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Como é descobrir já adulto o diagnóstico de superdotação e altas habilidades?

Apesar do estereótipo de que a superdotação é um dom, ela traz consigo algumas dificuldades sociais e de adaptação

17 jun 2025 - 04h59
(atualizado às 11h47)
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Em 2023 o Brasil, tinha 26.815 alunos identificados com altas habilidades ou superdotação nas escolas
Em 2023 o Brasil, tinha 26.815 alunos identificados com altas habilidades ou superdotação nas escolas
Foto: GettyImages

Você pode ter visto durante a última semana que o cantor, humorista e criador de conteúdo Whindersson Nunes compartilhou com os fãs seu diagnóstico de superdotação e, por experiência própria, descobrir isso na fase adulta da vida é bem complicado.

Assim como ele, eu também descobri o que é a superdotação depois de adulto. Quando eu era mais novo, sempre vi a superdotação como um rótulo para alunos muito bons e fora de série que precisavam estudar em escolas especializadas para identificar essas necessidades e desenvolver todo seu potencial.

Mas eu não tive isso. Era apenas "uma criança inteligente" e nunca entendi direito o que levava as pessoas a me verem assim. Sempre fui vítima de comentários maldosos dentro da sala de aula, muitas vezes promovidos até mesmo pelos professores que me culpavam por responder às perguntas "rápido demais" e "não dar chance aos outros alunos".

Com o passar dos anos, fui criando planos de ação na minha cabeça para estar pronto em qualquer situação. Desde uma coisa cotidiana, até um ataque terrorista ou um objeto aleatório caindo sobre mim. Eu tinha um plano do que faria em todas as situações.

Quando era uma situação prevista, como ir a um passeio ou ir à quadra de esportes, eu pensava em tudo o que poderia dar errado e me precavia com inúmeros planos de ação para cada uma dessas situações hipotéticas. A consequência disso você deve imaginar, era um cansaço mental ímpar, como se eu tivesse me desgastado em um estado que não ficaria de forma física, com atividades motoras.

Mas o cansaço mental não era nem de perto a principal questão. O que mais me incomodava era a sensação constante de tristeza. Algo que, segundo o neurocientista Ricardo Galhardoni, diretor técnico da Bright Brains, healthtech de neuromodulação, é comum entre os superdotados, por causa da falta de estímulos alegres ou de prazeres que podem motivar comportamentos como impulsividade, vícios e dependências.

O incômodo era tanto que decidi procurar uma psicóloga. Após algumas conversas, veio a suspeita da superdotação. Fui indicado a ouvir um podcast e avaliar se as experiências de outro superdotado batiam com as minhas. Fiz uma lista com 57 itens similares. Foi quando comecei a compreender o sentimento de obrigatoriedade em não deixar passar nada, de ser a minha melhor versão possível e de acertar em tudo.

A partir daquele dia, eu entendi que poderia ser um diagnóstico que batia diretamente com minha vida e minhas experiências. Aquela seria a justificativa para anos de exclusão e de pensamentos excessivos em temas de pouco valor. Foram mais de dois meses de testes que envolveram familiares, amigos e minha namorada.

Após dezenas de pesquisas e conversas direcionadas, aos 24 anos, eu tive meu diagnóstico. Foi estranho, mas era como se eu, finalmente, me sentisse parte de algo. Como se pela primeira vez eu fosse abraçado, mesmo que por mim mesmo. Só aí passei a entender minhas dificuldades e compreender o motivo de ser tão difícil estar em ambientes com muitas pessoas.

A superdotação, quando não anunciada, tem um pré-conceito de uma pessoa chata, intrometida e sabichona. Características não tão bem vistas em ambientes sociais. E, para me blindar da negação alheia, fui criando (inconscientemente) um movimento comum em neurodivergentes: o masking (mascaramento), em que você finge diante das pessoas uma versão mais socialmente aceita de você.

Como explica Galhardoni, o superdotado não possui sistemas inibitórios no cérebro. Portanto, tende a falar a primeira coisa que vem à mente com frequência. E, na prática do masking, o superdotado age não só contra o instinto, mas contra a vontade e contra próprio cérebro. Por isso é normal apresentar fadiga após contato social.

Essas negações aos estímulos cerebrais cansam mais que qualquer coisa. É como se você tivesse que lutar constantemente contra quem você é e o que vive dentro de você. Outra situação estressante para o superdotado é o momento de um feedback. Mesmo que seja positivo, a falta de compreensão da situação faz com que os elogios sejam tratados como "mero respeito/protocolo", e as críticas, mesmo que construtivas, como sentenças, prisões ou "fim do mundo".

A superdotação não é uma doença e nem tem cura. É uma condição em que um indivíduo demonstra habilidades cognitivas, criativas e/ou artísticas notavelmente elevadas, superando o desempenho da média. No meu caso, tenho muita facilidade nas áreas de geopolítica, tecnologia, esportes e e-sports. 

A lei brasileira, hoje em dia, prevê apenas o cuidado social para a criança com superdotação no âmbito da educação e não cita diretamente adultos superdotados ou com o diagnóstico tardio, como o meu caso e o de Whindersson. Ainda assim todos devem ser respeitados e compreendidos. 

E o que um superdotado pode — e deve — fazer é ser constantemente acompanhado por um profissional da psicologia para entender seus comportamentos e melhorar as reações a eles. Se você acha que possui a superdotação ou que conhece alguém que seja, busque ajuda profissional através de psicólogos, psiquiatras e neuropsicólogos.

Fonte: Redação Terra
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