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A Amazônia não precisa de mais (e sim melhores) estradas para dinamizar suas economias florestais

Pesquisa que comparou desenvolvimento de três regiões amazônicas mostra que as novas estradas geralmente servem para atividades mais lucrativas - e destrutivas - como a criação de gado e a mineração

30 out 2025 - 09h43
(atualizado em 30/10/2025 às 11h39)
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Um problema comum na Amazônia é que as estradas servem tanto para levar oportunidades econômicas quanto para a destruição ambiental. Elas são essenciais para o transporte de produtos florestais não madeireiros(PFNMs) para os mercados, como a castanha-do-pará e o açaí, mas também são responsáveis por abrir a floresta ao desmatamento causado pela agricultura, pecuária e mineração.

Então, será que a construção de mais estradas é o caminho para impulsionar a economia florestal sustentável da Amazônia? Nossa nova pesquisa, publicada na PLOS Sustainability and Transformation, sugere que é o contrário. Comparando uma década de dados em três regiões limítrofes na Bolívia, no Brasil e no Peru, descobrimos que o segredo para economias prósperas baseadas em PFNMs não é construir mais estradas - e sim melhorar a governança e os investimentos direcionados em infraestrutura e instalações de processamento desses produtos, para lhes dar um valor agregado.

Um experimento natural no sudoeste da Amazônia

Nosso estudo concentrou-se na região MAP, uma área de três fronteiras: Pando (Bolívia), Acre (Brasil) e Madre de Dios (Peru). Essas regiões compartilham ecossistemas semelhantes e um histórico de extração de PFNMs, mas seguiram caminhos de desenvolvimento diferentes, resultando em atividades econômicas e estruturas sociais e institucionais divergentes.

Assim, entre 2010 e 2020, acompanhamos a expansão das estradas, o desmatamento e os volumes de produção de castanha-do-pará e açaí. Os resultados revelaram um contraste impressionante:

  • Em Pando, na Bolívia, a malha rodoviária permaneceu estável, a perda florestal foi mínima (menos de 1%) e a produção de castanha-do-pará e a produção de açaí cresceu vinte vezes depois que as fábricas de processamento locais foram estabelecidas na região.

  • No Acre, Brasil, a rede rodoviária se expandiu e a cobertura florestal caiu 13%. Enquanto isso, a produção de castanha-do-pará diminuiu significativamente.

  • Em Madre de Dios, no Peru, as estradas também se expandiram, a cobertura florestal caiu 9% e a produção de castanha-do-pará apresentou tendência de queda.

O exemplo da Bolívia demonstra que é possível manter e até mesmo aumentar a produção de PFNMs sem uma onda de construção de novas estradas.

Por que as novas estradas geralmente prejudicam a economia florestal

O problema é que as estradas raramente são construídas apenas para os PFNMs. Como nossas entrevistas com as partes interessadas locais revelaram, as novas estradas geralmente servem para atividades mais lucrativas - e destrutivas - como a criação de gado e a mineração de ouro.

No Peru, a melhoria do acesso rodoviário simplificou a cadeia de suprimentos da castanha-do-pará, mas também intensificou a concorrência por terras, tornando o extrativismo menos atraente.

Como apontou um de nossos entrevistados no Peru, os desafios são grandes quando uma concessão de castanha-do-pará faz fronteira com uma mina de ouro. Isso porque as estradas para transportar as castanhas também facilitam a entrada de garimpeiros e fazendeiros, que desmatam a floresta da qual as castanheiras dependem.

Melhor infraestrutura, não apenas mais estradas

Quando perguntamos aos participantes locais o que mais melhoraria o setor de PFNMs, fazer mais estradas não apareceu como prioridade. Em vez disso, eles listaram:

  1. Melhorar as estradas existentes: Melhor manutenção para garantir um transporte confiável, especialmente para o açaí altamente perecível, que deve ser processado em 48 horas depois da colheita;

  2. Construção de mais fábricas de processamento: Investimentos estratégicos em instalações de armazenamento e processamento, como visto no atual boom do açaí na Bolívia;

  3. Industrialização de produtos: Explorar produtos de valor agregado, como óleo de castanha-do-pará ou açaí liofilizado, para aumentar a lucratividade e o prazo de validade.

Uma conclusão do caso boliviano é que o foco na infraestrutura pós-colheita em um contexto de forte governança florestal (como a proibição de novas estradas na Reserva Manuripi) permitiu que a economia de PFNMs prosperasse sem desencadear uma espiral de desmatamento.

Um caminho a seguir

Nossas descobertas sugerem que políticas gerais que promovem a expansão de estradas na Amazônia são inadequadas. Uma abordagem mais eficaz deveria considerar:

Para os governos: Priorizar a manutenção e a melhoria das estradas existentes, cruciais para os PFNMs, em vez de construir novas estradas. O investimento direto em instalações descentralizadas de processamento e armazenamento beneficia as economias locais sem induzir mudanças em grande escala no uso da terra.

Para grupos de conservação: Apoiar iniciativas que fortaleçam a infraestrutura social - como a constituição de cooperativas extrativistas e posse segura da terra - que são tão essenciais quanto a infraestrutura física e são a base para uma economia florestal sustentável.

O futuro das economias florestais da Amazônia não está na abertura de mais estradas na floresta tropical. Está em investimentos mais inteligentes e direcionados que trabalhem com a floresta, e não contra ela. A experiência da Bolívia mostra que é possível ter florestas saudáveis e meios de subsistência prósperos baseados na floresta.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Esta pesquisa foi realizada no âmbito do projeto PRODIGY, financiado pelo Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF), número de subsídio 01LC1824A.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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