Descubra o que é o 'jamais vu', fenômeno oposto ao 'déjà vu'
O fenômeno contrário ao déjà vu faz o conhecido parecer inédito e revela como o cérebro usa a estranheza para "reiniciar" a percepção
Você já teve a sensação de entrar em um lugar que conhece bem - como sua própria casa - e, por alguns instantes, tudo parecer diferente, quase como se estivesse vendo aquilo pela primeira vez? Essa experiência, tão desconcertante quanto intrigante, tem nome: jamais vu.
Menos conhecido que o famoso déjà vu (a impressão de já ter vivido uma situação atual), o jamais vu é considerado o seu oposto. Se o déjà vu nos faz sentir familiaridade onde não há, o jamais vu provoca o contrário: estranhamento diante do que é familiar.
Quando o cérebro "se confunde" com o real
Segundo psicólogos Akira O'Connor, da Universidade de St. Andrews, e Christopher Moulin, da Universidade Grenoble Alpes, o fenômeno acontece quando há uma falha momentânea no reconhecimento da familiaridade. Em vez de o cérebro identificar algo como conhecido, ele perde temporariamente essa associação, como se o elo entre memória e percepção se rompesse por instantes.
Os pesquisadores explicam que o jamais vu é uma espécie de "verificação da realidade" do cérebro. Ao perceber que algo está excessivamente automático, o sistema cognitivo "reinicia" a percepção, fazendo com que o conhecido pareça novo - um mecanismo que, segundo eles, mantém o cérebro flexível e atento.
A ciência por trás da sensação
Para investigar o fenômeno, O'Connor e Moulin convidaram 94 estudantes universitários para um experimento curioso: escrever repetidamente palavras simples, como "porta" ou "gramado". A maioria relatou que, após cerca de um minuto (ou 30 repetições), as palavras começaram a perder o sentido. Cerca de 70% dos participantes interromperam a tarefa justamente por essa sensação de estranheza, o que caracterizou o jamais vu.
Os cientistas acreditam que esse "apagamento de familiaridade" ocorre por um processo chamado saciação semântica, quando a repetição excessiva de um estímulo leva o cérebro a perder sua referência de significado.
No dia a dia: quando o familiar vira estranho
O jamais vu pode acontecer de forma espontânea. Algumas pessoas relatam, por exemplo, não reconhecer o próprio quarto por alguns segundos ou olhar para um rosto conhecido e senti-lo diferente. Há também registros do fenômeno em músicos que, de repente, se perdem em uma melodia que costumam tocar com facilidade.
Essas experiências, apesar de desconfortáveis, são passageiras e não indicam nenhum problema de saúde. Ele mostra como o cérebro, mesmo sendo uma máquina incrível de reconhecimento, precisa de pausas e variações para funcionar bem. Quando algo se torna automático demais, o sistema cognitivo pode "reiniciar" a percepção para nos manter alertas, e isso é uma forma de proteção mental.