O que é síndrome nefrótica, condição diagnosticada na filha de Junior Lima e Monica Benini
Doença rara afeta os rins e é facilmente confundida com alergias
O músico Junior Lima e a esposa, Monica Benini, divulgaram nas redes sociais que a filha do casal, Lara, de 3 anos, foi recentemente diagnosticada com síndrome nefrótica, um quadro raro que afeta os rins.
O casal contou que descobriu a condição da filha depois de ela apresentar inchaço nos olhos, o que fez a família desconfiar de um quadro alérgico. "O olho dela inchava. A gente levou em médico, em alergista, pediatra... Ela chegou a tomar remédio para alergia", relatou Monica.
O diagnóstico, no entanto, só veio após um período de investigação médica detalhada. Por isso, segundo Junior, a decisão de falar publicamente sobre o caso teve o objetivo de alertar outras famílias sobre síndromes raras e a importância do diagnóstico precoce.
O que é a síndrome nefrótica?
Em primeiro lugar, vale destacar que, diferença das doenças, uma 'síndrome' diz respeito a um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem juntos e caracterizam um quadro clínico.
No caso da síndrome nefrótica, por exemplo, ela representa uma combinação típica de sintomas que podem ser causados por doenças renais.
A condição costuma ser acompanhada por um trio clássico de sinais: "inchaço no corpo, perda de proteína pela urina e aumento do colesterol", explica o nefrologista pediátrico Donizetti Giamberardino Filho, do Hospital Pequeno Príncipe.
Normalmente, os rins filtram o sangue e retêm as proteínas que são importantes para o corpo. No entanto, quando eles estão danificados ou doentes, podem permitir que proteínas como a albumina passem para o xixi.
"Se perdê-las em grande quantidade, o nível de proteínas no sangue também cai, o que leva à retenção de líquido", destaca Filho. A retenção de líquido, por sua vez, é o que provoca o inchaço (ou edema).
O edema costuma aparecer, inicialmente, na face. Com o tempo, pode progredir para o abdômen e membros inferiores, como as pernas. "A retenção também pode levar ao aumento da pressão arterial", alerta Américo Cuvello Neto, coordenador do Centro Especializado em Nefrologia e Diálise do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Causas
As doenças que levam à síndrome são, principalmente, aquelas que causam alguma alteração na membrana de filtração dos rins. "A característica principal desta alteração é a perda de proteína na urina", explica Cuvello.
Em crianças, a causa mais comum da síndrome nefrótica é a chamada Doença de Alterações Mínimas (DLM). Nessa condição, há lesões nas células dos rins que ajudam a filtrar o sangue, o que leva a essa perda anormal de proteínas.
Apesar desse problema funcional, nesse quadro, os rins não apresentam grandes alterações na sua estrutura - daí o título de "mínimas". A causa da doença, na maioria das vezes, é desconhecida, o que é chamado de "idiopático".
"Não há uma origem determinada para esse distúrbio. Há uma alteração microscópica que faz com que, por alguma razão, haja uma perda de proteínas significativa. É como se o rim fosse uma peneira que passa a ter furos maiores", ilustra Filho.
Especialmente em adultos, segundo Cuvello, a síndrome também pode ser secundária a doenças sistêmicas que afetam os rins, como o diabetes. Ele pode causar lesões renais que levam à perda de proteína e ao inchaço típico da síndrome nefrótica.
Quando desconfiar do quadro? Quais os sinais?
Como dito no início da reportagem, o principal sintoma notável é o inchaço. "A criança começa a inchar os olhos de manhã", descreve Filho.
Fora isso, somente exames laboratoriais podem mostrar se há outras características do quadro, como perda de proteína significativa e aumento do colesterol ou da pressão arterial.
Filho destaca que é muito fácil confundir o quadro com uma alergia, como aconteceu com a filha de Junior. Mas o nefrologista pediátrico dá algumas dicas de como diferenciá-los: "A alergia, em geral, vem com outros sintomas, como espirro, coceira, lesões de pele", indica. Além disso, outra característica importante é observar se há aumento de espuma na urina, um alerta para o excesso de proteína no xixi.
Essa síndrome é perigosa?
O risco associado à síndrome nefrótica na infância é considerado baixo, porque, como mencionado, a evolução costuma ser benigna. "Ainda assim, podem ocorrer complicações como aumento da pressão arterial, inchaço e, mais raramente, perda da função renal", destaca Cuvello.
Em casos mais graves ou de difícil controle, podem ocorrer fenômenos trombóticos nas veias ou artérias dos membros inferiores ou superiores, mas isso é raro.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da síndrome nefrótica é feito com base na história clínica do paciente e em uma série de exames.
São feitos exames de sangue, como dosagem de proteínas, além de ureia e creatinina para avaliar a função renal, bem como a dosagem de colesterol e triglicerídeos. Também é feita a coleta de urina para avaliar a perda de proteína.
Em algumas situações, pode haver perda da função renal, o que é avaliado principalmente pela dosagem da creatinina no sangue. Se os níveis estiverem aumentados, isso pode indicar disfunção renal.
A partir dos resultados, geralmente, o tratamento já é iniciado com os medicamentos indicados. Para as crianças, a biópsia renal é cogitada quando não há resposta ao tratamento convencional.
Esse procedimento coleta um fragmento do rim para análise anátomo-patológica e é considerado o mais preciso. O exame permite identificar qual doença está causando a síndrome e, a partir daí, definir o melhor tratamento.
Como é o tratamento?
O tratamento mais comum é com corticoides. Eventualmente, podem ser usados diuréticos. Quando não há resposta ao corticoide, discute-se o uso de outros medicamentos imunossupressores.
A síndrome tem cura?
A síndrome nefrótica pode ter 'cura', mas isso varia conforme a origem do problema, isto é, se a causa pode ser tratada.
Em crianças pequenas, a evolução costuma ser benigna: os sintomas melhoram com o uso de medicamentos e, com o tempo, a maioria dos pacientes entra em remissão. Segundo Filho, cerca de 80% das crianças evoluem para a cura ao longo de 4 a 5 anos.
Em adultos ou em crianças mais velhas, o quadro pode ser mais complexo. A síndrome nefrótica pode estar associada a outras doenças renais, que têm uma evolução menos favorável, com maior chance de recaídas, necessidade de tratamentos mais intensos e risco de comprometimento da função renal.
Nesses casos, nem sempre se fala em "cura" no sentido definitivo. "É diferente de uma pneumonia, em que você toma antibiótico e está curado", diz Filho. "É um tratamento de suporte, não ousaria dizer que é curativo". Ainda assim, o controle é possível.