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Líderes mais flexíveis ganham espaço no mercado

25 ago 2009 - 10h30
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Rosana Ferreira

Hoje em dia o trabalhador procura qualidade de vida para equilibrar trabalho e lazer
Hoje em dia o trabalhador procura qualidade de vida para equilibrar trabalho e lazer
Foto: Getty Images

Se há alguns anos o que importava era ter emprego e ganhar dinheiro, hoje esse conceito está indo por água abaixo. A nova geração que ingressa no mercado de trabalho já não aceita jornadas diárias de 15 horas como os seus pais, que mal tinham tempo de acompanhar a educação dos filhos. A tendência que o mercado de trabalho está captando é o interesse do jovem trabalhador em equilibrar seu tempo entre trabalho, saúde, família, amigos e lazer para ganhar qualidade de vida. Acompanhando esse novo perfil, muitas empresas começam a valorizar líderes mais flexíveis, criativos e que prestam mais atenção nas pessoas.

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Essa onda vai contra um recente estudo americano chamado Which CEO Characteristics and Abilities Matter? (Quais características e habilidades importam para um CEO?, em tradução livre), baseado nas personalidades e perfis de mais de 300 CEOs e no desempenho de suas respectivas empresas, que mostrou que um presidente de sucesso é aquele com capacidade de trabalho repetitivo, detalhista e observador.

Ivan Witt, headhunter e sócio da Steer Recursos Humanos, consultoria de recrutamento e seleção para cargos de alta qualificação e de programas de aconselhamento profissional, de São Paulo, justifica esse resultado e confirma o perfil apontado pela pesquisa da maioria dos profissionais selecionados para cargos de diretoria, porém frisa que não são estes CEOs que têm novas ideias, criam produtos excepcionais e ditam o futuro." Muitas vezes, as empresas só se tornaram grandes e têm essa estrutura hoje porque tiveram na figura do fundador alguém visionário com capacidade para enxergar o que provavelmente o CEO citado na pesquisa não enxergaria. Bons exemplos são empresas como Google, Apple e Microsoft, cujos fundadores tiveram ideias inéditas no mercado. Mas provavelmente contrataram um CEO para executá-las", disse Witt.

No momento, portanto, existe espaço para os dois perfis, embora a tendência do mercado no futuro próximo, segundo o headhunter, é ter um aumento significativo nos perfis de empreendedores em detrimento dos executores. Assim, estão em baixa os presidentes de empresas reservados, disciplinados e de baixo apelo aos funcionários, que levam vidas estafantes, imersos nas metas e nos resultados, esquecendo-se das outras dimensões de suas vidas, sem se dedicar a nada além do trabalho. "Por isso, seus filhos e até sua própria equipe não querem seguir esse modelo."

Intangível

Esse perfil burocrático explica o resultado de uma pesquisa realizada pela consultoria Entheusiasmos, de São Paulo, ao longo de três anos, que revelou que mais de 50% dos líderes de empresas, entre eles presidentes, diretores e gerentes, não têm condições ou preparo para levar suas organizações a um bom desempenho ou até mesmo a sobreviver num futuro próximo.

Segundo Eduardo Carmello, diretor da consultoria, esse dado revela que muitas empresas não têm lideranças aptas a entender que 80% do valor que uma companhia gera hoje vêm de ativos intangíveis, como relacionamentos, marca, conhecimento, reputação e capital intelectual, relacionados diretamente aos empregados.

Carmello conta que ao longo de 15 anos de estudos e práticas nas empresas foram feitas algumas perguntas aos líderes e executivos. Uma delas é se eles se consideravam pessoas eficazes e com conhecimento, sendo que 80% deles disseram que sim, pois fizeram MBAs, frequentam cursos de atualização e leem revistas e jornais. No entanto, quando verificávamos se estes conhecimentos estavam sendo aplicados, esse índice caía para 39%. E quando se avaliava se estes conhecimentos aplicados estavam gerando resultados, o indicador chegava a apenas 19%. "Ou seja, apenas dizer que sabe não significa fazer e, para uma empresa, o fazer é o decisivo, é o que gera resultados", disse.

Perfil em evolução

Com a melhora da situação econômica do país, houve uma elevação nas condições de consumo. As novas gerações ascendem e passam a ter benefícios antes inimagináveis. Até os menos abastados possuem celular e acesso à internet em lan houses ou cyber cafés, que os colocam em contato com a rede de informações, não necessariamente de educação. E assim conseguem ambicionar algo melhor para suas vidas. No entanto, sua ambição é ter mais que os pais, porém não se empenhar tanto quanto eles. "Não querem trabalhar 15 horas por dia", disse o headhunter.

Nas classes A e B, nas quais os jovens são filhos de executivos e profissionais liberais, a situação é mais complexa, pois eles têm um padrão monetário muito bom, mas acham que a educação que deixou a desejar, já que o pai e mãe estiveram muito ausentes para trabalhar. "E, portanto, não querem reproduzir isso na vida deles", disse Witt, baseado em seus atendimentos na consultoria.

As empresas, portanto, estão num momento de impasse: focar somente no trabalho ou abrir espaço para as pessoas desenvolverem outros setores da vida? As organizações precisam produzir resultados para seus acionistas com menos custo possível. Mas quem gera os resultados são as pessoas. "O CEO tem de cobrar resultados e ter disciplina, sim, mas é importante estar com o olho no futuro sabendo que a geração que vem aí não vai se dispor a fazer o mesmo que a geração que está trabalhando para ele. O mundo está evoluindo e quer mais qualidade de vida e plenitude."

Para isso, Witt acredita que é preciso equilibrar as cinco dimensões da vida: cognitiva (trabalho, aprendizagem, comunicação), física (saúde e bem-estar), emocional (como se relaciona com as pessoas que ama), social (como se relaciona com a rede de amigos fora do espectro de trabalho) e espiritual (busca da espiritualidade). "É muito comum perguntar para um indivíduo o que ele quer, e a resposta é a mesma: ser feliz. Mas, na verdade, ele quer dizer plenitude, porque não conseguimos ser felizes o tempo todo. E a plenitude significa ser um cidadão íntegro", disse o headhunter.

Uma forma de atingir a plenitude seria as organizações valorizarem todas as dimensões. "É óbvio que as empresas não vão resolver seus problemas emocionais ou tomar conta de você fisicamente, mas podem proporcionar informações e tempo para que se exercer cidadania como um todo. Com isso, o indivíduo terá energia para desempenhar com competência o seu trabalho."

Se, por outro lado, o indivíduo é forçado somente em uma dimensão, como o trabalho, fica exaurido e não produz tanto quanto poderia. "Não significa que ele vá se empenhar menos no trabalho, mas desempenhar suas funções de maneira mais equilibrada, usando a tecnologia ao seu dispor. É possível fazer mais em menos tempo e usar o tempo que sobra para outras dimensões da vida."

Fonte: Especial para Terra
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