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O que saber para salvar uma vida: a chave para a sobrevivência a uma parada cardíaca

O treinamento para identificar e usar desfibriladores é essencial nesses casos, mas boa parte da população não sabe o que fazer

6 mai 2025 - 15h17
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Quando uma mulher desmaiou no alto de uma escada rolante no aeroporto de Buffalo em junho do ano passado, Phil Clough sabia o que fazer. Ele e outro transeunte a colocaram de costas e verificaram seu pulso (fraco) e sua respiração (superficial e irregular).

Aí ela parou de respirar completamente. Notando que ela poderia estar sofrendo uma parada cardíaca, Clough começou a fazer compressões torácicas, pressionando forte e rápido o centro do peito, enquanto pessoas ao redor ligavam para a emergência e corriam para buscar um desfibrilador automático externo (DEA).

Segundos depois de receber o choque do desfibrilador, a mulher abriu os olhos. Quando a equipe de resgate do aeroporto chegou, alguns minutos depois, ela estava consciente e conseguia falar com os socorristas.

"Não gosto de me sentir impotente", diz Clough, que havia viajado para Buffalo naquela noite por causa de seu trabalho como engenheiro em Denver. Após um incidente ocorrido alguns anos antes, no qual não ele não soubera como ajudar uma mulher que desmaiara na academia, ele fez um curso universitário para se certificar como socorrista, capaz de fazer intervenções de suporte básico de vida.

A mulher que desmaiou teve sorte: perdeu a consciência em um local público, onde transeuntes sabiam como ajudá-la. A maioria das pessoas não tem tanta sorte. Nos Estados Unidos, a falta de treinamento e preparação para lidar com essa emergência médica relativamente comum contribui para milhares de mortes por ano.

Mais de 350 mil paradas cardíacas ocorrem fora de ambientes hospitalares nos Estados Unidos todos os anos, de acordo com a Associação Americana do Coração. Em nove entre cada dez casos, a pessoa morre porque o socorro não chega rápido o suficiente. Cada minuto que passa sem intervenção reduz as chances de sobrevivência em 10%.

Mas, se a pessoa recebe de imediato a ressuscitação cardiopulmonar e o choque de desfibrilador, caso necessário, suas chances de sobrevivência podem dobrar ou até triplicar.

Menos da metade das pessoas recebe esse atendimento imediato, de acordo com a Associação Americana do Coração. A parada cardíaca ocorre quando o coração para de repente, muitas vezes devido a um mau funcionamento do sistema elétrico cardíaco. Cerca de 70% das paradas cardíacas ocorrem em casa. Mas mesmo que alguém desmaie em um local público e a ambulância seja chamada, a equipe de emergência leva, em média, cerca de oito minutos para chegar. Em áreas rurais, pode levar muito mais tempo.

Um choque necessário

Quando alguém sofre uma parada cardíaca, geralmente precisa do choque elétrico de um desfibrilador automático externo para que o coração volte a bater. Esses dispositivos portáteis analisam o ritmo cardíaco e instruem o usuário a aplicar um choque, se necessário, por meio de terminais colocados no peito da vítima.

Embora muitos estados exijam que desfibriladores estejam disponíveis em locais públicos, como aeroportos, shoppings e escolas, geralmente não é fácil detectá-los. Um estudo com dados de 2019 a 2022 descobriu que, após uma parada cardíaca em local público, pessoas presentes no local usaram o desfibrilador apenas 7% das vezes e realizaram a reanimação cardiopulmonar (RCP) em 42% dos casos.

O recurso mais abrangente para identificar desfibriladores nos Estados Unidos é uma fundação sem fins lucrativos chamada PulsePoint, que registrou 185 mil desfibriladores em 5.400 comunidades americanas, de acordo com Shannon Smith, vice-presidente de comunicações da PulsePoint. Mediante solicitação, a organização ajuda a comunidade a criar seu próprio registro de desfibriladores e conectá-lo gratuitamente ao serviço de emergência da região.

A PulsePoint recentemente lançou um registro nacional de desfibriladores para promover esse esforço.

Por meio de um aplicativo, usuários treinados em RCP podem se voluntariar para serem alertados sobre possíveis paradas cardíacas em um raio de aproximadamente 500 metros quando há chamadas para o serviço de atendimento de emergência de determinada comunidade. O aplicativo também identifica desfibriladores registrados nas proximidades.

"O PulsePoint é o mais próximo que temos de um registro nacional", informa Elijah White, presidente da divisão de tecnologia de cuidados intensivos da Zoll, fabricante de desfibriladores. A empresa forneceu informações de localização de todos os seus aparelhos para a PulsePoint. Mesmo assim, a PulsePoint registrou apenas uma fração dos desfibriladores no país. "É só o começo", afirma White.

Treinamento de transeuntes

Outros fatores também podem impedir que transeuntes intervenham para ajudar. Eles podem não ter treinamento ou confiança para fazer a RCP, ou temer responsabilização se algo der errado.

A responsabilização não deve ser um problema, em geral. Todos os 50 estados e Washington, D.C., têm leis do "bom samaritano" que protegem transeuntes de responsabilidade legal quando intervêm de boa-fé em uma emergência médica.

Mas o treinamento pode ser uma barreira séria. Um estudo constatou que apenas 18% das pessoas relataram ter recebido treinamento em RCP nos dois anos anteriores. Dois terços das pessoas relataram ter recebido treinamento em algum momento na vida.

Uma maneira de impulsionar o treinamento é torná-lo obrigatório, e muitos estados americanos exigem que os alunos recebam treinamento em RCP para se formarem. Outros países priorizam o treinamento de seus habitantes no uso de desfibriladores e RCP há muitos anos, com algum sucesso.

Na Dinamarca, esse treinamento é obrigatório para a obtenção da carteira de motorista desde a década de 2000, e alunos do ensino fundamental também precisam passar por esse treinamento.

A Noruega oferece treinamento em primeiros socorros nas escolas primárias desde 1961 e exige treinamento em RCP para a obtenção da carteira de motorista. Noventa por cento da população relatou ter treinamento em RCP.

Nos EUA, há muitos cursos de treinamento disponíveis, online e presenciais, com duração de apenas algumas horas. Para alguém que nunca aprendeu habilidades básicas de suporte à vida, o treinamento pode ser revelador. Esta repórter, sem treinamento prévio, ficou surpresa ao descobrir a força e a rapidez com que alguém precisa pressionar o peito de um manequim para realizar RCP corretamente: de 100 a 120 compressões por minuto a uma profundidade de pelo menos cinco centímetros.

Saiba o básico, ligue para a emergência

O mais importante é que as pessoas comuns conheçam o básico, para "se sentirem confiantes para ligar para a emergência e pressionar o peito de alguém com força e rapidez", diz Audrey Blewer, professora assistente de medicina na Universidade Duke, que publicou diversos estudos sobre o uso de RCP e de desfibriladores por transeuntes. "Não é preciso certificação nem treinamento recente".

Durante uma emergência, os socorristas também podem ter um papel crucial orientando as pessoas na realização de RCP e na operação do desfibrilador, lembra David Hiltz, diretor do programa de voluntários da HeartSafe Communities na Citizen CPR Foundation, organização sem fins lucrativos que trabalha para melhorar os índices de sobrevivência a paradas cardíacas por meio de treinamento e educação.

Clough manteve contato com Rebecca Sada, a mulher que desmaiou no aeroporto de Buffalo naquele dia de junho, quando voltava para casa de uma viagem para visitar a filha. Rebecca, que não tinha histórico de problemas cardíacos antes da parada cardíaca, agora tem um desfibrilador automático implantado no peito para estabilizar um problema elétrico cardíaco até então não diagnosticado. Ela e o marido convidaram Clough para jantar, e agora eles são amigos para a vida toda, conta ela.

Outra mudança que ocorreu em decorrência da parada cardíaca de Rebbeca: ela e o marido se certificaram em RCP e DEA. "Agora, se precisarmos ajudar alguém, vamos saber o que fazer", nota. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Estadão
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