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Para especialistas, medidas restritivas de Doria são insuficientes para conter coronavírus

Estado de SP terá restrição de funcionamento de serviços não-essenciais após as 20h e aos fins de semana a partir de segunda-feira, 25

22 jan 2021 - 18h11
(atualizado às 22h08)
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Especialistas ouvidos pelo Estadão encararam como um avanço a nova decisão do governador João Doria (PSDB) em colocar São Paulo nas fases laranja e vermelha da quarentena, restringindo o funcionamento de serviços não-essenciais após as 20h e aos fins de semana. Entretanto, consideram as medidas insuficientes para conter a transmissão do coronavírus no Estado.

"Eu vi avanço na alteração do Plano São Paulo. Muitas cidades regrediram para a fase vermelha e todo o Estado está no mínimo na fase laranja, o que mostra a gravidade da situação", aponta Domingos Alves, professor de medicina da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto.

Para ele, as medidas "são de desespero", uma maneira de sinalizar para a população que ações estão sendo tomadas para conter o coronavírus, mas estão equivocadas. "Não existem evidências de que elas contenham a taxa de transmissão".

Em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira, 22, Doria proibiu em todo o Estado o funcionamento de serviços não-essenciais entre as 20h e 6h, para os dias de semana, fins de semana e feriados. A medida, entretanto, deve ser revista no próximo dia 8.

"Isso vem de uma posição equivocada do secretário de Saúde do Estado, que dizia que a transmissão maior vinha de quem se aglomerava à noite em bares e restaurantes. Mas isso desconsidera quem precisa pegar trem e ônibus para trabalhar ou atende nos comércios, por exemplo", aponta Alves.

Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri acredita que as medidas sozinhas não são suficientes para diminuir a taxa de transmissibilidade. "Infelizmente, dependemos muito do comportamento das pessoas. O problema não está no shopping, no comércio ou na academia, porque você pode estar em um serviço essencial que nunca fechou e estar aglomerado, sem máscara e sem distanciamento", avalia. "Tão importante quanto essas medidas é o comportamento das pessoas".

Kfouri acredita ser o momento de "aumentar as restrições" e ainda encara com preocupação o potencial de contágio do vírus em eventos noturnos, especialmente nas festas clandestinas que têm se alastrado pelo País.

"É um absurdo fazer baladas e aglomerações desnecessárias em pandemia. Essa questão de 'sou jovem, assumo o risco e não estou prejudicando ninguém' não é verdade porque impacta toda a comunidade. A força da circulação aumenta e isso atinge indiretamente os idosos, a escola, o comércio e até quem não está na balada. Todos acabam pagando por isso."

Eliseu Alves, professor de epidemiologia da Universidade de São Paulo, também acredita que seja hora de diminuir a circulação de pessoas, mas pontua que a aceitabilidade das restrições entre a população é tão importante quanto elas próprias.

"As medidas me parecem parciais para a gravidade da situação, mas acredito que é o politicamente viável neste momento", explica. "Eu não sei se é viável fazer um lockdown. Isso não foi feito no Brasil e, nas áreas mais vulneráveis e inócuas, as pessoas não têm condições de ficar em casa e manter sequer distanciamento dentro do domicílio."

Um dos principais agravantes para Alves é a disseminação da nova variante do coronavírus, identificada inicialmente no Amazonas. "Alguma coisa precisa ser feita, senão teremos um colapso no sistema de Saúde, e isso torna o processo mais agudo. Pelo que tem ocorrido em outros países, temos que nos cuidar", aponta.

Ele descarta que o Brasil possa entrar em um verdadeiro lockdown, pelo menos não nos moldes dos que foram implementados em países europeus e asiáticos. "Se conseguirmos níveis de isolamento semelhantes ao momento mais favorável da pandemia, em abril e maio, teremos certo impacto", acredita. "O importante é que está sendo feito um acompanhamento cuidadoso e, à medida que a situação não se estabilize, teremos medidas mais drásticas. Não estou otimista e acho que a situação tende a piorar, aqui e no resto do País."

Estadão
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