Para Abramovay, só tecnologia não leva à sustentabilidade
- Sabrina Bevilacqua
- Direto de São Paulo
O progresso tecnológico é fundamental para o desenvolvimento sustentável da sociedade, mas não vai resolver as desigualdades e problemas ambientais globais. Durante o 2º Fórum Insper de Políticas Públicas, em São Paulo, o professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Abramovay, afirmou que não dá mais para avaliar a economia apenas do ponto de vista de emprego, impostos, tecnologia e inovação. É preciso pensar em como e para quem se produz. "Tecnologia é essencial, mas não é suficiente. Tem de haver mudança de comportamento para podermos compatibilizar as nossas atividades com os limites do planeta", defende.
Segundo Abramovay, com os avanços tecnológicos conquistados da Rio-92 à Rio+20 foi possível reduzir em 23% a emissão de CO2 e em 21% a quantidade de alguns materiais (biomassa, minerais, metais e combustíveis fósseis) utilizados para gerar valor equivalente a um dólar. "Apesar do greenwashing ser gigante atualmente, ecoeficiência já é algo que está no comportamento das empresas."
Apesar desse avanço, o consumo e a produção cresceram tanto que fizeram com que a eficiência não seja suficiente para reduzir o impacto das atividades humanas no meio ambiente. No mesmo período, a emissão de CO2 por partes das indústrias aumentou em 39% e a quantidade de materiais extraídos em 41%.
Abramovay diz que, nos últimos anos, diversos países - incluindo o Brasil - têm feito avanços para reduzir a pobreza, mas pouco têm avançado na redução da desigualdade social. Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que, no caso brasileiro, apesar do desenvolvimento econômico, o Brasil ainda é o quarto mais desigual em termos de distribuição de renda da América Latina.
O mundo emite cerca de 50 gigatoneladas de gases de efeito estufa por ano, explica Abramovay. A média global per capita é de 7 toneladas mas, se análise for feita por país, as diferenças são grandes. Um cidadão americano emite, em média, 20 toneladas (t) por ano, um europeu, entre 10 t e 12 t, e um chinês emite 6 t. Já os indianos respondem por apenas 2 toneladas, afirma o professor. "Temos novas dimensões de desigualdades além das sociais. E, ao que tudo indica, o progresso tecnológico não está resolvendo a questão."
Além da mudança dos hábitos de consumo e da pressão social, Abramovay vê como fundamental a instituição de taxas para que as empresas possam utilizar os recursos naturais. Essa seria uma maneira de incluir os ônus à sociedade que as atividades privadas geram. "Se indústria tivesse de pagar por água, emissão de gases estufa e pelos resíduos que gera, de cada dólar gerado, US$ 0,41 seriam gastos para pagar os 'custos sociais' do produto."