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Hamilton e o desgaste dos pneus no GP da Turquia de F1

Entenda como o processo de desgaste dos pneus intermediários foi decisivo para o resultado de Lewis Hamilton no GP da Turquia

11 out 2021 - 19h17
(atualizado às 19h21)
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Mecânico da Mercedes carrega pneu intermediário
Mecânico da Mercedes carrega pneu intermediário
Foto: Mercedes / Twitter

O Grande Prêmio da Turquia, realizado no último fim de semana, teve como fator decisivo a parada nos boxes tardia de Lewis Hamilton, que acabou por derrubá-lo do 3º para o 5º lugar e permitir a Max Verstappen abrir 6 pontos na liderança do campeonato. A decisão entre para e seguir na pista tomou ares dramáticos e foi crucial para o resultado. 

Hamilton havia largado em 11º por uma punição por trocar o motor, e precisou acelerar para subiu até o 5º lugar ainda nas 20 primeiras voltas. Valtteri Bottas e os dois carros da Red Bull, que iam todos à sua frente, pararam entre as voltas 37 e 38, enquanto Charles Leclerc parou na volta 47. Com isso, Hamilton subiu em 3º, e deu-se início à discussão entre ele e a equipe sobre qual caminho seguir: enquanto o piloto queria ir até o fim sem trocar os pneus, a Mercedes o orientava a trocá-los. 

Depois de muita conversa pelo rádio, Hamilton acatou a sugestão do time e entrou na volta 51, a 7 do fim. Voltou à pista em 5º, sem condições de brigar com Leclerc e Sergio Perez, que iam à sua frente, e precisando se defender de Pierre Gasly e Lando Norris, que vinham logo atrás. Após a corrida, Hamilton afirmou que havia se arrependido de obedecer a equipe e que deveria ter seguido o próprio instinto

Nessa segunda-feira (11), a história ganhou novos capítulos. A Pirelli, fornecedora de pneus da Fórmula 1, se manifestou através de seu diretor de F1, Mario Isola. O especialista afirmou à SkySports que os pneus de Hamilton não aguentariam até o fim da prova e que parar foi uma decisão acertada. 

Hamilton sai dos boxes com pneus novos
Hamilton sai dos boxes com pneus novos
Foto: Mercedes / Twitter

“Olhando para os pneus após a corrida, eu diria que não [aguentariam], ou pelo menos chegariam bem no limite”, afirmou Isola. “O desgaste dos pneus, principalmente no final da corrida, mostrava que eles estavam basicamente na estrutura. É perigoso acelerar até o limite assim, mas eu entendo completamente que, em condições de corrida, eles têm que maximizar os resultados.” 

Esteban Ocon, da Alpine, foi o único piloto que conseguiu levar os mesmos pneus da largada até o final da prova. A Mercedes analisou os tempos de volta de Ocon com os pneus gastos e concluiu que a queda de desempenho apresentada aconteceria também com Hamilton. Pela conclusão do time, Hamilton perderia as posições para Perez e Leclerc mesmo se não tivesse parado. 

Ao portal Autosport, o engenheiro de pista da equipe, Andrew Shovlin, explicou: “Se você olhar o Esteban [Ocon], ele foi ultrapassado pelo Lance [Stroll] a cinco ou seis voltas do fim e terminou 17 segundos atrás.” Shovlin temia essa queda de rendimento com Hamilton, e levou isso em conta para sugerir a parada: “Isso é o quão rápido acontece essa queda de desempenho, e era isso que tínhamos em mente”. 

Para ele, o risco de ficar na pista era maior que o de parar na volta 51: “Vamos repassar tudo e checar, mas temos quase certeza que teríamos perdíamos esses dois lugares [Perez e Leclerc]. Isso se não perdêssemos mais.” 

Como acontece o desgaste dos pneus intermediários? 

A corrida no Istanbul Park aconteceu em uma condição de pista bastante ingrata para os pneus. O asfalto com uma fina camada de água, como aconteceu nessa corrida, torna inviável o uso de pneus slick, mas os trilhos mais secos que se formam aquecem demais os intermediários, de modo que eles não trabalham em sua janela de temperatura ideal. 

Assim que os carros iam à pista, sem tanta água par escoar e, portanto, superaquecendo, os pneus intermediários novos entravam em uma fase que as equipes chamam em inglês de “graining”, algo que pode ser traduzido como granulação. Isso significa que nas primeiras voltas a borracha mais externa dos pneus vai, literalmente, se desmontando, e o carro fica bastante difícil de controlar. 

Os pneus de Ocon estavam a beira de estourar. Ele terminou a corrida sem trocá-los
Os pneus de Ocon estavam a beira de estourar. Ele terminou a corrida sem trocá-los
Foto: Esteban Ocon / Twitter

Assim que esses “macarrõezinhos” - para usar um termo que se popularizou nas transmissões televisivas nos últimos anos - começavam a sair, os pneus perdiam parte dos sulcos e ficavam mais lisos. Só então, depois de algumas voltas de uso, os pilotos encontravam melhor condição de aderência, e essa condição se mantinha estável por várias voltas. 

Isola, da fornecedora Pirelli, calcula que os pneus duraram em torno de 40 voltas nessas condições de estabilidade, por assim dizer. “Na maioria dos carros que pararam depois das voltas 47 ou 48, os pneus estavam completamente destruídos.” Depois desse período, o rendimento dos pneus caía vertiginosamente, como exemplo de Ocon ilustrou. 

Por que Lewis conseguiu se manter na pista em 2020 e não em 2021? 

Hamilton tentou repetir em 2021 algo que havia feito com sucesso na mesma pista em 2020. Na corrida do ano passado, ele se manteve na pista com intermediários gastos enquanto outros pilotos pararam para colocar novos, e acabou vencendo. 

Provavelmente com isso em mente, ele passou mais de 10 voltas insistindo no rádio que era melhor ficar na pista do que trocar os pneus, como lhe sugeria a Mercedes. A ideia era esperar mais até a pista secar para colocar slicks, ou ir até o fim, caso a superfície ainda estivesse molhada. 

Mas havia diferenças importantes entre as duas corridas. Em 2020, a prova começou com mais chuva, com os pilotos largando com pneus de chuva intensa. Hamilton só foi colocar os intermediários na volta 10 de 58. Ou seja, os compostos rodaram 10 voltas a menos do que ele pretendia em 2021. Além disso, a pista estava com asfalto novo e baixíssima abrasividade, algo que foi revisto para esse ano

Voltando à 2021, no momento em que a equipe começou a chamá-lo aos boxes, na volta 42, os pneus ainda estavam na janela de funcionamento ideal. Enquanto, os pilotos à frente ainda passavam pela fase de granulação, ou degradação da borracha, o ritmo de Hamilton era próximo ao deles. 

Hamilton e seus pneus intermediários já desgastados
Hamilton e seus pneus intermediários já desgastados
Foto: Petronas Motorsports / Twitter

“Acho que a 10 ou 12 voltas do fim, os tempos de volta [do Hamilton] estavam bem fortes, como os do Perez logo atrás, virando 34.6, 34.7. E, de repente, começaram a piorar”, afirmou Toto Wolff, chefe da Mercedes, ao site da F1 após à corrida. “Quando o Perez chegou à janela de funcionamento dos pneus e passou pela fase de granulação, perdíamos 1.5 a 2 segundos por volta, e ficou claro que iríamos perder as posições, e provavelmente também para o Leclerc e até o Gasly”. 

Com a parada na volta 51, apenas 7 para o fim, Hamilton não teve tempo para passar por toda essa fase de degradação dos pneus, e não chegou a usá-los nas condições ideais. Com isso, não pôde acompanhar Perez nem Leclerc. Tivesse parado quando a equipe sugeriu, possivelmente ele teria pneus em bom estado nas voltas finais e poderia tentar uma aproximação a ambos. 

Hoje, passado o calor do momento, Hamilton usou as redes sociais para assumir a responsabilidade pela decisão de ficar na pista e minimizou qualquer problema com a equipe. 

“Não é verdade que eu esteja furioso com a equipe”, escreveu em seus stories no Instagram. “Ontem, assumi o risco de ficar na pista esperando que a pista secasse. Não aconteceu. Eu quis arriscar e tentar ir até o fim. Foi minha decisão ficar e não deu certo. No fim, fizemos a parada e foi a coisa mais segura a se fazer.” 

Hamilton e a Mercedes ainda têm cinco corridas até o fim da temporada para tirar os 6 pontos de vantagem abertos por Verstappen na Turquia. Para isso, é preciso que voltem a entrar em sintonia, como aconteceu na Rússia recentemente. A próxima oportunidade será no fim de semana de 22 a 24 de outubro, no GP dos Estados Unidos. 

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