Decisão política nos EUA põe ESG na berlinda
Movimentação no Capitólio lança luz sobre retorno na área de finanças verdes
No início de março, nos Estados Unidos, senadores republicanos aprovaram a retirada de uma resolução feita pelo Departamento de Trabalho que dizia que gestores de fundo de pensão deveriam privilegiar práticas ESG na escolha de seus investimentos. Os republicanos defendem que a norma, na prática, obrigava a uma politização dos investimentos. A decisão ainda pode ser vetada pelo presidente americano Joe Biden, porém, já abriu um debate, inclusive no Brasil, sobre a possibilidade de um novo cenário para a área de finanças verdes.
"Essa resolução mostra, em princípio, que eles não entenderam o significado de ESG. O ESG não é uma classe de ativo, mas sim uma poderosa ferramenta para mitigação de riscos e incremento de retorno. A resolução americana é um atestado de ignorância, em nada contribui ao debate além de ser um desserviço aos próprios investidores", afirma o sócio fundador da FAMA Investimentos, Fábio Alperowitch.
Para a coordenadora do programa de Finanças Sustentáveis do FGVces, Annelise Vendramini, a movimentação no Congresso americano trouxe foco para analisar a relação do ESG com o mercado financeiro. "O que está acontecendo nos Estados Unidos, além da discussão política, é um debate de alto nível que traz questões técnicas muitos relevantes como, por exemplo, se o ESG dá retorno ou não, quando compromete o risco, como isso deve ser avaliado, quais os parâmetros usados. Não vejo essa discussão no mercado brasileiro, até porque nosso mercado de capitais é muito menor na comparação com o americano."
Para o sócio e assessor da Quattro Investimentos, Alexandre Cruz, caso a decisão seja de fato aprovada, representará um retrocesso. "Mesmo com ESG em franca expansão no mercado financeiro, ainda temos grandes adaptações para serem feitas e metas de despoluição para serem cumpridas. Dessa forma, fundos de pensão, bem como qualquer outro tipo de fundo fechado, não deveriam pensar em privilegiar fundos ESG, mas considerá-los como premissa. O mercado financeiro está em processo de se adaptar a essa questão tão relevante."
Cenário brasileiro
Para o economista e CFO na Somus Capital, Luciano Feres, o Brasil ainda está na fase de desenvolver e se estruturar no setor de finanças verdes na comparação com o mercado exterior. "Um exemplo é que lá fora temos os green bonds (títulos verdes) que são emitidos e negociados com muita facilidade e conhecimento, aqui, por exemplo, quando temos uma 'debênture selo verde' os investidores ainda demoram para conseguir entender a diferença do ativo", explica.
A experiência cotidiana do executivo da Somus mostra que, de forma geral, o ESG ainda não é determinante para o investidor pessoa física. Ao contrário do que ocorre no mundo corporativo, entre os gestores de recursos financeiros. "Observando o mercado de títulos verdes, entre 2015 e 2022, tivemos um total de cerca R$ 200 bilhões de operações sendo emitidos por empresas", diz Guilherme Teixeira, diretor de Consultoria ESG para Instituições Financeiras e Fundos da NINT, empresa de consultoria e avaliação do Grupo ERM.
Alperowitch, concorda que quando o foco é o cenário brasileiro a conclusão ainda não é animadora. "A indústria ESG no Brasil é praticamente inexistente. Apenas 0,3% dos fundos de ações do Brasil seguem ESG. Além disso, estamos em nosso pior momento relacionado à agenda ESG. Pequenos avanços são comemorados efusivamente inclusive por alguns praticantes ESG, o que gera falta de cobrança por avanços maiores. Além disso, a percepção do mercado se dá a partir de um pequeno grupo de empresas grandes", diz.
Mesmo com a baixa oferta no mercado de capitais brasileiro para os papéis verdes, de acordo com o CEO da Rise Ventures e conselheiro do Sistema B Brasil, Pedro Vilela, a relação entre ESG e mercado financeiro tende a se fortalecer. "Será cada vez mais difícil desassociar empresas que não olham de forma adequada para a sua parte de ESG.