PUBLICIDADE

Culto promete imunização contra coronavírus e é investigado

Atuação de igreja está sendo acompanhada pela polícia e pelo Ministério Público; Prática pode caracterizar charlatanismo

2 mar 2020 - 23h58
(atualizado em 3/3/2020 às 07h33)
Compartilhar
Exibir comentários

PORTO ALEGRE - Foi aberto nesta segunda-feira, 2, inquérito policial para investigar um culto da igreja Catedral Global do Espírito Santo, em Porto Alegre, que prometia aos fiéis a imunização contra o coronavírus. A 4.ª Delegacia de Polícia da capital vai investigar um possível charlatanismo, que consiste na "exploração da credulidade pública, anunciando a cura por meio secreto ou infalível".

Culto prometia a cura de diversas doenças
Culto prometia a cura de diversas doenças
Foto: Reprodução / Estadão Conteúdo

De acordo com a delegada responsável pelo caso, Laura Rodrigues Lopes, a polícia recebeu, por meio de denúncia, as informações de que um culto que seria realizado na igreja no último domingo, 1.º de março, prometia a cura de diversas doenças. Por meio das redes sociais, a população começou a compartilhar cartazes do panfleto que anunciava "O poder de Deus contra o coronavírus". "Venha porque haverá unção com óleo consagrado no jejum para imunizar contra qualquer epidemia, vírus ou doença."

Os policiais foram até o local, na Avenida das Indústrias, na zona norte de Porto Alegre, mas não constataram durante o culto nenhuma irregularidade que pudesse comprovar charlatanismo.

Segundo Laura, foram ouvidos alguns fiéis que também não comprovaram que alguma irregularidade pudesse estar sendo cometida na igreja. "Nós tentamos nos aproximar de uma forma sigilosa, mas, quando iniciamos os questionamentos, percebemos que algumas pessoas conheciam quem estava na operação; acabamos, então, ficando no local acompanhando o culto e não constatamos nenhuma irregularidade".

O inquérito tem prazo de 30 dias para ser encerrado. A partir desta terça-feira, testemunhas devem ser convocadas para prestar depoimento.

Nesta segunda-feira, o pastor Silvio Ribeiro divulgou em suas redes sociais um versículo da Bíblia como forma de justificativa sobre a promessa de cura. "Tiago 5:14. Se algum de vocês doente, que chame os presbíteros da igreja, para que façam oração e ponham azeite na cabeça dessa pessoa em nome do Senhor.15. Essa oração, feita com fé, salvará a pessoa doente. O Senhor lhe dará saúde e perdoará os pecados que tiver cometido".

Além disso, o pastor utilizou o Instagram para divulgar uma imagem com um texto que fala sobre as ações que já foram realizadas pela igreja e que não foram divulgadas pela mídia, mas que a imagem do banner viralizou e "pessoas estariam fazendo maldade sobre o caso".

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

....E NÃO VAMOS PARAR! : Mateus 10:7. Vão e anunciem isto: "O Reino do Céu está perto."8. Curem os leprosos e outros doentes, ressuscitem os mortos e expulsem os demônios. Vocês receberam sem pagar; portanto, deem sem cobrar. : #Repost @apa.leticiagomes with @make_repost ··· Nos dias que cadeirantes sai andando pós culto, não tem reportagem. Nos dias que as equipes vão nos hospitais, orfanatos, azilos, não tem reportagem. No dia que foi distribuído 50 cestas básicas, não teve reportagem! No dia que foi distribuído 40 kit material escolar com mochilas, não teve reportagem! Toda Quarta e Quinta e Domingo, tem famílias que sai restituídas, drogados que não estão mais na sociedade fazendo o mal pq foram libertos, não teve reportagem! No dia que nosso Pai espiritual Apóstolo ficou 40 dias sem comer nada acampado no Altar, e teve Curas, milagres e libertação, não teve repostagem. No dia que o nosso Profeta Rodrigo ficou acampado no altar também não teve reportagem. Toda semana tem uma equipe dando alimentos aos moradores de rua e não teve reportagem. E também nem queremos, só queremos que doentes sejam curados, paralíticos andem, surdos escutem, mudos falem,cadeirantes andem, e oprimidos sejam libertos. Agora um banner viralizou, e muitos estão fazendo a maldade, coração de pessoas que estão doentes , enquanto fica digitando críticas, tira esse minuto que fica digitando e vai orar ou vai fazer alguma coisa para mudar sua Cidade. Fora tantas outras coisas que nem cabem, aqui, só cabe em um livro. JESUS ESTÁ VOLTANDO! Não sei quanto a você mais nos estamos fazendo. E NÃO VAMOS PARAR! avivamento_para_as_nações_taquara #Aprodrigogomes #apaleticiagomes #apsr #apamr

Uma publicação compartilhada por Silvio Ribeiro (@apsilvioribeiro) em

Caso no Ministério Público

Nesta segunda-feira, 2, o Ministério Público do Rio Grande do Sul recebeu dez denúncias sobre as promessas da igreja Catedral Global do Espírito Santo. A coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa dos Direitos Humanos, Angela Salton Rotunno, falou por meio de um vídeo publicado no Facebook do órgão que, a partir do momento em que o MP tomou conhecimento sobre as supostas promessas de cura, todas as medidas cabíveis foram tomadas. "Na área criminal, a conduta pode ser enquadrada como charlatanismo, como curandeirismo e, se houve algum tipo de pagamento, pode ser considerado estelionato".

Já no âmbito administrativo, a coordenadora afirma que a federação que responde em relação à esta igreja que está afiliada foi notificada do fato e explicações foram solicitadas. Na área cívil, Angela menciona que qualquer pessoa que tenha tido danos, físico ou moral perante o fato, pode ser ressarcida.

A coordenadora concluiu pedindo para que os cidadãos que se sentem desamparados e desesperados em momentos de dor e doença não acreditem em promessas de proteção ou cura fáceis e rápidas. "Diante da doença e da possibilidade de morte, é comum o ser humano se sentir desesperado e desamparado. Essa fragilidade emocional afasta a racionalidade e traz, como consequência, a facilidade em acreditar em qualquer promessa de proteção ou cura. É o que está acontecendo no momento. Pessoas inescrupulosas tentam obter vantagem desse desalento", indicou.

O pastor Sílvio Ribeiro foi procurado pela reportagem, mas afirmou que só irá se pronunciar em uma coletiva de imprensa marcada para esta terça-feira, às 16h.

Veja também:

Coronavírus: o que é uma pandemia e por que o atual surto ainda não é uma:
Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade