Implante cerebral inovador ajuda mulher a tratar TOC e epilepsia
Sistema consegue captar as alterações cerebrais sugestivas de uma crise convulsiva antes que ela se manifeste clinicamente
A americana Amber Pearson recebeu um implante cerebral revolucionário, para tratar tanto o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) quanto a epilepsia. Ela costumava lavar as mãos até sangrar por medo de contaminações.
Em entrevista à AFP, Amber contou que precisou esperar oito meses após o procedimento de 2019 para perceber alguma diferença e que os rituais começaram a diminuir, normalizando sua vida.
O neurocirurgião Ahmed Raslan, que realizou o procedimento, na Universidade de Ciências e Saúde de Oregon, em Portland, destacou que um estudo está sendo feito na Universidade da Pensilvânia sobre como ampliar o uso dessa técnica, que consiste em dispositivo de 32 milímetros capaz de detectar a atividade que gera esses episódios e enviar um pulso que permitisse interferir neles.
Como funciona a técnica?
O médico neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, explica ao Terra que o sistema implantado para tratar tanto os sintomas do TOC quanto as crises convulsivas é chamado de RNS - uma sigla em inglês que significa Sistema de Neuroestimulação Responsivo.
Nessa técnica, um eletrodo é inserido através de um pequeno orifício na calota craniana em uma região do cérebro onde há o foco inicial que gera a crise convulsiva. Esse eletrodo é conectado a um gerador - uma espécie de pequeno computador implantado embaixo da pele, no subcutâneo. Dessa forma, esse sistema consegue captar as alterações cerebrais sugestivas de uma crise convulsiva antes que ela se manifeste clinicamente.
“A paciente em questão possuía tanto sintomas de TOC como crises convulsivas. Por isso, o neurocirurgião optou por colocar o eletrodo próximo a uma região chamada núcleo accumbens, área cerebral associada à motivação, ação e comportamentos compulsivos”, aponta o profissional.
De acordo com o especialista, os potenciais riscos associados a técnica de implante do eletrodo cerebral profundo são:
- Possibilidade do eletrodo ficar mal posicionado e não trazer um resultado satisfatório, ou ainda causar alguns sintomas excitatórios como alterações de movimento ou de sensibilidade, como a sensação de dormência e formigamento.
- Como é um sistema que fica implantado dentro da pessoa, pode acontecer, em algum momento, do gerador soltar algumas das suas conexões, sendo necessário fazer uma cirurgia de revisão.
- É importante ponderar que esse sistema é recarregável, porém, após alguns anos, é necessário que seja feita uma troca do gerador, durante uma nova cirurgia.
- Por ser um corpo estranho, existe a possibilidade de desenvolver algum quadro de infecção associado a essa prótese.
- Em casos agudos, apesar de raros, pode acontecer também a formação de sangramentos ou hematomas próximo ao local de colocação dos eletrodos.
Mendes ainda destaca que hoje, o RNS existe principalmente para controlar as crises convulsivas daquelas pessoas que já utilizam vários tipos de medicamentos e que geralmente não são candidatas a outros tipos de tratamentos cirúrgicos.
O neurocirurgião funcional Bruno Burjaili explica que o TOC se caracteriza por uma ideia ou impressão que parece invadir a mente de quem sofre com ele, e induzir a pessoa a comportamentos com objetivos a atenuar essa ideia ou impressão.
O especialista revela que existem diversos tratamentos que podem ser abordados antes de evoluir para uma solução de estimulação cerebral,como a terapia cognitivo-comportamental, por exemplo.
No caso de estimulação cerebral, os procedimentos podem ser de forma magnética, com ímãs que conseguem agir através dos ossos do crânio e interferir em regiões cerebrais específicas e também pode ser feito com os implantes cerebrais profundos, já bastante conhecidos para doença de Parkinson, tremor essencial e outras condições.
“Existe a possibilidade de cirurgias onde realizamos micro lesões controladas em regiões cerebrais milimétricas, utilizando radiofrequência, radiação e até a técnica de ultrassom focalizado, recentemente aprovada no Brasil, mas ainda sem o equipamento disponível”, diz o profissional.