Vereador quer colocar a Bíblia em escolas públicas e privadas de Curitiba (PR)
Zezinho Sabará é representante de uma das áreas mais pobres da capital paranaense, a Cidade Industrial de Curitiba (CIC)
Vereador Zezinho Sabará propõe uso da Bíblia como material paradidático em escolas de Curitiba, gerando debates sobre laicidade do Estado e pluralidade religiosa. Se depender da configuração política da Câmara Municipal, projeto tem grandes chances de ser aprovado.
O vereador Zezinho Sabará (PSD), de Curitiba, capital do Paraná, quer a Bíblia nas escolas públicas e privadas da cidade como material paradidático nas disciplinas de História, Literatura, Filosofia, Artes e Ensino Religioso. O projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e passará por mais duas comissões.
“É um absurdo”, diz a vereadora Professora Ângela (PSOL), da Comissão de Educação, Turismo, Cultura, Esporte e Lazer, que analisará a proposta. “Me posiciono contra e vou travar uma dura batalha para que não tenha êxito.”
Segundo a vereadora, o projeto “abre um perigoso precedente de doutrinação ideológica sob o pretexto de enriquecer o processo de aprendizagem com enfoque cultural, literário e filosófico”. Além da Comissão de Educação, e proposta de Zezinho Sabará passará pela Comissão de Serviço Público.
Nela atua a vereadora Vanda de Assis (PT). “Embora o projeto alegue um enfoque cultural e facultativo, não há neutralidade quando se decide usar exclusivamente um livro sagrado, ignorando a pluralidade de crenças e visões de mundo presentes em nossa sociedade.”
Por que somente a Bíblia?
As duas vereadoras dizem que a proposta de Zezinho Sabará fere o princípio da “laicidade do Estado”, segundo o qual não se adota, favorece ou impõe religião alguma. “Nenhuma fé deve guiar o ensino nas escolas”, diz Professora Ângela.
A coordenadora do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (SISMUC), Juliana Mildemberg se diz preocupada com o projeto. Segundo ela, professores são denunciados por doutrinação mesmo quando usam obras e referências indicadas pelo município. “Vai piorar”, acredita.
“Quem garante que não haverá professores que vão usar a Bíblia de maneira tendenciosa? Vão contar a história da criação conforme a Bíblia?”, pergunta a sindicalista. Para ela, o projeto ignora as leis que instituem o ensino da história afro-brasileira e indígena.
Mildemberg pergunta ainda por que Zezinho Sabará não elencou outros livros religiosos relevantes. “Vai poder usar o Alcorão, a Torá?”, questiona, afirmando que há precedentes preocupantes, como a distribuição do Novo Testamento em escolas curitibanas.
Quem é Zezinho Sabará?
Cumprindo o terceiro mandato consecutivo, José Ortiz Lins, o Zezinho Sabará, mora na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) há mais de 35 anos. Foi agricultor, metalúrgico, comerciante, líder comunitário, dirigente de igreja, presidente de grêmio esportivo, de associação de moradores e participou de conselho de saúde.
Também editou jornais de bairro e apresentou programas radiofônicos. Declara-se de direita. Eleito para representar uma área periférica de alta vulnerabilidade social, o Sabará que acompanha o nome de Zezinho refere-se a uma vila dentro da CIC.
De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a CIC tem aproximadamente 173 mil habitantes, o que equivale a cerca de 10 % da população de Curitiba. O Sabará tem cerca de 10 mil habitantes.
O vereador e sua assessoria foram procurados pela reportagem, mas não responderam as perguntas. A prefeitura de Curitiba, também não. O espaço segue aberto para Zezinho Sabará e para a administração municipal.