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Florianópolis vive pior momento da pandemia após aumento de novos casos

Hospitais estão com UTIs lotadas e à beira do colapso; municipalidade não pretende adotar medidas para ampliar isolamento social

17 nov 2020 - 15h25
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FLORIANÓPOLIS - Após dois feriadões com praias lotadas, afrouxamento de medidas de isolamento e de deputado incentivando o não uso de máscara em redes sociais, a capital catarinense enfrenta novo pico de internações e infecções por covid-19. Os principais hospitais da região, públicos e privados, estão à beira do colapso, a maioria com 90% de ocupação das UTIs.

A Grande Florianópolis está em nível de alerta gravíssimo. Em um mês, entre 16 de outubro e 16 de novembro, o número de infectados na região da capital saltou de 45,7 mil para 65 mil casos. Os mortos já somam 558 casos.

De acordo com as portarias emitidas pelo governo do estado, com a matriz de risco gravíssima, os municípios da Grande Florianópolis deveriam adotar medidas de isolamento mais rígidas, como suspender práticas de esportes coletivos amadores, eventos com aglomerações e a permanência de pessoas nas praias. No entanto, as normativas têm sido descumpridas e ocorrem com baixa ou nenhuma fiscalização. Em outubro, a prefeitura da capital chegou a ampliar os horários do transporte coletivo. Bares e restaurantes também funcionam normalmente.

O prefeito reeleito no primeiro turno, Gean Loureiro (DEM), descartou a possibilidade de adotar novas medidas de isolamento. Mas prometeu intensificar a fiscalização das atuais regras impostas. O município também anunciou que vai ampliar o número de testagens.

Nesta segunda-feira, 17, o Hospital Florianópolis, referência para o tratamento da covid em Florianópolis, estava com apenas quatro leitos disponíveis, dos 30 reservados para a doença. Em São José, município vizinho, a taxa de ocupação atingiu 93% e o Hospital Celso Ramos, um dos principais da capital, está com lotação de 95% dos leitos de UTI.

A região da capital vinha registrando uma queda no número de novos casos em agosto e setembro, após o maior pico de casos em julho, quando registrou 16.289 casos num único mês. Em agosto o número de novas infecções caiu para 10.910 e em setembro para 5.657. NO entanto em outubro, a região enfrentou um novo surto da doença e somou no mês 17.848 novos casos, um crescimento de mais de 200%. No Estado, a evolução da doença entre setembro e outubro foi de 39%.

O doutor em epidemiologia, ex-reitor da Federal de Santa Catarina, Lucio Botelho, diz que o estado vive um "apagão" para atuar contra a pandemia. "Nós tivemos um pico de casos em julho, mas logo depois tivemos uma queda de casos e as pessoas e autoridades acharam tudo estava normal, mas não estava, e o que vemos é um novo surto da doença", explica.

O pesquisador critica a postura de autoridades que não tratam a pandemia com seriedade. "Isso acaba refletindo na base das pessoas, que acham que é uma gripe comum e que só os velhos que vão morrer. Foi gerado também, artificialmente, antíteses saúde e economia, isso se sabe que não são coisas antagônicas", emenda.

Para Botelho, o panorama da doença, principalmente na região da Grande Florianópolis, que é destino turístico, será de mais casos de infecção e mortes nos próximos meses.

Praias lotadas e aglomeração antes do novo pico

O crescimento de novos casos em Florianópolis ocorreu após dois feriadões, em 12 de outubro e 2 de novembro, com praias e bares lotados e o registro de diversos eventos clandestinos. Em 31 de outubro, o deputado Jessé Lopes (PSL) usou as redes sociais e incentivou a população a viajar e ir à praia no feriado de Finados. O Deputado escreveu: "Vá viajar, vá no parque ou na praia!! E se puder não use máscara!".

Naquele mesmo fim de semana, uma equipe da NSC, afiliada da Globo em Santa Catarina, foi agredida por turistas quando filmava aglomeração na praia do Campeche, sul Ilha de Santa Catarina. O Ministério Público instaurou procedimento para investigar a conduta do parlamentar por incitação ao crime, ao incentivar seus seguidores nas redes sociais a saírem de casa sem máscaras durante o feriado.

A governadora interina Daniela Reinehr (sem partido) também chegou a anunciar o retorno das aulas nas escolas particulares, mas a Justiça acabou suspendendo a medida. Ao assumir o cargo, após afastamento do governador Carlos Moisés (PSL), Daniela afirmou que é contra o isolamento total e que seu posicionamento é "de prevenção e cuidado, sem prejudicar o setor econômico".

Além da região da capital, o oeste catarinense também está com hospitais lotados. Em Xanxerê e Maravilha, a ocupação das UTIs atingiu 100%. Em Chapecó, maior cidade da região, a taxa de internação é de 77%.

Santa Catarina registrou 297.400 casos confirmados de infecção, sendo que 276.620 se recuperaram e 17.450 ativos. Desde o início da pandemia, o estado registrou 3.330 óbitos.

Estadão
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