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Mostra 'Violência em Preto e Branco' abre as comemorações do centenário da Semana de 1922

Fruto de uma profunda imersão no tema durante três anos, a instalação do artista visual Alvo ocupa, durante um mês, a Oficina Cultural Oswald de Andrade, no bairro do Bom Retiro

10 jan 2022 - 14h08
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Imagem do artista Alvo, idealizador da Mostra Violência em Preto e Branco. Ele é um homem negro e usa cabelo dread com turbante.
Imagem do artista Alvo, idealizador da Mostra Violência em Preto e Branco. Ele é um homem negro e usa cabelo dread com turbante.
Foto: Rafael Berezinski / Alma Preta

A instalação 'Violência em Preto e Branco', concebida pelo artista visual Alvo, foi escolhida para abrir, desde a última quarta-feira (5), as comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Durante um mês, no Bom Retiro, em São Paulo, a mostra se propõe a conduzir o visitante a uma experiência audiovisual imersiva para chamar a atenção para a questão da violência.

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um divisor de águas na produção das artes plásticas no país ao romper padrões não apenas artísticos, mas também sociais e políticos. Alinhada a essa proposta que confrontou as ideologias e a estética da época, a instalação idealizada pelo artista e ativista Alvo convida o público a rever as relações humanas, sobretudo as que ocorrem cotidianamente no ambiente doméstico que, em teoria, seria o lugar mais seguro onde se poderia estar.

"Nunca foi tão urgente e necessário revisitar o lar e rever padrões, pois a violência doméstica no Brasil aumenta de forma exponencial todos os dias, sobretudo após o longo período de isolamento imposto pela pandemia de Covid-19, atingindo pessoas da infância à vida adulta, tendo vítimas de todos os gêneros, idades, raças e condições socioeconômicas. O pior, nesse triste contexto, é que a violência foi romantizada, pois, afinal, amor não dói", afirma Alvo.

Repleta de crítica social, a exposição é resultado de três anos de estudos sociológicos, de laboratórios de rua na Cracolândia, de bate-papos com pessoas em situação vulnerável e de convívio direto com vítimas de abuso. Todas as obras foram produzidas, majoritariamente, com materiais recicláveis e captados no próprio Bom Retiro e em outras áreas da região central de São Paulo.

Outro destaque é a expografia da mostra, construída com arames e cordas em forma de um labirinto instalado no pátio central do espaço cultural. As laterais são cobertas de tecido preto, assim como a passarela de entrada que leva ao saguão da Oficina Cultural Oswald de Andrade, um programa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo e gerenciado pela organização social de cultura Poiesis.

Para o artista, a instalação, em sua totalidade, é um protesto que tem por objetivo sensibilizar e despertar no público valores como respeito, educação, empatia e solidariedade.

"Assim como esse acontecimento de um século atrás [Semana de 1922] quebrou paradigmas, eu quero romper barreiras artísticas pré-concebidas e inflar nas pessoas, por meio da minha arte, a tomada de atitudes. Eu canalizo minhas respostas aos atos de violência me expressando pela arte. Quero que essa mostra seja um ponto de reflexão, que as pessoas olhem mais para dentro de si, julguem menos e percebam mais o próximo", pontua o artista.

Denunciar uma realidade violenta

Obra da série 'Parto de Vida' | Crédito: Rafael Berezinski

De acordo com números divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram 694.131 ligações relacionadas à violência doméstica no número 190, da Polícia Militar, em 2020, o que significa que a cada minuto desse ano, 1,3 chamados foram de vítimas ou de terceiros pedindo ajuda em função de um episódio de violência doméstica. Além disso, de acordo com o relatório, foram 6.416 mortos em intervenções de policiais em 2020, sendo 98% do sexo masculino e 78% negros.

Para Andrea Dantas, curadora da mostra, a pesquisa desenvolvida por Alvo foi motivada pela invisibilidade e crueldade da violência doméstica. "O objetivo deste trabalho é denunciar a dolorosa realidade enfrentada por muitas famílias que, de forma silenciosa, são violentadas ou morrem todos os dias pelo simples fato de existirem, e tudo isto é normalizado pela manutenção da estrutura machista e patriarcal", afirma.

Valdir Rivaben, coordenador da Oficina Cultural Oswald de Andrade, afirma que a exposição também convida as pessoas a refletirem sobre seu papel numa sociedade em que a violência velada dentro das casas é alta e com consequências horríveis para todos. "Uma experiência a ser fruída por todos aqueles que desejam ver e ser a mudança em suas comunidades", completa.

Para Alvo, a inclusão das palavras 'preto' e 'branco' no nome da exposição tem um significado. "É uma referência ao luto gerado pela violência diária e à paz que tanto se faz necessária", conclui.

A instalação 'Violência em Preto e Branco' seguirá todos os protocolos de segurança exigidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Todos os visitantes terão acesso a informações sobre projetos que apoiam vítimas de violência, como assistência social, jurídica, psicológica e social gratuitamente.

Artista e ativista

Alvo nasceu e cresceu no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Formou-se em 2016 em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo (USP), mas, desde a infância, já se interessava por desenhos e pinturas. Aos 15 anos de idade, envolve-se ativamente em protestos, manifestações e ações de voluntariado dos mais diversos segmentos da sociedade.

Após a conclusão da graduação iniciou sua vida profissional em variados setores, tendo trabalhado como assistente de produção no São Paulo Fashion Week e de cenografia para teatro e televisão. Migrou, depois, para o design de móveis e objetos de decoração, atuando com profissionais como Elissandro Rabelo e Valter Nu.

Leia mais: 'Vem para a praça': Edital seleciona artistas e grupos culturais de Maceió

Serviço

'Violência em Preto e Branco'

Onde: Oficina Cultural Oswald De Andrade

Endereço: Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo

Quando: 5 de janeiro a 5 de fevereiro de 2022

Ingresso: Gratuito

Visitas: De segunda a sexta-feira, das 10h às 21h; aos sábados, das 11h às 18h

Acessibilidade: rampa de acesso para cadeirantes

Curadora: Andréa Mendes

Indicação: Maiores de 16 anos

Curadoria Musical: Allure

Produção: Valessa Fagundes

Assistente de arte: Jade Trindade

Rede social: @violencia_pretobranco

Alma Preta
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