Dança indiana promete virar mania
Os gestos são precisos e repletos de significados, o olhar é marcante, as roupas são coloridas e as jóias ganham simbolismos. A dança indiana promete dar um toque diferenciado à mistura brasileira com suas apresentações na novela global Caminho das Índias, de Glória Perez, que estreou na última segunda-feira, dia 19.
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Se despertar a atenção do público como a outra trama da autora, O Clone(2001/2002), os estilos de dança do país devem atrair adeptos, assim como aconteceu com a dança do ventre, que virou mania após Giovanna Antonelli entrar no seu ritmo ao viver a protagonista Jade.
Juliana Paes, na pele de Maya, esbanja alegria ao se soltar com o folclórico bhangra, escolhido pela coreógrafa Sandra Ferreira como o estilo principal do folhetim. Para fazer bonito na telinha, o elenco ensaiou as coreografias por mais de três meses.
O bhangra vem da região do Punjab e nasceu dos festejos que os agricultores faziam para saudar a chegada da primavera e o tempo das colheitas. "Essa expressão regional é mais livre e solta. A dança folclórica era dançada originalmente por homens, com muitos movimentos de ombro. Essa coisa de mexer o quadril é mais recente e de influência dos filmes de Bollywood (indústria cinematográfica da Índia)", explica a bailarina e professora de dança clássica indiana Silvana Duarte.
A também professora Andrea Prior complementa dizendo que os estilos clássicos são mais formatados. "Há todo um aprofundamento no estudo das posturas e ritmos. A dança é mais elaborada e requer anos de estudo", complementa.
A dança clássica indiana é uma das mais antigas e há registros milenares sobre ela. Reúne música, teatro, escultura e poesia em suas apresentações.
Diz o mito que os princípios técnicos e estéticos da arte estão no Natya Shastra, escritura que teria sido composta pelo deus Brahma. Esse tratado conta com as posturas, os olhares, os gestos das mãos - chamados de mudras -, a forma de andar em cena, os movimentos do corpo e da cabeça, e as posições dos pés.
Como já deu para perceber, a dança caminha lado a lado com o hinduísmo, religião mais difundida na Índia. "O ritmo retrata narrativas e 99% delas são de épicos da literatura hindu, que apresentam muitos mitos", explica Silvana.
Estilos clássicos
Entre os clássicos estão o bharathanatyam, o kuchipudi, o mohiniyattam, o kathakali, o odissi, o manipuri e o kathak. As diferenças são pontuadas na técnica, no local de origem, no figurino e na música.
A bailarina Silvana se encantou pela fluidez dos movimentos do odissi, do estado de Orissa, quando viajou pela primeira vez à Índia, em 1993. Deixou de lado o grupo profissional de balé e passou a se dedicar à esta dança. Desde então, visita o país todos os anos para aperfeiçoar seu trabalho e dá aulas há 10 anos.
Já Andrea voltou seus olhos para essa arte no Brasil, em 1986, quando assistiu a um espetáculo. Mergulhou definitivamente na dança ao começar a praticar o odissi (em 1993) e o kathak (em 1997).
Para se aprofundar no assunto, foi à Índia seis vezes e dá aulas há mais de 10 anos. "Acho os dois (estilos) extremamente complementares na técnica. Cada um aborda um aspecto diferente do ritmo, da postura, da dinâmica de deslocamento. Ambos têm o vigor e a suavidade e os dois têm em comum um profundo lirismo, o que me encantou desde o inicio", explica.
Aos 22 anos, Estelamare Paulo dos Santos estudava dança contemporânea e tai chi chuan, mas buscava algo para enriquecer seu trabalho artístico e, ao mesmo tempo, complementar sua busca espiritual.
Ela Teve certeza de que devia ir à Índia para aprender dança clássica quando leu um artigo sobre o assunto. Ela pretendia ficar seis meses no país, mas prolongou sua estadia por sete anos. Hoje, também é professora.
"Eu pratico o bharatanatyam, que existe há 3000 anos e é do Sul da Índia. Traz formas geométricas iguais aos desenhos dos planetas no céu. O corpo do dançarinho deve reproduzir, por meio das formas geométricas, os deuses e as deusas ao som dos tambores e da melodia que contam histórias", diz a dançarina e coreógrafa Estelamare.
Cores da Índia
Não há dúvida de que a maquiagem incrementa as mais variadas apresentações de danças. Mas, na Índia, ganha importância ainda maior. "Ela deve ser feita com paciência e respeito, pois no momento em que o dançarino está se maquiando, entra em contato com as divindades. É um momento especial e de muita concentração", afirma Estelamare.
Os olhos são delineados com cajal e os dedos das mãos e dos pés pintados de vermelho, para destacar os gestos. As jóias complementam o visual e são repletas de simbolismo.
As roupas também chamam atenção por suas cores e peças diferenciadas. Elas são montadas a partir do sári, pano de seis metros de comprimento que é enrolado no corpo. Cada estilo conta com um design diferente. A professora Silvana explica que, para dançar o odissi, veste um figurino cheio de pontas, que representam as torres dos templos da capital do estado de Orissa.
Vale lembrar que sapatos não fazem parte do look dos bailarinos. Isso porque eles têm de manter contato com a "terra". Outra explicação é que a dança tem origem templária e, na Índia, não se entra calçado em templos, casas e lugares sagrados.
Aulas
Geralmente, quem pratica dança indiana tem alguma ligação com a cultura do país, como professores de ioga. Esse é o caso da jornalista Carla Sanches Vieira, de 34 anos, que estuda a religião de lá.
Começou a praticar o odissi em 2007. Hoje, faz duas aulas por semana e não deixa de treinar em casa nos momentos livres. "O que mais me cativou é ser uma dança clássica, que carrega tradição e história de como preservar uma cultura. A dança é um teatro que conta histórias de divindades", diz.
Ela garante que afastar a rigidez do corpo é o mais difícil. "Tem de combinar os movimentos, e a gente fica tensa e acaba parecendo um robô. Então, a professora lembra que estamos dançando e a gente relaxa".
Pessoas de qualquer idade podem fazer aulas de dança indiana. Vale lembrar que, para se formar, são necessários mais de cinco anos de estudo e dedicação. As mensalidades costumam sair de R$110 a R$220.