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Ministério da Saúde anuncia que vai comprar 46 milhões de doses da vacina chinesa

Imunizante produzido em parceria com o Instituto Butantã será adquirido ao custo de R$ 1,9 bilhão; decisão vem após tensão entre o governador João Doria e o presidente Jair Bolsonaro sobre o tema

20 out 2020 - 16h19
(atualizado em 21/10/2020 às 10h11)
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O Ministério da Saúde vai comprar 46 milhões de doses da vacina coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã. A informação foi confirmada ao Estadão pelo governo do Estado e divulgada mais tarde pela assessoria de imprensa do Ministério da Saúde nesta terça-feira, 20.

A expectativa é que a aquisição ocorra até o fim do ano, após o imunizante obter registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e que a vacinação comece já em janeiro. O ministério informou que investirá R$ 1,9 bilhão na compra. O recurso extra será liberado por medida provisória.

Vacina Coronavac é uma parceria do Instituto Butantã com a chinesa Sinovac e está em fase de testes em humanos no Brasil
Vacina Coronavac é uma parceria do Instituto Butantã com a chinesa Sinovac e está em fase de testes em humanos no Brasil
Foto: Divulgação / Governo do Estado de SP / Estadão

Em reunião virtual com os 27 governadores nesta terça, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou o acordo e ressaltou que a "vacina do Butantã será a vacina brasileira" ao lembrar que o imunizante, mesmo tendo sido desenvolvido na China, será produzido integralmente na fábrica do Butantã, em São Paulo. A decisão encerra especulações que indicavam que poderia haver resistência do governo federal em adquirir a vacina por divergências entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador João Doria (PSDB).

A pasta disse ter assinado um protocolo de intenções com o Butantã para adquirir as 46 milhões de doses, mas ressaltou que, para dar seguimento ao processo de compra, o instituto terá de enviar "todos os documentos comprobatórios dos ensaios clínicos já realizados e daqueles em andamento" referentes à coronavac. Também destacou que o produto terá que comprovar segurança e eficácia e obter aval da Anvisa.

"Já fizemos uma carta em resposta ao ofício do Butantã e essa carta é o compromisso da aquisição dessas vacinas que serão fabricadas até o início de janeiro. Essas vacinas servirão para iniciarmos a vacinação ainda em janeiro", declarou. O ministro destacou o papel do instituto na produção de outros imunizantes disponibilizados no SUS. "O Butantã já é o grande fabricante de vacinas para o Ministério da Saúde. Setenta e cinco por cento das vacinas que compramos para vacinar os brasileiros vêm do Butantã. O parque fabril deles é muito potente. E essa vacina da Sinovac é a mesma tecnologia que o Butantã utiliza para outras vacinas, como a da H1N1 e outras", disse.

Além da coronavac, o Ministério da Saúde já tem acordo com o laboratório AstraZeneca para compra de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela farmacêutica em parceria com a Universidade de Oxford. No Brasil, o imunizante é testado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e deverá ser produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O Brasil tem ainda garantidas outros 40 milhões de doses por integrar a Covax, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que reúne dezenas de países interessados em receber imunizantes contra a doença.

De acordo com o ministério, além destas doses, a Fiocruz deve começar, a partir de abril, a produção própria da vacina da AstraZeneca/Oxford e disponibilizar ao País até 165 milhões de doses durante o segundo semestre de 2021. De acordo com Pazuello, todas as vacinas, inclusive a coronavac, serão distribuídas a todos os Estados por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Importante lembrar que tanto a coronavac quanto a vacina da AstraZeneca/Oxford estão sendo estudadas com a administração de duas doses para cada pessoa. O quantitativo inicial previsto de 146 milhões de doses de ambas, portanto, seria suficiente para vacinar 73 milhões de pessoas, cerca de um terço da população brasileira.

De acordo com o ministério, serão vacinados primeiro os profissionais de saúde e integrantes de grupos de risco, como portadores de doenças crônicas que têm chance aumentada de complicações pela covid. De acordo com a pasta, a Organização Panamericana da Saúde (Opas) afirma que a vacinação de metade da população pode ser suficiente para alcançar a chamada imunidade coletiva (ou de rebanho), o que reduziria "a um nível seguro" a circulação do vírus no território.

O ministério citou esse dado para reafirmar que não recomendará a obrigatoridade de vacinação aos gestores locais, como prefeitos e governadores, "respeitando o direito individual de cada brasileiro". O tema gerou embate entre Bolsonaro e Doria, após o governador dizer que o imunizante seria de uso compulsório em São Paulo e ser criticado pelo presidente, que afirmou que o Ministério da Saúde não seguirá no mesmo caminho.

Status

A coronavac, segundo o Instituto Butantã, demonstrou ser o imunizante em desenvolvimento no mundo com o menor índice de efeitos colaterais. Os dados de segurança, apresentados nesta semana, levaram em consideração o acompanhamento de 9 mil voluntários brasileiros já vacinados no País na fase 3 de testes clínicos, o último antes da aprovação.

Os resultados de eficáca, porém, inicialmente prometidos para outubro, só devem sair no fim do ano, conforme revelou o Estadão em reportagem publicada no domingo. Até agora, o Butantã conseguiu vacinar 9 mil dos 13 mil participantes esperados. Após a conclusão da análise de eficácia, os dados devem ser enviados à Anvisa, que tem até dois meses para conceder ou não o registro.

Em fase similar de pesquisa está a vacina de Oxford/AstraZeneca. No Brasil, 6 mil dos 10 mil voluntários já foram vacinados com ao menos uma dose. Não há previsão de quando os primeiros resultados de eficácia devem ser divulgados.

Para ser aprovada pela Anvisa, qualquer vacina deverá comprovar, por meio de testes clínicos, eficácia de 50% contra a covid. O índice é calculado pela comparação da incidência da doença entre os voluntários da pesquisa que receberam a vacina e o grupo que tomou o placebo.

Estadão
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