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Como vulcão pode ter provocado pandemia que dizimou metade da população da Europa no século 14

Uma erupção vulcânica pode ter desencadeado uma reação em cadeia que levou à pandemia mais letal da Europa

5 dez 2025 - 14h36
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A Peste Negra transformou profundamente a sociedade medieval
A Peste Negra transformou profundamente a sociedade medieval
Foto: Getty / BBC News Brasil

Uma erupção vulcânica por volta do ano de 1345 pode ter iniciado uma reação em cadeia que culminou na pandemia mais letal da Europa, a Peste Negra, afirmam cientistas.

Indícios preservados em anéis de árvores sugerem que a erupção provocou um choque climático, desencadeando uma sequência de eventos que trouxe a doença à Europa medieval.

Nesse cenário, cinzas e gases liberados pelo vulcão causaram quedas extremas de temperatura e safras ruins.

Para evitar a fome, cidades-Estados italianas populosas precisaram importar grãos de regiões próximas ao mar Negro, trazendo inadvertidamente pulgas transmissoras da bactéria Yersinia pestis, responsável pela doença.

Mapa intitulado “Como a Peste Negra se espalhou pela Europa”, mostrando a transmissão da doença pela rede de comércio de grãos. O mapa cobre a Europa, o Mediterrâneo e o Mar Negro. Portos principais são indicados: pontos vermelhos para portos de exportação (Tana, Alexandria), pontos azuis para portos de importação (Oslo, Messina) e pontos laranjas para centros comerciais (Veneza, Gênova, Pisa, Creta). Setas pretas tracejadas indicam a direção da propagação da peste: de Tana, no Mar Negro, a sudoeste até Constantinopla e Creta, depois a oeste até Messina, na Sicília, ao norte até Pisa e Gênova, e mais adiante até Veneza. Da Itália, as rotas seguem noroeste até a França e depois norte até Oslo. Outra rota sai de Alexandria, no Egito, até Creta e depois para a rede de comércio do Mediterrâneo. Um pequeno mapa em destaque mostra a região dentro da Europa. Fonte: Universidade de Cambridge.
Mapa intitulado “Como a Peste Negra se espalhou pela Europa”, mostrando a transmissão da doença pela rede de comércio de grãos. O mapa cobre a Europa, o Mediterrâneo e o Mar Negro. Portos principais são indicados: pontos vermelhos para portos de exportação (Tana, Alexandria), pontos azuis para portos de importação (Oslo, Messina) e pontos laranjas para centros comerciais (Veneza, Gênova, Pisa, Creta). Setas pretas tracejadas indicam a direção da propagação da peste: de Tana, no Mar Negro, a sudoeste até Constantinopla e Creta, depois a oeste até Messina, na Sicília, ao norte até Pisa e Gênova, e mais adiante até Veneza. Da Itália, as rotas seguem noroeste até a França e depois norte até Oslo. Outra rota sai de Alexandria, no Egito, até Creta e depois para a rede de comércio do Mediterrâneo. Um pequeno mapa em destaque mostra a região dentro da Europa. Fonte: Universidade de Cambridge.
Foto: BBC News Brasil

Essa "tempestade perfeita" de choque climático, fome e comércio lembra como doenças podem surgir e se espalhar em um mundo globalizado e mais quente, segundo especialistas.

"Embora a coincidência de fatores que contribuiu para que a Peste Negra pareça rara, a probabilidade de surgirem doenças zoonóticas em função das mudanças climáticas e de se transformarem em pandemias tende a aumentar em um mundo globalizado", disse Ulf Büntgen, da Universidade de Cambridge (Reino Unido).

"Isso é especialmente relevante diante da nossa experiência recente com a covid-19", acrescentou Büntgen.

Anéis de árvores nos Pirineus espanhóis indicam verões excepcionalmente frios em 1345, 1346 e 1347
Anéis de árvores nos Pirineus espanhóis indicam verões excepcionalmente frios em 1345, 1346 e 1347
Foto: Credit: Ulf Büntgen / BBC News Brasil

A Peste Negra (ou peste bubônica) varreu a Europa entre 1348 e 1349, matando até metade da população do continente. A doença era espalhada por roedores selvagens, como ratos, e pulgas.

Acredita-se que o surto tenha se iniciado na Ásia Central e se espalhado pelo mundo via comércio.

No entanto, a sequência exata de eventos que trouxe a doença à Europa — causando milhões de mortes — tem sido objeto de estudo detalhado por historiadores.

Agora, pesquisadores da Universidade de Cambridge e do Instituto Leibniz de História e Cultura da Europa Oriental, em Leipzig (Alemanha), preencheram uma lacuna nesse quebra-cabeça.

Eles analisaram anéis de árvores e núcleos de gelo para examinar as condições climáticas na época da Peste Negra.

As evidências indicam que a atividade vulcânica em torno de 1345 provocou quedas acentuadas de temperatura por anos consecutivos, devido à liberação de cinzas e gases que bloquearam parte da luz solar.

Isso, por sua vez, causou perdas generalizadas nas colheitas do Mediterrâneo. Para evitar a fome, cidades-estados italianas passaram a comercializar grãos com produtores ao redor do mar Negro, permitindo inadvertidamente que a bactéria se estabelecesse na Europa.

Pulgas transmitiram a peste de ratos infectados para humanos
Pulgas transmitiram a peste de ratos infectados para humanos
Foto: Getty / BBC News Brasil

Martin Bauch, historiador de clima medieval e epidemiologia do Instituto Leibniz de História e Cultura da Europa Oriental, afirmou que os eventos climáticos se encontraram com um "sistema complexo de segurança alimentar", configurando uma "tempestade perfeita".

"Por mais de um século, essas poderosas cidades-estados italianas mantinham rotas comerciais de longa distância pelo Mediterrâneo e pelo mar Negro, criando um sistema eficiente para evitar a fome", disse ele. "Mas, no fim, isso acabou levando acidentalmente a uma catástrofe muito maior."

Os achados foram publicados na revista Communications Earth & Environment.

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