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Frank Williams, uma vida a 300 km/h na F1

Aos 79 anos, descansa um dos principais nomes do automobilismo mundial e marca para sempre a F1

29 nov 2021 - 09h13
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Definitivamente, um dos grandes da F1. Obrigado, Frank!
Definitivamente, um dos grandes da F1. Obrigado, Frank!
Foto: Williams F1 / Divulgação

A minha relação com a F1 começou em 1986. Esta foi a primeira temporada que acompanhei tendo noção das coisas. E me lembro de ter visto as imagens de um homem na cadeira de rodas nos boxes. Ao acompanhar a transmissão, a dupla Galvão Bueno e Reginaldo Leme dizia que aquele era o retorno de Frank Williams às pistas após seu quase fatal acidente no início daquele ano.

Do alto da minha ingenuidade dos meus 6 anos, era a primeira vez que tinha noção de ver alguém daquele jeito. E me chamou a atenção que ele buscava fazer alguma coisa ali, se fazer importante. Muitos anos depois tive a real noção de tudo que aconteceu e todo o esforço que aquela ida à Brands Hatch significava.

O tempo foi passando e cada vez mais aquele homem mostrava a sua tenacidade e era tão capaz que o fato de ter se tornado cadeirante não o limitava em relação à sua capacidade. Mas estas provas eram anteriores, desde a sua juventude. Mesmo sem tantos recursos, se lançou no mundo do automobilismo e conseguiu se impor nas fórmulas menores. Em 1969, concretizou o sonho de ter seu nome na F1.

No início desta jornada, Frank mostrou que era durão: teve que lutar com a morte de seu grande amigo Piers Courage. Depois, a estruturação de seu nome com muita luta com poucos recursos. Nesta época, também marcou o envolvimento com os brasileiros: José Carlos Pace foi seu piloto em 1972 e os irmãos Fittipaldi ajudaram com alguns motores em 1975. 

Em 1976, foi expulso da sua equipe por Walter Wolff e, do nada, montou uma nova equipe, que serviu como a base da potência que viria anos depois. Com Patrick Head, um técnico não muito inventivo, mas de uma enorme capacidade de trabalho, foram montando uma estrutura forte. Com o golpe dado para conseguir o apoio da monarquia árabe, Frank Williams viu sua equipe venceu sua primeira prova 2 anos depois e ganhar um título 3 anos depois.

O título de Alan Jones em 1980 colocou definitivamente a Williams em um círculo virtuoso e no grupo das equipes de frente. O acidente acontecido em 1986 justamente voltando de um teste de pré-temporada foi considerado por muitos que seria o fim. Mas na verdade, significou um novo começo.

Vieram os árabes, os japoneses, franceses, alemães....Frank Williams mostrou ser um ás nas negociações com parceiros e patrocinadores. Isso o fez fortalecer cada vez mais tecnicamente e financeiramente. Parecia que o céu era o limite....

Diz um velho sábio que o sucesso pode servir para fechar os olhos. E no meio dos 2000, isto pareceu se aplicar à Williams. Alguns dizem o momento em que a fortuna começou a abandonar Frank quando se recusou a deixar o controle do time diante da proposta da BMW em 2004. 

Não se pode dizer que não tentou-se mudar a realidade. Vieram pilotos, patrocinadores, técnicos...Mas poucos eram os momentos de felicidade. E aos poucos, Frank foi se afastando. Em 2011, com a abertura do capital do time, abriu mão de parte do comando. E em 2013, sua filha Claire assumiu o comando do time, embora neste momento, a Williams já tivesse uma estrutura mais profissional.

A esta altura, a presença da Frank nas pistas foi se tornando cada vez mais rara. Até mesmo na fábrica. A sua última grande aparição foi em Silverstone 2019, justamente quando se comemorou 50 anos da sua estreia na F1. Lewis Hamilton foi o condutor do velho garagista pelo traçado. 

As imagens mostram que, mesmo alquebrado, o fascínio pela velocidade estava lá. Ver a animação e os olhos brilhando com as peripécias do campeão foram belíssimas cenas para se guardar na memória. Pelo menos é esta que fica para mim. Como uma criança descobrindo um brinquedo novo pela primeira vez.

A morte de Frank Williams marca mais um prego no caixão da era dos “garagistas”. Embora tenha começado sua ação ainda nos ditos “tempos românticos”, talvez tenha sido um dos impulsionadores da tecnologia e da técnica na F1 e foi um dos precursores em termos de estrutura e também em diversificação de ações (a área de engenharia aplicada da Williams mostrou um grande valor nos anos 2000 e desenvolveu muitas coisas, indo de baterias para a F-E a novos desenhos para bancos e refrigeradores para supermercados).

O legado e seu nome ficarão para sempre. O descanso é merecido e mais uma corrida se inicia em outro lugar. Obrigado, Frank.

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