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Como foi o aguardado reencontro entre Interlagos e a F1

Com melhorias, autódromo voltou a receber a Fórmula 1 depois de um ano de ausência. Mesmo sendo um sucesso, evento ainda pode evoluir

17 nov 2021 - 23h14
(atualizado às 23h20)
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Arquibancadas lotadas para o GP de São Paulo
Arquibancadas lotadas para o GP de São Paulo
Foto: Mercedes / Twitter

2020 foi o primeiro ano desde 1990 em que o principal autódromo da América do Sul e a categoria máxima do automobilismo mundial não se encontraram. Com a pandemia mais sob controle, a Fórmula 1 voltou à Interlagos em 2021. E foi um reencontro memorável! 

Na pista, como já abordamos no Parabólica em outros artigos, Lewis Hamilton teve uma atuação histórica, homenageou o Brasil e Ayrton Senna de forma emocionante e deu uma aula de pilotagem, digna de honrar o mítico palco brasileiro da Fórmula 1. 

E fora da pista?

Pois bem, Interlagos finalmente recebeu a F1 com o novo paddock coberto, concluindo obra que se iniciou em 2014 e compreendeu boxes, escritórios das equipes e torre de controle. O telhado faz o paddock de Interlagos ser o único 100% coberto do calendário. 

O paddock coberto de Interlagos
O paddock coberto de Interlagos
Foto: Luís Gustavo Ramiro

A inovação é a cereja do bolo do novo paddock de Interlagos. A estrutura para as equipes ainda é relativamente pequena, principalmente quando comparada a com circuitos modernos, amplos e construídos em terrenos vazios e planos. Mas estamos falando de um autódromo de mais de 70 anos, encrustado na malha urbana e em um terreno de relevo bastante acidentado. Se o paddock não é um latifúndio, ao menos a qualidade e a organização das estruturas atendem às necessidades da F1 atual. Algo que não poderia ser dito das estruturas anteriores à reforma, já bastante defasadas. 

Em razão da pandemia, a Fórmula 1 limitou o acesso ao paddock e áreas comuns. O credenciamento foi restrito a menos jornalistas que o habitual e poucos convidados puderam estar no paddock. Quando houver maior credenciamento de profissionais e convidados, o que deve acontecer a partir do ano que vem, pode-se começar a voltar a ficar mais evidente o acanhamento do espaço. 

A largada do GP de São Paulo
A largada do GP de São Paulo
Foto: Petronas Motorsport / Twitter

O mais importante é que, em conversa com alguns membros de equipes e jornalistas estrangeiros, não notamos nenhuma reclamação mais grave. O próprio CEO da Fórmula 1 elogiou a pista e sua estrutura. Seguramente há margem para melhorias, mas não parece haver a necessidade de reformas urgentes ou mais profundas. 

Pandemia

O Grande Prêmio de São Paulo foi o maior evento do Brasil desde o início da pandemia. O Governador do Estado, João Dória (PSDB), fez questão de frisar em entrevista concedida no domingo (14) que só pessoas vacinadas teriam acesso ao autódromo. Para garantir que isso acontecesse, a organização exigiu que todos os presentes baixassem um aplicativo e inserissem nele os dados da vacinação que receberam. 

As opiniões foram mistas. As pessoas que estiveram nas arquibancadas com quem essa reportagem conversou relataram não ter nenhum problema para baixar o app ou apresentar o QR code gerado por ele na entrada. Nas redes sociais, no entanto, não foi difícil encontrar quem reclamasse de dificuldades na instalação do app, bem como demora excessiva na entrada em razão da necessidade de apresentar o QR code. Outros, desavisados, não tinham o app, o que gerou transtornos nos acessos. 

Público ocupa a Reta dos Boxes durante a cerimônia de pódio
Público ocupa a Reta dos Boxes durante a cerimônia de pódio
Foto: Beto Issa / GP Brasil

Para quem fosse trabalhar no evento, ainda se fazia necessária a instalação de um outro aplicativo, global, que é usado em todas as demais etapas. Os muitos documentos que precisaram ser assinados antes de se retirar a credencial apontavam a necessidade de todos os presentes nas áreas internas fazerem um exame PCR na entrada de Interlagos.

Nas arquibancadas

A impressão de que o público foi maior que o das últimas edições do GP Brasil se confirmou: segundo a organização, 181.711 pessoas giraram as catracas nos três dias de evento, superando recorde oficial de 2001, quando cerca de 174 mil pessoas estiveram presentes na vitória de David Coulthard. Nas edições mais recentes, foram 158 mil em 2019 e 150 mil em 2018. E a organização planeja aumentar a capacidade de público já para o ano que vem

Norris em frente ao Setor G das arquibancadas de Interlagos
Norris em frente ao Setor G das arquibancadas de Interlagos
Foto: McLaren / Twitter

Difícil apontar um único fator para explicar o aumento de popularidade da Fórmula 1. A tão falada série da Netflix, Drive To Survive, certamente ampliou o alcance da categoria, bem como sua maior presença nas redes sociais. Reflexo disso foi notar um público mais jovem e seguramente, com muito mais presença feminina que em anos anteriores. Uma necessária oxigenada no perfil do torcedor, que expande os horizontes da categoria e pode ser a chave para garantir a perenidade da F1 para o futuro. 

Há ainda o fato de não ter havido corrida por aqui em 2020, o que pode ter contribuído para que o público ficasse com saudade de ver ouvir tudo ao vivo. Mas, claro, a acirrada disputa pelo título entre Lewis Hamilton e Max Verstappen atraiu uma atenção que há tempos a F1 não tinha, o que, certamente, chamou gente para o autódromo. E o público brasileiro viveu bem essa rivalidade. 

Hamilton cumprimenta torcida em Interlagos
Hamilton cumprimenta torcida em Interlagos
Foto: Mercedes / Twitter

Hamilton, que se declarou para o Brasil desde o início das atividades da etapa de São Paulo, teve o maior apoio. Sua atuação foi exaltada pelos espectadores, que vibraram efusivamente em cada uma das 25 ultrapassagens feitas pelo britânico. O piloto levou as arquibancadas à loucura - e às lágrimas - ao erguer a bandeira brasileira de dentro do carro e no pódio. Verstappen e a Red Bull também tiveram apoio expressivo, mas certamente menor que o de Hamilton. Em mais de uma oportunidade, o holandês teve que ouvir algumas vaias. 

Não faltaram os tradicionais cantos de “Senna”, os bandeirões do setor G e a festa do público brasileiro. Mas também não faltaram alguns – igualmente tradicionais - problemas para quem faz essa festa acontecer: filas excessivas, desorganização para compra de alimentos, bebidas e produtos. Ouvimos relatos de mais de uma fonte que algumas arquibancadas ficaram sem água para vender ao público por diversos momentos. Podem não ser problemas dos mais graves, mas que poderiam, há muito, estar resolvidos. 

Festa da torcida em Interlagos
Festa da torcida em Interlagos
Foto: F1 / Instagram

Deu tudo certo? 

No cômputo geral, o GP de São Paulo foi um sucesso. O traçado de Interlagos segue sendo um dos favoritos dos pilotos e proporcionou uma das corridas mais interessantes dos últimos tempos. Para a F1, isso significa audiência e engajamento, chaves do sucesso comercial. 

Há espaço para melhoria, principalmente no que diz respeito ao serviço ao torcedor. Mas a estrutura para as equipes, que já foi um problema no passado, atende às necessidades a contento. 

E o público brasileiro segue se mantendo fiel e apaixonado pelo esporte, mesmo sem um piloto local para torcer. Ou será que o Hamilton já pode tirar a nacionalidade brasileira e virar, de fato, o piloto da casa

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