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Turistas buscam 'última chance de viajar' para destinos em risco

Procura por locais cujos ecossistema e cultura podem desaparecer tem crescido nos últimos anos

3 jun 2018 - 11h02
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Os viajantes criaram um novo tipo de fantasia, conhecida informalmente como "a última chance de viajar". A vida nas ruas de Cuba se enquadra nesta categoria. E também os rinocerontes negros africanos e as geleiras ao redor do mundo. Enquanto as culturas locais e os habitat naturais se transformam pela ação da globalização, da tecnologia e da mudança climática, os viajantes querem conhecê-los antes que se alterem ou que desapareçam.

Amit Sankhala, proprietário da Encounters Asia de Nova Délhi, é guia de turismo há 14 anos. Agora, segundo ele, os clientes manifestam o desejo de ver um lugar ou determinada espécie animal antes que seja tarde demais. "Eles estão cada vez mais conscientes de que as coisas estão desaparecendo", disse.

Dono da empresa de viagens Austin Adventures, Dan Austin afirmou que quase todos os dias os clientes perguntam sobre a situação atual das geleiras do Alasca, nas Montanhas Rochosas Canadenses ou sobre o Parque Nacional das Geleiras em Montana. O número de geleiras no Parque Nacional das Geleiras, que era de 150 em 1910, quando o parque foi criado, baixou para 26 atualmente.

É o tipo de estatística que mantém Ken Lyons, de Ridgewood, Nova Jersey, viajando para os ecossistemas de três continentes. Este ano, ele visitou o Vale da Morte na Califórnia para ver sua biodiversidade e o céu noturno, que atrai observadores de estrelas. "A gente nunca sabe como isso ficará", comentou.

Andy Biggs, há 15 anos guia de safáris fotográficos na África e em outros lugares remotos, disse que embora alguns de seus clientes busquem um troféu fotográfico, outros querem ter a chance de conhecer o lugar como ele é hoje, ver lugares intocados e espécies ameaçadas.

Uma pesquisa realizada entre visitantes da Grande Barreira de Corais, ao largo da costa da Austrália, constatou que a principal razão da viagem de cerca de 70% deles era "ver os corais antes que desapareçam".

Os viajantes querem ser mais do que meras testemunhas dos habitat e de modos de vida que estão mudando, afirmou Sankhala, por isso buscam experiências profundas, como comer na casa de um habitante do lugar. "Eles não querem apenas olhar um monumento", explicou. "Querem conhecer pessoas ligadas à história daquele monumento".

Melissa Bradley, que dirige a agência de viagens Indagare em Nova York, disse que levou grupos para lugares como Namíbia, Ruanda, Butão e Madagáscar. "É uma experiência mágica sentir-se um verdadeiro explorador, e hoje em dia é mais difícil consegui-la". Ela também conta que quando se abre um novo destino ou ele ganha popularidade, alguns amantes das viagens querem visitá-lo antes que outros o descubram e mudem o sabor do lugar.

Melissa levou um grupo para o Irã. "As pessoas se aproximavam da gente pela rua para perguntar sobre a nossa maneira de viver e falar da sua", disse. Ir para um lugar onde ainda estão ocorrendo mudanças autênticas entre as culturas é um prêmio para os viajantes.

E as multidões mudam rapidamente. O número de visitantes estrangeiros na Islândia cresceu de cerca de um milhão entre 2014 e 2016 para algo em torno de 1,8 milhão, segundo o Ministério do Turismo Islandês. Aproximadamente 4,7 milhões de turistas visitaram Cuba em 2017, um aumento significativo em relação ao ano anterior.

Embora um grande afluxo de turistas possa apressar a degradação de uma área natural, segundo Sankhala, o turismo pode ser uma importante fonte de receitas em lugares isolados. Os turistas interessados em destinos remotos costumam também querer visitá-los de uma maneira que ainda promove "a conservação, a sustentabilidade e uma baixa marca de carbono", afirmou.

Estadão
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