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Carlos Sainz está (mesmo) pronto para correr na Ferrari?

Nossa colunista Priscila Cestari relembra a trajetória de Sainz na F1 até chegar numa Ferrari em crise e sedenta por vitórias

21 dez 2020 - 10h25
(atualizado às 11h18)
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Carlos Sainz chega à Ferrari aos 26 anos e tenta se familiarizar com os membros da Scuderia.
Carlos Sainz chega à Ferrari aos 26 anos e tenta se familiarizar com os membros da Scuderia.
Foto: Ferrari / Divulgação

Carlos Sainz esteve em Maranello na última semana para a primeira visita à nova equipe e fazer o molde do assento do Ferrari SF21, carro que irá pilotar na temporada 2021. O piloto da Scuderia Ferrari será o companheiro de Charles Leclerc para formar a dupla mais jovem da equipe italiana desde 1968. Na fábrica, conheceu alguns dos engenheiros e mecânicos com quem irá trabalhar, além de participar de um almoço virtual oferecido aos jornalistas, acompanhado do companheiro e do chefe da equipe, Mattia Binotto.

Depois de ter passado as duas últimas temporadas na McLaren e vivendo na Inglaterra, Sainz chega na Itália como piloto Ferrari e, certamente, entendendo o que isso significa para os tifosi. Lidar com os torcedores mais apaixonados da Fórmula 1 é mais um dos desafios a serem enfrentados aos 26 anos, em uma nova equipe.

Mas, o que se espera do espanhol depois de vestir um macacão e entrar em um carro da Ferrari? Antes de falar disso, precisamos voltar no tempo e relembrar como foi a dança das cadeiras, ou melhor, dos cockpits.

No dia 12 de maio, a Ferrari anunciou que Sebastian Vettel estaria fora dos planos da equipe para a próxima temporada. À época, a versão oficial era a de que o tetracampeão e o time italiano haviam decidido, em comum acordo, pela não renovação do contrato. Mas o alemão desmentiu essa história antes do GP da Áustria, em julho, quando contou que foi avisado por Binotto, por telefone, de que não havia interesse em continuar com ele. E que em nenhum momento houve negociação de contrato ou valores envolvidos.

Leclerc, Binotto e Sainz: na teoria, não existe primeiro piloto em 2021.
Leclerc, Binotto e Sainz: na teoria, não existe primeiro piloto em 2021.
Foto: Ferrari / Divulgação

Dois dias depois, a McLaren anunciou Daniel Ricciardo como companheiro de equipe de Lando Norris em 2021. Horas depois, foi a vez da Ferrari anunciar Carlos Sainz como piloto da próxima temporada para ser o companheiro de Charles Leclerc. Isso tudo aconteceu antes mesmo de a temporada da F1 começar, já que a primeira prova, que seria disputada na Austrália, em março, foi adiada em decorrência da pandemia de Covid-19.

Ano amargo da Ferrari

Quando Sainz foi anunciado na Ferrari, equipe vice-campeã de 2019, não se esperava que a escuderia de Maranello pudesse ir tão mal no campeonato e ficar fora das principais disputas em 2020. Das 17 corridas nesta temporada, não pontuou em seis e ficou em 6º lugar no mundial de construtores com 131 pontos. Uma diferença de 50 pontos atrás da Renault, a quinta colocada no campeonato.

O último ano de Vettel na Ferrari foi mesmo para apagar do passado: terminou na 13ª colocação, com 33 pontos, e a melhor posição do ano foi o 3º lugar em Istambul, na Turquia. Um pódio surpreendente, na verdade, depois de largar na 11ª posição e aproveitar um erro do companheiro de equipe na volta final. O alemão não ficava entre os três primeiros desde a segunda colocação no GP do México, em 2019.

Em comparação a Vettel, Charles Leclerc teve um ano bem melhor, apesar dos problemas do SF1000 serem visíveis desde o início dessa temporada. O monegasco conquistou o 2º lugar na primeira corrida, na Áustria, e o 3º no GP da Inglaterra. E foram mais três quartos lugares nas corridas do 70º aniversário da F1, em Silverstone, em Portimão (Portugal) e em Istambul (Turquia). Pontuando em 10 das 17 provas, concluiu o campeonato em 8º lugar, com 98 pontos.

Sainz esteve em Maranello para fazer o molde do banco de seu próximo carro.
Sainz esteve em Maranello para fazer o molde do banco de seu próximo carro.
Foto: Ferrari / Divulgação

Enquanto isso, o futuro piloto da Ferrari seguia trabalhando na McLaren, ao lado do companheiro Lando Norris. A parceria, amizade e o respeito entre os pilotos era visível, dentro e fora da pista. Além da competência de ambos, certamente esses também foram fatores que levaram a equipe inglesa a alcançar o 3º lugar no campeonato mundial de construtores, com 202 pontos, o melhor resultado desde 2012, chegando à frente da Racing Point. 

Norris e Sainz conquistaram pódios para a equipe, na Áustria e em Monza, respectivamente, e ao final da temporada, ficaram separados por apenas oito pontos: Sainz terminou o mundial em 6º com 107 pontos e Norris, em 9º lugar, com 97 pontos. E o 2º lugar do piloto espanhol no GP da Itália também foi o seu segundo pódio na Fórmula 1. Esteve bem perto de ser primeira vitória se não fosse Pierre Gasly resistir fortemente ao ataque de Sainz em Monza, cruzando a linha de chegada apenas 0s415 à frente do espanhol.

Sainz na Fórmula 1

Agora, voltamos um pouco mais no tempo para conhecer a trajetória de Carlos Sainz Jr. na Fórmula 1.

Piloto do programa de jovens da equipe Red Bull e que em 2014 havia conquistado o campeonato de Fórmula Renault 3.5, foi no ano seguinte, aos 20 anos, 6 meses e 14 dias, em que Sainz estreou na equipe Toro Rosso. Tornou-se companheiro de Max Verstappen, formando a dupla mais jovem que uma equipe já teve em toda a história da categoria. Na época, o holandês tinha apenas 17 anos. Em 2016, teve como melhores resultados três sextos lugares: na Espanha, Estados Unidos e no Brasil, terminando o campeonato na 12ª posição com 46 pontos.

No final de 2017, quando estava evidente que a promoção para a equipe principal, a Red Bull, não deveria acontecer, e que a Toro Rosso passaria a ter, em 2018 a Honda como fornecedora de motores, como parte de um acordo, Sainz foi emprestado para a equipe de fábrica da Renault, que passou a ser fornecedora das unidades de potência da McLaren.

Carlos comemora umas das boas colocações que obteve pela McLaren.
Carlos comemora umas das boas colocações que obteve pela McLaren.
Foto: Ferrari / Divulgação

O espanhol ainda correu as quatro provas finais da temporada de 2017 pela Renault, substituindo Jolyon Palmer no time francês, e permaneceu na equipe até o final de 2018, quando foi contratado pela McLaren para substituir Fernando Alonso, que se aposentava da categoria. Na temporada de 2019, terminou na sexta colocação com 96 pontos e um pódio, conquistado em Interlagos. Apesar de ter cruzado a linha de chegada na quarta posição, herdou o terceiro lugar com a punição dada a Lewis Hamilton após o final da corrida.

Sainz na Scuderia Ferrari

Podemos pensar que a ida de Sainz para a Ferrari, neste momento, foi a melhor opção?

Pelo o que apresentou nas duas últimas temporadas na McLaren, o espanhol de 26 anos tem competência para assumir o novo desafio, em um contrato que, inicialmente, está acertado para duas temporadas. Além disso, será o terceiro espanhol a competir pela equipe italiana. Antes dele, Fernando Alonso (2010-2014) e o Marquês Alfonso de Portago, que correu cinco vezes na Fórmula 1 para a equipe entre 1956 e 1957, passaram pela Ferrari.

A equipe de Maranello certamente confia no talento de Sainz para voltar a vencer, não somente as corridas, mas o campeonato mundial e o de construtores. Para se ter uma ideia, a equipe com sete décadas na Fórmula 1 não celebra um título de pilotos desde 2007, com Kimi Raikkonen, e o mundial de construtores, em 2008. A última vitória da Ferrari foi no GP de Cingapura, em 2019, com Sebastian Vettel. O alemão, por exemplo, deixa a equipe após seis temporadas, 114 corridas e 14 vitórias.

Carlos pede ajustes para ter a melhor visão da pista dentro do carro.
Carlos pede ajustes para ter a melhor visão da pista dentro do carro.
Foto: Ferrari / Divulgação

Pode-se dizer que é tempo demais para se esperar quando uma equipe é acostumada a dominar a categoria: são 15 títulos do campeonato mundial de pilotos e 16 de construtores. Mesmo quando a equipe contratou Alonso e Vettel, campeões mundiais, os italianos não conseguiram transformar o sonho em realidade na fábrica de Maranello. Nem mesmo bater a Mercedes, atual heptacampeã de construtores.

Embora Charles Leclerc esteja iniciando a terceira temporada na equipe italiana, temos que lembrar que Sainz, apesar de mais experiência como piloto de F1, está chegando para a primeira temporada. Mattia Binotto deixou claro que não há piloto número 1 e que a prioridade da Ferrari sempre será maximizar os pontos dos construtores no campeonato e, que ao priorizar os interesses da equipe, entende que isso também ajuda o objetivo dos pilotos. Aguardemos. A pressão por melhores resultados da equipe será grande, sem dúvida, mas poderemos dizer melhor o que realmente aconteceu entre Sainz e Leclerc somente no final da próxima temporada.

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