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Depilação em crianças não é proibida, mas precisa de avaliação médica

Especialistas defendem investigar necessidade e consideram negativa a prática por 'modismo'

20 fev 2020 - 13h10
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A depilação realizada em mulheres gera um extenso debate sobre padrões de beleza impostos, direito de escolha e autoestima. Quando a prática é realizada em meninas de dez anos, conforme repercutiu na internet recentemente, a discussão pode ficar ainda mais acalorada. Porém, existe a ponderação de que retirar os pelos em fase precoce seja indicado se a imagem corporal estiver causando sofrimento à criança e após avaliação médica.

Especialistas ouvidas pelo E+ afirmam que depilar pré-adolescentes e adolescentes não é proibido, mas veem como negativa a depilação realizada por 'modismo'. "Tem de ver quem está querendo tirar o pelo, se [o desejo] vem da mãe ou da criança que está sofrendo", diz Marice El Achkar Mello, do Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Alessandra Romiti, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, acrescenta que essa decisão deve ser tomada em conjunto com um médico especialista, que vai avaliar a real necessidade de depilação e se a pele está preparada. "Distúrbio de hormônios pode interferir na produção aumentada de pelos. De acordo com a criança, médico e mãe avaliam necessidade de tratamento. Se eles virem que tem necessidade, vai ser feita com cera ou cortando com lâmina se for em áreas pequenas", afirma.

Marice explica que, a partir dos oito anos, é normal que as meninas comecem a ter pelos e desenvolver mamas. Antes disso, é preciso investigar os níveis hormonais para saber se elas não estão em puberdade precoce. A genética e o fato de ter nascido em um ou outro grupo étnico-racial também contribui para o nascimento de mais ou menos pelos.

Quando a penugem é excessiva, principalmente no buço, na lateral do rosto ou nas axilas, a menina pode sofrer bullying na escola ou em outros espaços que frequenta. "Se isso está causando um problema psicológico, que está incomodando, o dermatologista avalia e vê se aquilo vai ser indicado", diz Alessandra. "O que é ruim é simplesmente ter 'modismo', começar a depilar a criança sem investigação prévia."

Depilação kids gera discussão na internet

No começo de janeiro, uma publicação do espaço de estética By Pello, de Goiânia, em que a empresa divulga o serviço de depilação kids na internet, ganhou repercussão. O que mais se leu foram as críticas negativas, pessoas considerando "absurdo" submeter crianças a esse tipo de procedimento. Mas também havia apoiadoras, mães interessadas na proposta, que perguntavam sobre a prática e afirmavam que já iam marcar uma sessão. Nas redes sociais, é possível encontrar outras clínicas e profissionais que também oferecem o serviço.

Fernanda Ribeiro, proprietária da By Pello, afirma que atende a uma demanda das próprias mães e trata apenas de iniciar a depilação em pré-adolescentes e adolescentes "de forma menos traumática e agressiva". Para isso, a equipe destacada para atender esse público tem, segundo ela, um perfil mais comunicativo, além de usar jalecos coloridos com estampas "que agradam essa faixa etária".

A administradora explica que a depilação é feita com cera descartável, a mesma usada em adultos, e quase exclusivamente na região do buço e axilas. A diferença é que o procedimento é feito mais devagar, com um tempo maior de espera entre cada parte depilada.

"A By Pello está no mercado há dez anos e essa demanda sempre existiu. O que fizemos foi apenas uma maior divulgação desse serviço. Ressalto também a questão comportamental e de costume da sociedade em relação à depilação, uma vez que a falta desse serviço leva as jovens a utilizarem gilete para rasparem axilas e buço", comenta Fernanda.

Cuidados na depilação

Para as crianças, se for necessário retirar os pelos, é preciso avaliar qual o melhor método, considerando a tolerância à dor, qualidade da pele e possibilidades de alergia. A dica geral, inclusive para adultos, é testar a cera e cremes depilatórios em regiões pequenas do corpo para verificar possíveis reações alérgicas. Além disso, caso a depilação seja feita em clínicas, as médicas orientam conferir a procedência do produto e se é descartável.

As especialistas dizem que é mito afirmar que depilar com lâmina engrossa os pelos. Ocorre que, usando esse método, o pelo é cortado rente à pele e, dias depois, já começa a crescer a partir daquele ponto, na região mais grossa que se vê. Quando se usa a cera, o pelo é arrancado por inteiro, levando mais tempo para crescer e com a ponta mais fina.

Manter a pele sempre hidratada, antes e depois da depilação, é fundamental para a boa saúde cutânea e prevenir inflamações. No caso do laser, a dermatologista Alessandra orienta procurar uma clínica especializada, com médico responsável e utilização de parâmetros adequados.

A pediatra Marice explica que essa técnica só é recomendada em fase mais precoce depois que os hormônios estiverem estabilizados, o que ocorre de dois a três anos após a menstruação. "Em menina que ainda não menstruou, vai fazer depilação com laser e, quando vir a parte hormonal, vai nascer tudo de novo."

Estadão
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