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Se Plutão voltasse a ser um planeta, 100 objetos do Sistema Solar também seriam

9 mai 2018 - 17h10
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Desde 2006, Plutão deixou de ser considerado um planeta no Sistema Solar, sendo rebaixado à categoria de planeta-anão. Desde então, há muita polêmica quanto à decisão, com uma legião de fãs do planetinha protestando para que ele volte a ser o nono planeta do nosso quintal espacial. A coisa tomou nova força depois da missão New Horizons que, em 2015, se dedicou a estudar Plutão e suas luas, trazendo uma imensidão de novas informações sobre o "injustiçado".

"Quando vemos um planeta como Plutão, com suas estruturas familiares - montanhas de gelo, um céu azul com camadas de nuvens - nós naturalmente nos vemos usando a palavra 'planeta' para descrevê-lo", disseram David Grinspoon e Alan Strern, que participaram da missão New Horizons. Kirby Runyon, da Universidade Johns Hopkins, concorda: "Há um poder psicológico na palavra 'planeta' que ajuda as pessoas a entenderem que aquele é um lugar importante no espaço", disse à Vox. Runyon analisou dados geológicos da New Horizons, e disse, ainda, que ficou "estupefato com a beleza e a diversidade geológica de Plutão, bem como de sua lua Caronte".

Agora, Runyon, junto a Stern e outros colegas da New Horizons, estão encabeçando a ideia de se redefinir o que um objeto espacial precisa ter para ser considerado um planeta propriamente dito. A nova definição reconheceria características geológicas surpreendentes em objetos espaciais tanto grandes, quanto pequenos. O problema, aqui, é que, com as novas definições, pelo menos 100 outros objetos do Sistema Solar acabariam também sendo considerados como planetas.

Esses objetos estão, principalmente, no Cinturão de Kuiper, perto de onde Plutão reside. Então, caso ele volte a ser chamado de planeta de verdade, será necessário rever a definição de todos esses outros objetos que têm dimensões, massa e características similares.

O Cinturão de Kuiper abriga objetos que, segundo a nova definição, também seriam planetas, como Plutão, Eris, Makemake e  Haumea (Imagem: NASA)
O Cinturão de Kuiper abriga objetos que, segundo a nova definição, também seriam planetas, como Plutão, Eris, Makemake e Haumea (Imagem: NASA)
Foto: Canaltech

O que é um planeta, segundo a definição oficial

De acordo com a definição oficial usada pela União Astronômica Internacional (IAU), planeta é o objeto que:

  • Orbita o Sol, mas não é um satélite de outro planeta
  • É esférico
  • Não compartilha sua órbita com nenhum outro objeto espacial significativo

Como a definição não leva em conta os exoplanetas que estão sendo descobertos (ou seja, planetas que orbitam outras estrelas além do Sol), Stern e Grinspoon entendem que a definição oficial faz com que "essencialmente todos os outros planetas do universo não sejam, de fato, planetas".

Mas também há críticas quanto ao terceiro item, sendo que alguns cientistas planetários acreditam que esse componente é vago e, até mesmo, inútil. Então, Runyon decidiu elaborar uma nova definição do que é um planeta, que ele acredita ser mais apropriada. Segundo as ideias do especialista, um planeta deveria ser "um corpo de massa sub-estelar que nunca foi submetido à fusão nuclear e que possui autogravitação suficiente para assumir uma forma esferoidal, independentemente de seus parâmetros orbitais".

Contudo, essa definição, ainda que eleve Plutão à categoria de planeta novamente, acaba fazendo com que satélites naturais também sejam considerados planetas, incluindo a nossa Lua e todas as outras luas redondas do Sistema Solar. Sendo assim, Plutão voltaria a ser um planeta, mas sua lua Caronte também.

O debate continua

Entre os grandes nomes que se opõem à classificação de Plutão como planeta está o astrofísico Neil deGrasse Tyson, que retrucou os argumentos de Runyon em um programa de TV no ano passado, e constantemente é abordado para falar a respeito por aí. Entre os contra-argumentos, está o fato de que Plutão às vezes atravessa a órbita de Netuno, e isso não é um comportamento de um planeta.

Já Mike Brown, que descobriu alguns dos objetos do Cinturão de Kuiper que fizeram com que Plutão fosse rebaixado, disse que "ninguém quer que a Lua seja um planeta" e, portanto, a nova classificação não faz sentido.

Mas Runyon e seus colegas não querem que a IAU adote sua sugestão de redefinição. A equipe apenas deseja levantar novamente o debate, inspirando a comunidade científica e educadores de ciências a refletirem a respeito. Já sobre a ideia de que os satélites naturais esféricos poderiam ser considerados como planetas, Runyon acredita que bastaria chamá-los de "planetas que orbitam outros planetas", e disse, ainda, que "ter 100 ou mais planetas [no Sistema Solar] não deveria ser visto como uma confusão", ainda que as aulas de ciência na escola se tornem mais complicadas depois disso.

Ele acredita que não basta memorizar os nomes dos planetas, sejam eles oito, nove ou mais de cem. "Se você memorizou a tabela periódica, você não aprendeu química", argumenta, acreditando que a nova classificação pode estimular o senso de admiração dos alunos pela astronomia, já que eles precisariam aprender as diferenças entre as centenas de planetas, incluindo suas propriedades científicas.

Com tudo isso em mente, podemos concluir que o debate quanto à reclassificação de Plutão ainda tem muito chão pela frente. Para que o pequenino volte a ser um planeta oficial, deixando a categoria de planeta-anão, é preciso, sim, rever a definição oficial da IAU, mas com ideias mais palpáveis do que as apresentadas por Runyon até o momento. Afinal, não faz sentido chamar luas de planetas e, portanto, para elevar Plutão de categoria, seria preciso elaborar uma outra maneira de definir o que é um planeta de verdade, sem que os satélites naturais façam parte da mesma categoria.

Canaltech Canaltech
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