O que é violência obstétrica?
Gestante pode ser vítima de assédio moral a intervenções desnecessárias
A maternidade é um momento especial na vida de uma mulher. Do pré-natal ao parto, a gestante precisa dos cuidados médicos adequados e, acima de tudo, respeito.
Mas nem sempre isso ocorre infelizmente. "Violência obstétrica é quando o processo fisiológico do parto se torna excessivamente medicalizado, quando a mulher não é respeitada física, psicológica e verbalmente. Quando se ultrapassam as recomendações científicas tanto em relação à assistência ao pré-natal quanto ao parto, através de uso exagerado de tecnologia em desrespeito ao processo fisiológico", explica a enfermeira obstetra Cinthia Calsinski.
A violência obstétrica pode ocorrer em quatro formas: física, psicológica, institucional e sexual, inclusive com cantadas ou chacotas sobre o ato que engravidou a paciente.
Na violência física, a mulher pode, por exemplo, ser amarrada à maca, sofrer toques por múltiplos profissionais que não se identificam ou episiotomia desnecessária.
Na psicológica, a grávida pode receber ameaças, chacotas, ofensas, piadas e todo tipo de humilhação. Também é violência obstétrica psicológica coagir a gestante a agendar a cesárea e negar informações sobre sua saúde e a do bebê.
Quando o hospital recusa atendimento, impede a mulher de ter seus direitos realizados - seja no ambiente público ou privado, como negar acesso a um acompanhante, também é violência obstétrica.
Para falar sobre o assunto, nós entrevistamos Cinthia Calsinski, enfermeira Obstetra pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
1 - O que caracteriza uma violência obstétrica?
Qualquer tipo de violência que ocorra no momento da gestação, parto e pós parto. Podemos citar para explicitar o assédio moral (gritos, xingamentos, julgamentos, ofensas) assim como práticas obstétricas ultrapassadas como a episiotomia ou condutas e intervenções cirúrgicas desnecessárias, por conveniência médica ou sem o consentimento da mulher.
2 - O que a violência obstétrica pode causar?
Danos físicos e psicológicos.
3 - Como saber se sofri violência obstétrica?
Práticas como episiotomia e manobra de kristeller são consideradas violência obstétrica. Cesáreas agendadas sem indicação real também. Toques vaginais fora de trabalho de parto, além de não fazer sentido, também podem ser considerado VO. Piadinhas, grocerias, exposição. Você se sentiu desconfortável em alguma situação? Pode ter sofrido VO.
4 - Quais são os impactos emocionais para a mãe e o bebê que passaram por essa situação?
O pós-parto imediato é um momento importante para vinculação entre mãe e bebê. Imagine pegar nos braços o bebê após uma série de situações extremamente desagradáveis e sofridas, difícil não relacionar os traumas vividos com o bebê que está em seus braços.
5 - Existe como se prevenir dessa situação?
Com certeza. A prevenção da violência obstétrica está na informação. O parto é um momento único, não é possível voltar no tempo e fazer diferente. Cada escolha feita nesse período trará consequências. Se informe, não aceite a primeira explicação sobre algo, duvide, questione!
6 - É possível denunciar uma violência obstétrica?
Sim, e deve ser feito. Somente assim poderemos combatê-la. Pode ser denunciado ao Conselho Regional de Medicina (CRM), Conselho Regional de Enfermagem (Coren), no telefone 180 (violência contra a mulher) ou no 136 (casos ocorridos no SUS).