Análise: Hyundai Creta de 7 lugares não passa de um sonho

REPÚBLICA DO AUTOMÓVEL -- O efeito manada é uma realidade em vários aspectos da vida humana. E um deles é o jornalismo especializado em carros, especialmente na internet. Basta uma notícia sair num site para que vários outros a repliquem, acrescentando suas considerações. Um dos assuntos de hoje foi um suposto Hyundai Creta de sete lugares na mudança de geração do SUV compacto coreano. Mas, pelo menos considerando o que a foto revela, não se deve acreditar nisso.

Uma foto revelada num site coreano foi o estopim para o nascimento do Creta de sete lugares. A foto realmente revela a existência de uma vigia depois da porta traseira, mas nada justifica a argumentação de que o carro terá uma terceira fileira de bancos. Um dos detalhes citados pela imprensa brasileira foi o fato de o balanço traseiro ser maior. Não é. A foto mostra o balanço traseiro do carro tão curto como é atualmente. Balanço é a distância entre o centro da roda e a extremidade do carro.

O Hyundai Creta atual tem 4,27 m de comprimento. A nova geração do Hyundai ix25 (do qual o Creta é derivado) já foi lançada na China e é um pouco maior: 4,30 m. A distância entre-eixos também cresceu, de 2,59 m para 2,61. No primeiro caso, estamos falando de 3 cm a mais; no segundo, de 2 cm. Parece pouco para justificar uma terceira coluna de assentos. Para se ter uma ideia, o Chevrolet Spin de sete lugares tem 4,41 m de comprimento e 2,62 m de entre-eixos. Vende cerca de 1.500 unidades/mês. O Volkswagen Tiguan e o Hyundai Santa Fe, carros de sete lugares, têm 4,70 m e 4,77 m de comprimento, respectivamente, com entre-eixos de 2,79 m e 2,77 m.

É verdade que oito anos atrás (2012), a GM vendia no Brasil o Chevrolet Zafira com sete lugares. Ele media 4,33 m de comprimento e 2,70 m de entre-eixos. O espaço era bem apertado. Considerando tudo isso, até é possível fazer um carro de sete lugares com 4,30 m e 2,61 m de entre-eixos. Para tanto, seria necessário reduzir a área do capô, para ganhar espaço interno. Porém, comparando o carro com disfarce e o atual Creta, parece que ocorreu exatamente o contrário: a base do parabrisa parece estar mais recuada em relação ao centro da roda dianteira. 

Finalmente, uma questão de mercado: qual seria o ganho para a Hyundai em criar uma nova geração do Creta com sete lugares para o Brasil e outros mercados se na China, o país mais populoso do mundo, o carro tem cinco lugares? Ou ainda: qual seria o custo dessa modificação, num momento em que a indústria do mundo inteiro tenta padronizar até o menor parafuso para ganhar em escala? Por tudo isso, algo me diz que o Creta de sete lugares é só um sonho mesmo.