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O melhor do Brasil: as brasileiras

Mulheres criadas por mulheres que nunca desistiram dos sonhos de suas supermeninas

1 ago 2021 - 08h34
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Até pode parecer que estou advogando em causa própria, mas provas incontestáveis nos apontam que a estrela do Brasil é mesmo a mulher. Um país onde mais de 11 milhões de brasileiras criam seus filhos sem ajuda do pai e que uma em cada quatro é vítima de violência doméstica - o Brasil é o quinto do ranking mundial de feminicídio - mostrou esta semana exemplos de força e resiliência descomunais nosJogos Olímpicos de Tóquio. Mulheres criadas por mulheres que nunca desistiram dos sonhos de suas supermeninas.

O que chamam de coincidência - e que chamo de uma amostra do nosso país - levou duas meninas-mulheres de origem humilde, cercadas pela sombra de limitações causadas pela desigualdade social, a desafiarem o destino programado para suas vidas e se tornarem gigantes aos olhos de todo o mundo. Rebeca Andrade, 22 anos, se inspirou em outra de nossas guerreiras, Daiane dos Santos, que em 2000, em Sydney, fez nossos olhos brilharem com uma apresentação ao som de Brasileirinho.

A representatividade que tanto insistimos fez Rebeca e, claro, a mãe, e maior incentivadora, acreditarem que fosse possível. Rebeca levou seu Baile de Favela e conquistou a medalha olímpica para todas nós. A ginasta paulista começou como atleta do projeto social Iniciação Esportiva, da Prefeitura de Guarulhos. Sua mãe, empregada doméstica com sete filhos, teve enorme dificuldade em mantê-la treinando e contou com uma rede de apoio para cada passo dessa jornada.

Do Estado que lidera o ranking de brasileiros vivendo em extrema pobreza no Brasil vem nossa grande "fadinha" do skate, Rayssa Leal, 13 anos, que nasceu e treina diariamente em Imperatriz, no Maranhão. Uma das primeiras frases de Rayssa ao receber a medalha foi: "Agora a gente pode provar que não é só para meninos".

Consciente, aos 13, de sua condição como mulher brasileira, ela construiu nessa frase a ponte para milhões e expressou o que eu mesma sinto várias vezes em minha própria trajetória de trabalho. Separadas por mais de 40 anos, por estados e condições sociais, estamos unidas por um Brasil que dificulta a vida feminina. Somos mais parecidas do que diferentes: somos conhecedoras do papel limitante que tentam nos impor.

Mulheres como Rebeca e Rayssa teimam a cada quatro anos a desafiar as estatísticas e aquecem nossos corações com esperança e incentivo. A questão é que assistindo à Olimpíada desde minha primeira lembrança com Nadia Comaneci, tempo em que a ginástica olímpica era um sonho distante para as brasileiras e o skate, esporte de meu irmão, uma realidade totalmente inatingível para mulheres, testemunho o empenho, a resistência e a luta das brasileiras.

Hoje, vivo entre a alegria de assistir às conquistas de Rayssa e Rebeca e a indignação por não termos mais Rayssas e Rebecas a cada quatro anos.

Estadão
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