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Retorno às aulas é mais difícil para alunos com necessidades especiais

Com o retorno às aulas presenciais, nota-se uma dificuldade maior nos alunos com necessidades especiais.

3 mai 2022 - 13h29
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Os desafios enfrentados por pessoas com deficiência (PcD) estudantes das escolas regulares não diminuíram com o retorno às aulas presenciais, pelo contrário, os obstáculos se acentuaram para elas após os anos de pandemia de Covid-19, dadas as limitações das próprias deficiências e da falta das especificidades necessárias para garantir o potencial de desenvolvimento cognitivo individual que deveriam ser encontradas em todas as instituições de ensino.

Foto: https://br.depositphotos.com/ / DINO

Cerca de 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, seja para enxergar, caminhar, ouvir ou mesmo alguma deficiência intelectual, segundo o mais recente levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Parte desse grupo - 1,3 milhão - é de estudantes e 86,5% deles estudam nas escolas regulares com todos os demais, aponta o Censo Escolar de 2020. Apesar de, ainda segundo o censo, o número de pessoas com deficiência (PcD) nas salas de aula regulares ter aumentado em 20%, se comparado a 2005, crescimento fomentado também pela aprovação da Lei Brasileira de Inclusão, de 2015, falta um olhar aprofundado para a Educação Inclusiva no país, com o retorno das aulas presenciais.

Retorno

À lacuna intelectual que afetou a todos os estudantes nos dois últimos anos marcados pela pandemia global somou-se o desgaste psicológico, assim como o emocional, de um dia para outro precisar se adaptar a uma nova forma de viver, na tentativa de conter a disseminação do vírus. Crianças e adolescentes passaram a estudar à distância e isso evidenciou mais as debilidades da educação brasileira como o acesso ao ensino remoto não ser uma realidade para todos e a constatação de que a educação possui intrínseca insuficiência. O uso da internet no Brasil se altera de maneira significativa quando se compara pessoas com e sem deficiência. De acordo com documento produzido pelo Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ), em uma parceria com a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), de 2021, apenas 36,8% da população com deficiência tinha acesso à internet em 2016, fator que prejudicou o acesso ao aprendizado nos para estudantes desse grupo, nos dois últimos anos.

Segundo a especialista em educação especial e inclusiva, professora e fisioterapeuta, Fernanda Schmitt Marcon, a pandemia impactou de forma tão evidente a educação inclusiva, que muitos alunos não desejam sequer retornar às aulas presenciais. "Trabalhar com educação é enfrentar desafios, e, no que diz respeito à educação especial, os obstáculos são ainda mais evidentes, pois os alunos precisam de um olhar diferenciado quanto ao processo de ensino- aprendizagem, algo que nem sempre encontram nas escolas, embora devessem", afirma a especialista. "Ocorre que os problemas são maiores na perspectiva da Educação Inclusiva porque alunos com necessidades especiais demandam especificidades que foram evidenciadas durante a pandemia, como o não uso da internet, mas que persistem no retorno das aulas presenciais como a necessidade de melhoria na formação dos professores, a flexibilização de material para estudo e o auxílio constante a esses estudantes durante as aulas", explica Fernanda Schmitt Marcon. Ela reitera que o retorno das aulas presenciais é um desafio aos docentes, alunos e familiares, mas que todas as problemáticas educacionais, psicológicas e físicas adquiridas no período das aulas remotas precisam ser solucionadas. "Acrescente-se que os alunos com alguma necessidade especial tiveram interrompidos tratamentos e outros programas de assistência social durante a pandemia, todos importantes para o seu desenvolvimento global o que dificulta o processo de retorno às aulas de maneira satisfatória. Não é fácil, mas é preciso garantir o retorno dos estudantes com deficiência à sala de aula".

Direitos

Em 2020, um relatório desenvolvido pelo Instituto Rodrigo Mendes, instituição não governamental que atua com educação inclusiva nas escolas regulares desde 1994, explicita como 23 países e organismos internacionais, como Unicef e Unesco, entendem a inclusão de PcD nas instituições de ensino regulares e, a maior parte dos especialistas em educação, considera que "somente o laudo médico de deficiência não deve ser aceito como justificativa para que estudantes sejam deixados para trás e impedidos de voltarem a frequentar as aulas presencialmente, uma vez que apenas algumas crianças e adolescentes com deficiência pertencem a grupos de risco. Ou seja, o retorno dos estudantes com deficiência às salas de aula deve ser estimulado, respeitando-se os casos daqueles que ainda não fizeram o retorno por estarem associados a eventuais comorbidades que os tornam mais vulneráveis ao vírus da Covid-19 e, assim mesmo, somente após análise que envolva equipes escolar e médica, além das famílias e dos próprios estudantes.

Como linha de partida a fim de entender os direitos das PcDs, no Brasil, exemplifica a professora Fernanda Schmitt Marcon, existem muitas leis, decretos e portarias que falam sobre a educação inclusiva no país, como a Lei Brasileira de Inclusão, a mais abrangente e com um capítulo inteiro voltado para a educação, destacando as medidas que devem ser tomadas pela escola para os alunos com necessidades especiais. O mesmo se dá a exemplo da Nova Política de Educação Especial (PNEE), que estabelece a Educação Especial preferencialmente na escola regular de ensino. Isso significa que há esforços governamentais para que as instituições de ensino atendam estudantes com deficiência, conforme prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). "Durante o distanciamento social, a adaptação aos estudos ficou por conta da família. Agora, a integração precisa da escola a fim de que o retorno desses alunos aos estudos possa ser realizado de forma global e multidisciplinar", complementa a especialista.

Desafios

Mesmo com leis que asseguram a participação e a preferência pela escola regular aos estudantes com deficiência, o processo de socialização está apenas reiniciando e o acolhimento é de fundamental importância, assim como o diálogo multidisciplinar para facilitar o planejamento pedagógico individualizado dos alunos com necessidades especiais. Para Marcon, além de as escolas promoverem o atendimento de acordo com as necessidades educacionais específicas, é necessário, neste momento, ofertar condições iguais de acesso e de permanência ao sistema de ensino. A especialista destaca a importância de toda a equipe escolar, juntamente com a família e os profissionais clínicos que acompanham os estudantes com necessidades especiais, em avaliar e organizar um planejamento adequado para o retorno, considerando as características individuais do estudante, além de identificar as possibilidades de trabalho dentro de cada realidade. "É preciso um olhar diferenciado para alunos com deficiência, mas é importante lembrar que ninguém pode fazer tudo sozinho. Por isso, é importante estimular os alunos, suas famílias e os profissionais especializados a trabalharem com a equipe escolar pelo bem do estudante para que todos possam se readaptar ao retorno das atividades escolares. A escola precisa ser um espaço real para todos, mas também para cada um", finaliza.

DINO Este é um conteúdo comercial divulgado pela empresa Dino e não é de responsabilidade do Terra
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