviver. Isso torna a nossa atuação ainda mais exaustiva, precisamos investir muito mais esforço para que pequenos movimentos gerem resultados”, relata Cândido.
Para Heder Novaes, produzir música na capital baiana é ver tudo à sua volta acontecendo, enquanto o artista excluído se questiona sobre os motivos que impedem o acesso de mais gente.
“E pensar o quanto mais amplo e farto seria o cenário se houvesse um pensamento de democratizar os acessos, sobretudo sendo Salvador um local de exportação cultural: nossa música é acessada por todo o mundo, dita moda, influencia diretamente gêneros musicais dos mais diversos e nitidamente é vanguarda nesse país”, observa Heder.
O que vem por aí
Além do trabalho em dupla, os dois artistas finalizam projetos individuais. Heder conclui a produção do primeiro EP, Take The Vision, que transita pelo rap, trap, drill, com referências e reverências ao pagode, sempre pautando a realidade do preto periférico soteropolitano. O trabalho contém seis faixas e será lançado em julho.
Cândido está produzindo o EP Duo Ninho, trabalho em parceria com a cantora e contrabaixista Talita Felício, que será lançado em 12 de maio, com quatro músicas inéditas. “O EP trata sobre o afeto, acolhimento e resiliência”, resume.
