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Conheça a gastronomia afetiva que transforma o Grajaú, em SP

Comida pode ser ferramenta de transformação social, valorizando o saber e a cultura locais, com sabor de comida de vó

10 jan 2024 - 08h36
(atualizado às 09h15)
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Matilde lançou o Sabor da Raiz, negócio de marmitas congeladas com foco na cozinha afetiva no Grajaú, periferia de São Paulo
Matilde lançou o Sabor da Raiz, negócio de marmitas congeladas com foco na cozinha afetiva no Grajaú, periferia de São Paulo
Foto: Arquivo pessoal

O BNH, como é chamado pelos moradores, é o único bairro planejado da periferia do Grajaú, no extremo da zona sul de São Paulo. Com suas ruas de paralelepípedo, prédios coloridos, e com uma comunidade predominantemente negra, a cozinha é uma das principais expressões culturais, com vários estabelecimentos, de pizza a delivery, passando por açaí, feijoada e muito mais.

É nesse contexto que surgem histórias de empreendedores gastronômicos que apostam na cozinha para levar sabor e afetividade à periferia, como é o caso de Matilde Cardoso, 56 anos, apaixonada pela culinária. Depois de trabalhar por muitos anos em outra função, ela decidiu realizar o sonho de empreender na área de gastronomia. Em 2022, lançou o Sabor da Raiz, um negócio de marmitas congeladas com foco na cozinha afetiva.

“O objetivo do Sabor da Raiz é levar afetividade para a casa das pessoas”, diz Matilde. “A gente quer que, quando elas comam as nossas marmitas, lembrem de momentos felizes do passado, como uma comida que a avó fazia ou um prato que a mãe preparava para o almoço de domingo.”

As marmitas do Sabor da Raiz são elaboradas com ingredientes frescos e de qualidade. O cardápio é variado e inclui pratos típicos da culinária brasileira, como feijoada, arroz de forno e frango com quiabo.

A resistência de moradores do Grajaú a marmitas congeladas vem sendo quebrada com afeto e sabor por Matilde
A resistência de moradores do Grajaú a marmitas congeladas vem sendo quebrada com afeto e sabor por Matilde
Foto: Arquivo pessoal

Matilde planeja abrir um empório no bairro. O espaço vai reunir produtos de diferentes empreendedores locais, como queijos, cachaças artesanais e doces caseiros. “Vai ser um espaço para promover a cultura e a gastronomia do BNH. Eu quero que as pessoas possam conhecer e apreciar os produtos de qualidade que são produzidos aqui.”

Lembranças de bolinhos de chuva

A história de Mara Luiza, 57 anos, também envolve a paixão pela culinária. “A nossa casa sempre foi um ponto de encontro para amigos e familiares. A cozinha era o lugar onde tudo acontecia, as conversas, as discussões, as festas”, relembra.

Em 2016, Mara e sua filha Bárbara decidiram começar a vender comida em feiras e o Sabores Divinos logo se tornou uma referência na região. “O nosso objetivo é levar comida afetiva e de qualidade para as pessoas da periferia, queremos valorizar os ingredientes locais e a cultura afro-brasileira.”

O cardápio do Sabores Divinos tem um toque especial de afeto. Há opções para todos os gostos, desde pratos típicos como feijoada e baião de dois, até opções veganas e vegetarianas.

Um dos mais populares é o pastel de shimeji, receita simples, mas que traz muitas memórias afetivas. As pessoas lembram de quando eram crianças e comiam bolinho de chuva feito pela mãe ou pela avó.

O cardápio do Sabores Divinos, de Maria Luiza, oferece de pratos típicos, como feijoada e baião de dois, até opções veganas e vegetarianas
O cardápio do Sabores Divinos, de Maria Luiza, oferece de pratos típicos, como feijoada e baião de dois, até opções veganas e vegetarianas
Foto: Arquivo pessoal

Mara planeja expandir o Sabores Divinos e ainda quer oferecer cursos de culinária para a comunidade. “Acreditamos que a comida pode ser uma ferramenta de transformação social. Por isso, queremos usar nosso trabalho para promover a cultura afro-brasileira e valorizar a culinária da periferia”, explica Mara.

Feijoada de final de semana vira empreendimento

A jornada gastronômica de Yuri da Silva, 26 anos, empreendedor da Elô’s Foods, começou em um projeto social da igreja que frequenta, fazendo feijoada aos finais de semana.

“Para levantar recursos para doação e tudo mais, a gente fazia essas feijoadas. Aí o pessoal foi gostando tanto que a gente começou a fazer frequentemente. Minha mãe tinha uma loja de roupa, mas não estava indo bem, então começamos a fazer marmitex”, relembra.

Logo em seguida, porém, veio a greve dos caminhoneiros, em 2018. A família não conseguiu dar continuidade ao trabalho, mas não perdeu o desejo de empreender. Suportaram ainda a pandemia de covid-19, momento de maior dificuldade. Contudo, mãe e filho superaram esses obstáculos.

Negócio da Elô’s Foods começou nas feijoadas  promovidas pela igreja para arrecadação de fundos. Empreendimento é gerenciado por mãe e filho
Negócio da Elô’s Foods começou nas feijoadas promovidas pela igreja para arrecadação de fundos. Empreendimento é gerenciado por mãe e filho
Foto: Arquivo pessoal

“No fundo, no fundo, minha mãe é o coração de tudo, é o tempero dela. O nome eu dediquei a ela também”, conta Yuri, que destaca a importância do Elô’s Food no Grajaú.

O restaurante possui um espaço físico, onde servem almoço e janta, além de fazer marmitex e entregas. O objetivo não é só oferecer um preço acessível. “Queremos entregar comida de qualidade, tempero caseiro que façam as pessoas lembrarem do tempero da avó, da tia, fazendo sentir o aroma e o ambiente, como se elas estivessem comendo em casa.”

5 personalidades que são referências do Grajaú 5 personalidades que são referências do Grajaú

ANF
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