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Jovem quis largar faculdade de Direito para virar mergulhadora profissional antes de descobrir transtorno bipolar

Condição afeta cerca de 140 milhões de pessoas no mundo; Anaise Mendes Oliveira demorou até diagnóstico correto

27 out 2025 - 04h59
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Resumo
O Transtorno Bipolar é uma condição que afeta o humor de forma intensa, com oscilações entre euforia e depressão, sendo frequentemente alvo de estigmas e desinformação. O diagnóstico pode ser demorado, mas o tratamento adequado e o apoio familiar são essenciais para uma vida equilibrada.
Foto: Filmstax / Getty Images

Alterações significativas de humor são corriqueiras para todo mundo, certo? Não é bem assim, principalmente se as oscilações entre períodos de depressão, euforia ou outros estados emocionais são bem definidas e duram dias ou até meses.

No entanto, são justamente as peculiaridades que dificultam o diagnóstico. No caso de Anaise Mendes de Oliveira, de 31 anos, foram anos até a confirmxação: ela tem transtorno de bipolaridade. A primeira grande crise foi ainda na infância, quando teve um episódio de depressão aos sete anos. 

Até o início da fase adulta, Anaise vivenciou uma série de sintomas, alguns típicos do transtorno de bipolaridade e outros menos conhecidos, que se intensificaram após o ingresso na faculdade. “O meu caminho foi longo até eu chegar ao diagnóstico de fato. De acordo com o que eu estava sentindo, eu buscava ajuda. Tentava entender o processo”, relembrou em entrevista ao Terra

“Eu tinha compulsões, tinha muita dificuldade de planejamento... Planejamento a médio prazo não existia na minha vida porque eu mudava muito rápido de pulsão. Comecei a fazer terapia no meio da faculdade, porque estava tendo alguns episódios de apagamento. Eu estava assim e, de repente, sumia”, explicou. 

Um dos piores episódios de mania ocorreu nesse período. Em pouco tempo, Anaise, que cursava Direito, decidiu se tornar mergulhadora profissional e investiu uma quantia significativa no objetivo. Tudo isso, acompanhado de um forte desejo de se colocar à prova. 

“Eu precisava experienciar até o limite do que era possível. Fiquei realmente inconsequente mesmo. Entrei em fria, fiz coisas, fui pra lugares sozinha, umas coisas muito doidas. E aí, quando voltei, entrei em depressão. Eu subi, subi, subi e tive uma queda. Fiquei quatro dias sem sair da cama”, relatou. 

Com a ajuda da irmã mais nova, Anaise buscou tratamento: “Sabe aquela música Mulher de Fases, do Raimundos? Eu falava que aquela música representava a minha cabeça. Não pro mundo, não pro lado de fora, mas era a forma com que eu me via e não me sentia pertencente. Eu sabia que tinha alguma coisa estranha. Hoje, eu sei que pode ter outras coisas associadas, mas eu sentia que tinha alguma coisa muito latente.”

Preconceito nasce da falta de conhecimento, aponta especialista

Filipa sofre após uma crise em Dona de Mim
Filipa sofre após uma crise em Dona de Mim
Foto: Reprodução/TV Globo

Apesar de afetar cerca de 140 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados de 2022 levantados pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), e ser frequentemente retratado na dramaturgia --como no caso de Filipa, personagem de Cláudia Abreu na novela Dona de Mim, da TV Globo--, o transtorno bipolar ainda é alvo de estereótipos e é tratada como tabu. Em muitos casos, até ridicularizada. 

Por medo desses estereótipos, Rogério Silva*, de 26 anos, evita falar sobre o diagnóstico que recebeu há quase dois anos. Ele conta que procurou ajuda médica inicialmente suspeitando de depressão e chegou a manter um tratamento por anos, sem melhora significativa.

“Fiz o tratamento com vários antidepressivos antes de alguma melhora e foram as medicações com ação de estabilização do humor que me causaram algum benefício. Foi no ano retrasado que de fato eu fechei o diagnóstico de bipolaridade com a minha psiquiatra, mas eu identifico o meu primeiro episódio de hipomania quando tinha 15 anos.”

Residente em medicina, Rogério afirma que passou por um processo de negação até aceitar o diagnóstico. “Eu senti um alívio [quando recebi o diagnóstico] porque eu já tinha essa suspeita, esse medo de ser bipolar. Era uma coisa que ignorava pra não ter que lidar. [...] Esses episódios que eu tive e que depois se repetiram, esse caráter clínico, de agitação, uma euforia, uma energia e depois o período depressivo, isso foi se repetindo e eu ficava com essa suspeita, mas era difícil pra mim admitir, falar isso em voz alta”, admitiu. 

“Eu tenho bastante certeza de que revelar isso teria consequências negativas profissionalmente, sabe? Eu teria menos oportunidades. Na residência mesmo, é um tipo de coisa que se eu tivesse mencionado na entrevista, eu provavelmente não teria sido aprovado. Eles fazem bastante perguntas pra ver se você consegue trabalhar sob pressão e eu estaria mentindo se eu dissesse que não me afeta”, desabafou.

Segundo a psiquiatra Jéssica Martani, o estigma está diretamente ligado à desinformação. “A população minimiza o transtorno como estar triste e estar feliz e reduz a condição médica a um adjetivo pejorativo a banalização do diagnóstico na cultura popular perpetua o preconceito.”

A especialista também destaca que o estigma alimenta uma série de mitos. “Um mito comum é dizer que quem é bipolar muda de humor o tempo todo, isso não é verdade. Que quem tem bipolaridade não é uma pessoa fácil de lidar, isso é um mito. Com tratamento correto, são pessoas que têm uma performance, relacionamentos interpessoais e nas atividades ocupacionais como a de qualquer outra pessoa”, explica.

“Outro mito é achar que a pessoa tem os sintomas porque quer e consegue parar sozinho. Na verdade, o transtorno afetivo bipolar envolve a área cerebral e circuitos complexos no cérebro, portanto o tratamento medicamentoso e psicoterápico é essencial”, concluiu. 

Tratamento e apoio familiar são essenciais

Há uma variedade de tratamentos para a doença. Geralmente, os médicos e especialistas costumam fazer uma combinação entre medicamentos, essenciais para o bem-estar do paciente, e intervenções como terapias, por exemplo. Manter uma boa rotina de sono, alimentação equilibrada e hábitos saudáveis também faz parte do processo.

“O apoio da família é essencial porque muitas vezes os próprios familiares desencorajam o uso de medicações e no transtorno afetivo bipolar as medicações ajudam muito no quadro. Também é muito importante a família ajudar a perceber os sinais porque muitas vezes o paciente sozinho não consegue reconhecer que está sintomático”, destacou Martani.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cobertura de tratamento para pessoas com transtorno bipolar é baixa. Além dos diagnósticos errados, o estigma e a discriminação, tanto por parte da população quanto nos serviços de saúde, dificultam o acesso à assistência. O problema é mais grave em países de baixa e média renda, aponta a entidade.

“Um dos maiores mitos é achar que não adianta tratar ou que não tem cura. Isso é falso. Com tratamento adequado, o paciente pode levar uma vida equilibrada e produtiva”, reforçou a psiquiatra.

Anaíse pontua que o diagnóstico não é uma sentença. “O diagnóstico é abrir uma porta para você entender qual é o melhor caminho para você trilhar. [...] Se acolha, se permita, não tenha medo de você”, afirmou. 

Classificações do Transtorno Bipolar

De acordo com os manuais internacionais de classificação diagnóstica, o DSM-IV e o CID-10, o transtorno bipolar pode ser classificado em três tipos principais:

  • Transtorno bipolar: Tipo I

“O transtorno bipolar do tipo I tem fases mais marcadas. Nas fases de mania, o paciente apresenta extrema irritabilidade ou euforia, fica dias sem dormir, com pensamentos e fala muito acelerados, muitas vezes exigindo hospitalização. Em seguida, ocorre a fase de depressão”, explica Martani.

  • Transtorno bipolar: Tipo II

“O tipo II é caracterizado por episódios de depressão e hipomania mais leves, sem sintomas psicóticos”, acrescenta.

  • Transtorno ciclotímico

Considerado o quadro mais brando, o transtorno ciclotímico é marcado por oscilações crônicas e leves de humor. “São oscilações crônicas de humor mais leves e persistentes que não preenchem os critérios para mania ou depressão, mas gera instabilidade emocional contínua”, pontua a psiquiatra.

Fonte: Portal Terra
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