Do campo para o laboratório: as cinco plantas com potencial para apoiar a fertilidade feminina
O que antes era transmitido de geração em geração como saber popular, hoje começa a ganhar respaldo científico
A fertilidade feminina é um tema que atravessa gerações, culturas e distâncias. Desde a Antiguidade, mulheres recorrem a rituais, ervas e raízes na esperança de engravidar. O que antes era transmitido de geração em geração como saber popular, hoje começa a ganhar respaldo científico. Pesquisas recentes vêm comprovando o potencial de algumas plantas medicinais no equilíbrio hormonal e na saúde reprodutiva.
Estima-se que entre 10 a 15% dos casais em idade fértil enfrentam dificuldades para engravidar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E diante desse cenário, cresce o interesse por soluções naturais que complementem os tratamentos convencionais, motivo pelo qual tantos casais a mim recorrem.
Aqui, apresento cinco plantas com potencial terapêutico, todas já estudadas em laboratório, que hoje saíram do campo das promessas populares para ganhar espaço na ciência. E antes de tudo: não utilize nenhuma delas por conta própria ou na forma de chás sem controle de dosagem. O ideal é buscar orientação profissional e adquirir esses fitoterápicos em farmácias de manipulação, com garantia de qualidade, pureza e concentração dos princípios ativos.
5 plantas com potencial terapêutico para fertilidade feminina
Vitex agnus-castus - O equilíbrio do ciclo feminino
O Vitex agnus-castus, popularmente conhecido como agnocasto ou chasteberry, é uma planta originária da região do Mediterrâneo, tradicionalmente usada para tratar distúrbios hormonais femininos. Seus princípios ativos principais são os iridoides, como a agnuside e a aucubina, além de flavonoides e diterpenos com ação dopaminérgica. O Vitex age diretamente sobre o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, promovendo a regulação dos níveis de prolactina, o que favorece a ovulação e melhora a regularidade menstrual, principalmente em mulheres com hiperprolactinemia leve ou Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). No entanto, seu uso não é indicado durante a gravidez, lactação ou em mulheres com histórico de câncer hormônio-dependente, como o de mama ou ovário. Também deve ser evitado por aquelas que fazem uso de anticoncepcionais hormonais, pois pode interferir em sua eficácia. Além disso, por sua ação sobre receptores dopaminérgicos, pode interagir com medicamentos que atuam sobre a dopamina.
Tribulus terrestris - Estímulo hormonal e libido
Originário da Ásia, África e sul da Europa, o Tribulus terrestris é uma planta bastante conhecida por seus efeitos sobre a libido, mas sua influência na fertilidade feminina também chama a atenção da ciência. Seus compostos mais relevantes são as saponinas esteroidais, especialmente a protodioscina, além de flavonoides e alcaloides. Estudos indicam que o Tribulus pode estimular a produção dos hormônios FSH e LH, fundamentais para a maturação folicular e a ovulação. Esse efeito o torna útil, sobretudo, em casos de anovulação e ciclos menstruais irregulares. No entanto, seu uso é contraindicado durante a gravidez e a lactação, bem como em mulheres com miomas uterinos ou cistos ovarianos de grandes dimensões, já que pode estimular o crescimento dessas estruturas. Além disso, o Tribulus pode potencializar o efeito de terapias hormonais e aumentar o risco de sangramentos quando usado junto com anticoagulantes.
Maca peruana (Lepidium meyenii)- a energia hormonal
A Lepidium meyenii, conhecida popularmente como maca peruana, cresce nas regiões andinas do Peru e é considerada um adaptógeno clássico. Entre seus princípios ativos estão os glucosinolatos, alcaloides (especialmente macaínas e macamidas) e polissacarídeos bioativos. A maca age equilibrando o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, favorecendo uma melhor resposta ao estresse e melhorando indiretamente o ambiente hormonal feminino. Além disso, seus compostos são conhecidos por melhorar a qualidade do muco cervical, aumentar a energia e o bem-estar emocional, fatores que podem influenciar positivamente na fertilidade. Ainda assim, a maca deve ser usada com cautela por mulheres com distúrbios da tireoide, especialmente em casos de hipertireoidismo, e por aquelas com histórico de câncer hormônio-dependente. Também é contraindicada na gravidez, a menos que haja orientação médica específica. Pode interagir com hormonioterapias e alterar o metabolismo de medicamentos para tireoide.
Cassia da índia (Cassia angustifolia) - O suporte anti-inflamatório uterino
Embora a Cassia angustifolia, conhecida como Cássia-da-Índia, seja mais famosa por seu efeito laxativo, estudos recentes têm explorado seu potencial no controle de processos inflamatórios uterinos. Rica em antraquinonas como os senaósidos A e B, além de compostos fenólicos e flavonoides, a planta tem demonstrado propriedades anti-inflamatórias que podem ajudar a melhorar a receptividade endometrial, especialmente em casos de endometrite crônica leve. No entanto, o uso da Cássia para essa finalidade ainda é experimental e deve ser feito apenas com acompanhamento profissional. Sua utilização é contraindicada durante a gravidez e lactação, além de ser desaconselhada para pessoas com doenças inflamatórias intestinais, como Doença de Crohn ou colite ulcerativa. O uso prolongado também pode causar desequilíbrio eletrolítico e perda de potássio. Em termos de interações medicamentosas, pode potencializar o efeito de diuréticos, laxantes e antiarrítmicos.
Dong Quai (Angelica sinensis) - o tônico uterino da medicina chinesa
Por fim, temos a Angelica sinensis, conhecida mundialmente como Dong Quai, uma das plantas mais tradicionais da Medicina Chinesa para a saúde feminina. Seus principais ativos são as cumarinas, o ácido ferúlico, as ftalidas e os polissacarídeos. O Dong Quai é considerado um tônico uterino por melhorar a circulação sanguínea na região pélvica, favorecendo o espessamento endometrial e criando um ambiente mais receptivo para a implantação embrionária. Também possui efeito antiespasmódico, sendo útil na redução de cólicas e outros desconfortos menstruais. Apesar de seus benefícios, é contraindicado durante a gravidez, em mulheres com distúrbios hemorrágicos ou em uso de anticoagulantes, pois pode aumentar o risco de sangramentos. Além disso, deve ser usado com cautela por pessoas com histórico de câncer hormônio-dependente e por quem utiliza anti-inflamatórios não esteroides, como AAS ou ibuprofeno, devido ao risco de interação.
Cuidados essenciais antes de iniciar qualquer fitoterapia para fertilidade
Antes de iniciar o uso de qualquer planta com ação hormonal ou anti-inflamatória, é fundamental passar por uma avaliação médica completa. Isso inclui exames hormonais como FSH, LH, estradiol, progesterona, prolactina, TSH, T4 livre, AMH, além de uma análise detalhada do útero e ovários, geralmente feita por meio de ultrassonografia transvaginal.
O uso de fitoterápicos deve ser sempre individualizado e orientado por um profissional especializado. Além disso, é importante reforçar: não use essas plantas na forma de chás avulsos ou comprados a granel, pois não há controle de concentração ou qualidade. A forma mais segura de consumo é por meio de fórmulas manipuladas em farmácias de manipulação, com laudos de pureza e dosagem ajustada.
Quando o assunto é fertilidade, cada detalhe importa e a combinação entre tradição, ciência e cuidado individualizado pode fazer toda a diferença no caminho para a realização de um sonho.