Estudo associa extinção em massa à temperatura dos oceanos
Uma das maiores extinções em massa ocorrida no planeta foi provocada pela elevação da temperatura dos oceanos. A conclusão é de estudo que está sendo publicado na edição desta semana da revista Science.
De acordo com o trabalho, entre o fim do Permiano e o início do Triássico, a temperatura atingiu níveis muito elevados nos trópicos, chegando a uma média entre 50 e 60 graus Celsius em terra e 40 graus na superfície dos mares - a temperatura média hoje do oceano no equador varia entre 25 e 30 graus Celsius.
Pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e da Universidade de Geociências da China dizem que as descobertas ajudam a entender melhor os efeitos que o atual aquecimento global pode ter sobre a biodiversidade.
"O aquecimento global foi associado à extinção em massa do fim do permiano há muito tempo, mas este estudo é o primeiro a mostrar que as temperaturas extremas de então impediram por milhares de anos que a vida tivesse um recomeço nas latitudes equatoriais", diz o pesquisador da universidade chinesa Yadong Sun.
O trabalho avaliou dados de 15 mil fósseis de conodontes, animais parecidos com enguias, encontrados em rochas na China. A extinção em massa há cerca de 250 milhões de anos, no fim do Período Permiano, mostra uma perda de 90% de todas as espécies marinhas e 70% dos vertebrados terrestres.
O estresse ecológico provocado pela elevação da temperatura dos oceanos, segundo os cientistas, acabou por atrasar a recuperação dos organismos vivos nas regiões tropicais em cerca de 5 milhões de anos durante o período Triássico.
Outro período de aquecimento global, ocorrido há 55 milhões de anos, conhecido como máximo térmico do Paleoceno-Eoceno, tem sido usado como referência nos estudos sobre o atual processo de mudanças climáticas.
Alguns cientistas ponderam, porém, que esse período não teve a severidade e rapidez das alterações registradas hoje.
"De qualquer forma, nunca antes alguém ousou afirmar que climas do passado tenham atingido tais níveis de aquecimento", afirma o professor da Universidade de Leeds Paul Wignall. "Esperamos que, no futuro, o aquecimento global não chegue nem perto das temperaturas de 250 milhões de anos atrás, mas se ele chegar, nós demonstramos que a recuperação da vida no planeta pode demorar milhões de anos."
Entre os causadores do aquecimento global hoje está o homem, que, com queimadas, desmatamento, queima de combustíveis fósseis, potencializa o efeito estufa. No fim do Permiano, a temperatura subiu por causa de um desequilíbrio no ciclo de carbono, associado a uma intensa atividade vulcânica. Erupções maciças na região hoje conhecida com Sibéria, na Rússia, teria liberado depósitos geológicos de carbono e metano , dois dos principais gases estufa.