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Coleira antilatido é acessório polêmico de adestramento; conheça

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São 37 milhões de cães de estimação em todo o País, segundo dados da Abinpet - Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação. A população de caninos, que cresce cerca de 4% ao ano, precisa se adaptar ao estilo de vida atual, que inclui passear em pavimentos asfaltados e morar em apartamentos. Nesse cenário, o latido dos rabudos pode ser uma preocupação e motivo de brigas com vizinhos. O som pode ser contido hoje com um acessório que tem gerado polêmica: coleiras antilatido.

Coleiras antilatidos surgem como opção para fazer o cachorro parar de latir, mas seu uso é controverso
Coleiras antilatidos surgem como opção para fazer o cachorro parar de latir, mas seu uso é controverso
Foto: Getty Images
 
Ela é acionada pela vibração das cordas vocais do cachorro e emite um som, alto para as características auditivas dos animais. Segundo fabricantes, o produto emite uma correção sonora inofensiva, mas em uma intensidade que o incomoda. Como esta correção é instantânea, ele irá diminuindo cada vez mais a quantidade de latidos. “É um método eficaz e inofensivo, pois não fere nem causa danos à audição do animal", diz a empresa Amicus, representante no Brasil da Patsafe, fabricante de produtos eletrônicos para animais.
 
As coleiras antilatido hoje podem ser compradas em grandes revendedores, sem a necessidade de aprovação de um médico veterinário ou adestrador.
 
Controverso
Mas o tema ainda é controverso. A Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, por exemplo, sequer tem uma posição definida sobre o uso das coleiras. "Ainda estamos estudando e avaliando os modelos", afirmou o presidente Josélio de Andrade Moura.
 
No entanto, fabricantes e entidades são contrárias ao uso das coleiras que inibem o latido por meio de choques, pois causam dor aos animais. "Choque é proibido e não deve ser usado", afirma Hannelore Fuchs, psicóloga animal, veterinária, especialista na relação ser humano-animais.
 
Outra prática que é proibida por lei é a remoção das cordas vocais de cães, operação feita em outros países, como a Inglaterra. Especialistas também condenam qualquer outro método arriscado, como ministrar calmantes sem necessidade.
 
Segundo a Petsafe, o sinal sonoro é entendido pelo cão como um “não”. Assim, em média após 10 dias de utilização o cachorro já associa a razão da correção sonora a seu latido, condicionando-se a não latir enquanto estiver com a coleira. "Ou seja, a coleira adestra o cão a não latir apenas nos momentos indesejados, sendo que em uma comparação com os humanos ela não deixaria um tagarela mudo e sim o ensinaria a falar nas horas certas", diz o material de divulgação da empresa.
 
Especialistas não concordam que o acessório ajudaria a adestrar o cão. "O animal aprende a não latir quando está com a coleira. Ou seja, não aprende nada", diz Hannelore. A veterinária e psicóloga afirma que o cão sabe quando está fazendo uso da coleira e quando não está e que deveria aprender a parar de latir sob o comando da voz humana. "No fim, os donos acabam mantendo o animal na coleira o dia todo, o que vicia. E ela não deveria ser usada sem supervisão", completa.
 
O veterinário Gustavo Mil Bocchi diz que prefere buscar outros tipos de solução em vez do uso da coleira. "Há outras técnicas comportamentais e até fitoterápicos que podem tratar de quadros como solidão do animal", explica. Ele diz que mesmo que o acessório não cause dor aos bichos, reprime um comportamento importante. "Não sabemos o que isso causa a longo prazo", conclui, dizendo que ainda faltam estudos sobre o assunto.
 
Apesar de não ser a favor das coleiras antilatido, Gustavo aprovaria o uso apenas como alternativa a práticas mais agressivas, como a cirurgia para remoção das cordas vocais, o que é proibido no Brasil.
 
Comportamento animal
Hannelore afirma que o latido excessivo significa que o cão tem problemas comportamentais. "Cachorros precisam praticar atividade física, receber carinho do dono e ter vida social, nem que se seja apenas com adultos", diz. E isso tudo deve ser feito de maneira organizada, parecendo uma rotina para os bichos. "Se algo falta ou se essas ações são imprevisíveis, ou ainda se há mudanças no convívio, seja com pessoas ou animais diferentes, eles podem ficar estressados."
 
A duração do latido aponta se é normal (como o som emitido por alegria ou para chamar o dono para um passeio, por exemplo), ou se está demonstrando um quadro de estresse.
 
Em muitos casos, o latido pode ser autoestimulante, já que o animal encontra-se sozinho. "Ele quer que a porta se abra e que o dono volte. O problema é que se ele latiu durante quatro horas e o dono chega, ele vai achar que a porta da casa se abre quando ele emite sons", explica a piscóloga animal. Daí a necessidade de contar com um adestrador para mudar o padrão de comportamento do animal. A especialista sugere que cães que latem muito quando ficam sozinhos sejam deixados em hotéis ou empresas que funcionam como 'creche para cães'.
 
Hannelore diz que ainda não existem estudos que comprovem a eficiência das coleiras nem se trariam algum prejuízo à saúde dos bichos a longo prazo.
 

Fonte: Ponto a Ponto Ideias Ponto a Ponto Ideias
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