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Afinal, a moda ignora quem não é jovem?

Embora as modelagens sejam pensadas ainda para certos estereótipos, especialista acredita que a mudança é uma questão de tempo

12 ago 2016 - 10h18
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Quantas mulheres acima dos 60 anos estão desfilando em uma passarela? Quando foi que você viu uma senhora estrelando uma campanha de uma nova coleção? É possível ver algo que fuja do estereótipo das modelos magras e super jovens? Pois é diante da falta de respostas que se levanta uma importante questão: afinal, porque a moda ignora aquelas que não são jovens?

Quem confirma a falta de interesse deste mercado com quem está acima dos 40 anos é o ícone da moda, a designer Iris Apfel, que está no auge dos seus 94 anos. Iris já mostrou que seu estilo vai muito além dos seus grandes óculos redondos. Ela, que nunca teve papas na língua, foi uma das primeiras a denunciar o esquecimento desta indústria com as mulheres com mais de quatro décadas de vida. O que, para ela, é um grande equívoco, visto que as meninas jovens não têm o mesmo poder aquisitivo daquelas com mais tempo de vida.

Iris Apfel acredita que a moda não contempla mulheres acima de 40 anos
Iris Apfel acredita que a moda não contempla mulheres acima de 40 anos
Foto: Ron Adar/Shutterstock

A americana, em entrevista ao The Telegraph, ressaltou que a moda esqueceu as pessoas de terceira e meia-idade. “Eles são obcecados com os jovens, e isso é totalmente insano do ponto de vista financeiro, então eu não sinto muito por eles. Vários estilistas famosos fazem vestidos deslumbrantes custando milhares de dólares que os jovens não podem pagar”, enfatizou.

Para a jornalista especialista em marketing de moda e branding Carolina Tremarin, seria até hipocrisia por parte dos criadores de moda ignorarem mulheres não tão jovens. “Considerando que a moda é cíclica e, portanto, se alimenta de referências de diferentes décadas, essas mulheres, que muitas vezes já experimentaram diferentes estilos ao longo da vida, têm propriedade para interpretar a moda atual de acordo com as suas vivências”, pontua. Para Carolina, independentemente da proposta de produto, a moda vem sendo pensada para quem quer que deseje vesti-la.

Um culto à beleza

Já para o doutor em Design Flávio Sabrá, a moda trabalha ainda com um culto exclusivo à beleza, magreza e jovialidade. No entanto, o apontamento de Carolina já é uma realidade. “Estamos passando por alterações profundas na sociedade. Estas mudanças estão ligadas à longevidade das populações e, se pegarmos o Brasil como exemplo, a sociedade envelheceu e está com uma perspectiva de vida muito mais longa. As consequências destas mudanças impactam todos os segmentos industriais e comercias”, fala.

A moda vem sendo pensada para quem deseja vesti-la?
A moda vem sendo pensada para quem deseja vesti-la?
Foto: Milica Nistoran/Shutterstock

De acordo com Sabrá, os serviços têm que ser revistos com muito mais velocidade para atender melhor aos usuários, e o consumidor e as suas ações de pertencimento, usabilidade e necessidade são mutantes e cíclicas.

“Podemos ser jovens com corpos adultos e sedentários, podemos ser adultos com espírito jovem. Somos muitos em um só corpo, somos muitos em um só sentimento, somos jovens, adultos e experientes no nosso dia a dia. Somos formas e sentimentos humanos com faces diferentes e distintas em um mesmo dia”, diz, destacando sua percepção sobre a nova compreensão da indústria da moda. “As empresas que já estão compreendendo, estudando e atendendo esta nova mulher estão saindo na frente em seus negócios, afinal moda é negócio, estudo, pesquisa, história, entre outros vieses da sociedade em que vivemos”.

Mudança histórica

Flávio ressalta que as modelagens de hoje são pensadas para um modelo de mulher que é jovem e magra. “Que a meu ver é imposto por fatores econômicos, onde a magreza está ligada ao belo e a saúde”, fala, lembrando que a beleza é mutante. “O modelo feminino voluptuoso, por exemplo, já foi referência em séculos passados, hoje está posto de lado, mas amanhã poderá ser a nova forma de adoração”, compara.

O especialista fala que as modelagens estão diretamente ligadas aos corpos modelo de uma sociedade. “Desde que iniciei a minha atuação no campo da moda, na década de 80, venho estudando e aplicando o meu conhecimento em entender que corpos temos que vestir”, diz, garantindo que o processo de mutação social vai exigir que estes padrões mudem.

Para Flávio, quatro fatores importantes devem ser levantados, estudados e cruzados: o econômico, o demográfico, o educativo e a tecnologia. “Na questão econômica, o Brasil vem ano a ano melhorando o ganho em todos os níveis da nossa sociedade, mesmo que ainda tenhamos diferenças significativas entre as faixas de poder aquisitivo. No âmbito demográfico, a sociedade vem ampliando a longevidade e diminuindo a quantidade de filhos por família. Nas questões de educação e tecnologia, a população, mesmo que ainda deficitária, vem tendo a oportunidade de inserção e ganho em escala”. fala, garantindo que este novo olhar sobre quem inspira a moda precisa ser, urgentemente, revisto.

Fonte: Terra
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