Trump promete "boom econômico" antes de ano eleitoral
Presidente dos EUA enaltece feitos de sua gestão em meio a desempenho econômico ruim e alta dos preços. Em baixa nas pesquisas, republicano culpa Joe Biden e promete melhorias, temendo perder maioria no Congresso.Em um raro pronunciamento noturno da Casa Branca nesta quarta-feira (17/12), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma série de elogios à sua gestão e atribuiu a culpa pelos problemas do país ao seu antecessor, enquanto seu partido se prepara para uma difícil eleição de meio de mandato no próximo ano.
"Há onze meses, herdei uma bagunça e estou tendo que consertar", disse Trump em um discurso proferido em ritmo surpreendentemente acelerado que durou pouco menos de 20 minutos.
O republicano, que frequentemente se queixa de não receber o devido crédito por suas realizações, ofereceu poucas soluções políticas para lidar com os preços altos no país. Ao contrário, seu discurso, transmitido de uma sala enfeitada com decoração natalina, foi marcado por um forte tom de lamúrio.
Ele culpou o democrata Joe Biden, que o antecedeu no cargo, por uma suposta invasão de migrantes , pela alta dos crimes violentos , pelos direitos transgêneros e por acordos comerciais anteriores, descrevendo o que chamou de um sistema corrupto.
Trump criticou Biden por permitir que os Estados Unidos fossem "invadidos por um exército de 25 milhões de pessoas" durante seu mandato - números que os republicanos utilizam desde meados de 2024, quando Trump estava em campanha presidencial, e que já foram amplamente desmentidos por verificadores de fatos.
Estima-se que cerca de 7,4 milhões de imigrantes indocumentados cruzaram ilegalmente a fronteira dos EUA durante o governo Biden. Se incluídos os imigrantes irregulares que entraram no país através dos postos de controle legais, esse número subiria para pouco mais de 10 milhões de pessoas, de acordo com a emissora NBC e outros veículos de imprensa americanos.
Discurso oferece poucas soluções
Trump elogiou o trabalho de seu governo em 2025 em uma série de questões, desde a diminuição das travessias de fronteira até a redução dos preços de alguns produtos, e prometeu que o país estará mais forte no próximo ano.
O presidente destacou seus esforços para reforçar a segurança na fronteira e mencionou deportações em massa, afirmando que seu governo estava removendo criminosos do país.
Entre as poucas iniciativas políticas mencionadas no discurso, Trump anunciou que seu governo enviaria um "dividendo aos guerreiros" de 1.776 dólares (R$ 9,8 mil) para 1,45 milhão de militares americanos na próxima semana. Ele também apoiou uma proposta republicana para enviar dinheiro diretamente à população para compensar os custos dos seguros de saúde, em vez de fornecer subsídios por meio do Affordable Care Act (Lei de Acesso à Saúde). Essa proposta, no entanto, ainda não recebeu apoio suficiente no Congresso.
"Quero que o dinheiro vá diretamente para as pessoas para que vocês possam pagar seu próprio plano de saúde", disse Trump, afirmando que "os únicos perdedores serão as seguradoras."
De maneira surpreendente, ele dedicou pouco tempo a assuntos externos, tema que ocupou grande parte do primeiro ano de seu segundo mandato. O líder americano fez uma breve menção à guerra na Faixa de Gaza , mas não mencionou o conflito na Ucrânia ou as tensões envolvendo a Venezuela .
"Boom econômico" em 2026?
Embora tenha culpado a presidência de Biden, Trump admitiu que os preços continuam altos, mas argumentou que o país estava preparado para um "boom econômico". "Estou reduzindo esses preços altos, e reduzindo-os muito rapidamente", afirmou.
Trump disse ter atraído 18 trilhões de dólares em investimentos que criarão empregos e abrirão fábricas, creditando os avanços principalmente a sua política tarifária. "Há um ano, nosso país estava morto [...] agora, somos o país mais atraente do mundo."
Ele culpou os democratas por lhe entregarem um "desastre inflacionário", "o pior da história do nosso país", e disse que os preços estão caindo rapidamente.
Isso, no entanto, não se reflete nos números da inflação, que vinham caindo durante os primeiros meses da presidência de Trump, mas voltaram a subir depois que o presidente anunciou suas tarifas em abril.
Os dados sobre a inflação estão praticamente nos mesmos patamares de quando ele assumiu o cargo, após terem caído significativamente antes do fim do mandato de Biden.
O índice de preços ao consumidor foi de 3% em setembro, a mesma taxa de janeiro, um ligeiro aumento em relação aos 2,9% de dezembro, o último mês completo de Biden no cargo.
Em uma pesquisa da AP-Norc deste mês, a grande maioria dos adultos americanos disse ter notado nos últimos meses preços mais altos do que o normal para alimentos, eletricidade e presentes de Natal.
Eleição de meio de mandato
Trump prometeu melhoras para o próximo ano, citando suas políticas tributárias, tarifas e planos para substituir o presidente do Federal Reserve, o Banco Central americano.
Essas seriam boas notícias para os correligionários de Trump, que devem enfrentar dificuldades para manter o controle da Câmara dos Representantes e do Senado nas eleições de novembro de 2026. Quase um ano antes do pleito, os democratas já destacam preocupações com a acessibilidade financeira e em relação à política de saúde.
A política tarifária de Trump criou incertezas e elevou os preços no país. Trump, assim como Biden antes dele, tem lutado para convencer os americanos de que a economia está saudável.
O discurso ocorreu apenas um dia antes de uma muito aguardada atualização dos dados da inflação no país, divulgada pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho. Depois de atingir a mínima de quatro anos, de 2,3%, em abril, apenas três meses após o início do segundo mandato de Trump, a inflação anual vem aumentando gradativamente.
De modo geral, dados recentes do governo mostram que o crescimento da economia teve uma leve recuperação após a contração registrada nos primeiros meses do ano. No entanto, os números também mostram que o crescimento do emprego desacelerou durante o segundo mandato de Trump. O desemprego subiu para o nível mais alto em quatro anos e os preços ao consumidor permanecem altos.
"Triste tentativa de distração"
Uma nova pesquisa Reuters/Ipsos divulgada nesta terça-feira mostrou que apenas 33% dos adultos americanos aprovam a forma como Trump lidou com a economia.
Após o discurso, os democratas disseram que Trump ofereceu poucas soluções para as preocupações dos americanos.
O senador Mark Warner, da Virgínia, chamou o discurso de "uma triste tentativa de distração", enquanto o governador da Califórnia, Gavin Newsom, potencial candidato democrata à Presidência em 2028, simplesmente postou a palavra "eu" - se referindo a Trump - mais de 700 vezes.
rc/md (AP, Reuters, DW)