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Transcrição mostra que Trump pediu ajuda à Ucrânia para investigar Biden

Documento foi divulgado após abertura de processo de impeachment

25 set 2019 - 12h45
(atualizado às 13h16)
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A Casa Branca divulgou nesta quarta-feira (25) a transcrição de uma conversa por telefone entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que motivou a abertura de um processo de impeachment contra o mandatário republicano.

Donald Trump é alvo de processo de impeachment na Câmara dos Representantes
Donald Trump é alvo de processo de impeachment na Câmara dos Representantes
Foto: EPA / Ansa - Brasil

A publicação do diálogo havia sido prometida por Trump após pressões do Partido Democrata, de oposição. A transcrição comprova que o presidente americano pediu para Zelensky atuar com o procurador-geral dos EUA, William Barr, para descobrir se o pré-candidato à Presidência Joe Biden tentara barrar uma investigação na Ucrânia contra seu filho, Hunter.

Essa é a espinha dorsal do processo de impeachment contra Trump, que é acusado pelos democratas de "traição à segurança nacional" ao pedir ajuda de um líder estrangeiro para prejudicar um adversário político interno.

A conversa, ocorrida em 25 de julho, logo após a vitória do partido de Zelensky nas eleições legislativas ucranianas, começa com os parabéns de Trump pelo resultado e um lembrete sobre a ajuda financeira concedida pelos EUA ao país europeu.

Em determinado momento, o presidente americano diz que gostaria de pedir um "favor" a Zelensky e cita vagamente a empresa CrowdStrike - contratada para investigar o hackeamento contra o Comitê Nacional Democrata nas eleições de 2016 - e o procurador do "caso Rússia", Robert Mueller.

Quando o presidente da Ucrânia concorda e afirma estar disposto a abrir uma "nova página de cooperação nas relações com os EUA", Trump introduz o assunto relativo ao filho de Biden. "Ótimo, porque ouvi dizer que vocês tinham um procurador muito bom que foi demitido, e isso é realmente injusto. Muitas pessoas estão falando sobre isso, a maneira como eles tiram um procurador muito bom e como tem muita gente ruim envolvida", diz.

A referência implícita é ao ex-procurador-geral da Ucrânia Viktor Shokin, demitido do cargo em 2016, após pressões de Biden, na época vice-presidente dos EUA e que o acusava de fracassar no combate à corrupção. O próprio democrata admitiu que ameaçara congelar US$ 1 bilhão em ajuda americana se Shokin não fosse exonerado.

Naquele período, contudo, o procurador investigava uma empresa ucraniana de gás que tinha Hunter Biden como conselheiro. Na conversa de 25 de julho, Trump disse que pediria para seu advogado pessoal, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, e o procurador-geral William Barr entrarem em contato com Zelensky.

"Rudy sabe muito sobre o que está acontecendo e é um cara muito capaz. Se você puder falar com ele, seria ótimo para todos nós. [...] Outra coisa. Tem muita conversa sobre o filho de Biden, que Biden parou a investigação, e muita gente quer descobrir o que aconteceu, então o que você puder fazer com o procurador-geral será ótimo. Biden andou se gabando que ele parou a investigação, então se você puder dar uma olhada nisso... Parece algo horrível para mim", acrescentou.

Em seguida, Zelensky garante que o próximo procurador-geral da Ucrânia será "100%" dele e "olhará para essa situação". "Gostaria de pedir gentilmente que, se você tiver informações adicionais que possa nos dar, seria muito útil para a investigação", afirma.

"Falarei para Giuliani te ligar e também vou falar com o procurador-geral Barr, e vamos ir fundo nisso", promete Trump. Eles não mencionam os US$ 391 milhões em ajuda americana que a Casa Branca havia congelado antes do telefonema. Segundo Trump, o bloqueio tinha como objetivo forçar a União Europeia a elevar suas contribuições para Kiev, e não chantagear Zelensky.

Impeachment

Após a divulgação da transcrição, o presidente dos EUA deu uma breve declaração à imprensa e negou ter feito pressão sobre a Ucrânia. "Essa é uma guerra política, a pior caça às bruxas na história", atacou.

Em seu perfil no Twitter, a senadora e pré-candidata à Presidência Elizabeth Warren, uma das favoritas a obter a indicação democrata, disse que, se essa é a versão que a Casa Branca considera mais "favorável", Trump "corre grande perigo". "Agora precisamos ver a denúncia completa do whistleblower", acrescentou, em referência ao agente de inteligência que denunciou pela primeira vez o teor da conversa entre Trump e Zelensky.

"Eles admitiram: Trump pressionou o presidente ucraniano a trabalhar com o procurador-geral dos EUA para investigar um oponente político. Ele precisa sofrer impeachment", reforçou a senadora Kamala Harris, também pré-candidata à Presidência.

O processo de impeachment foi aberto pela presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, na última terça-feira (23), mas ainda tem um longo caminho pela frente. A investigação começará na própria Câmara, e os democratas planejam concluir o inquérito até o fim do ano.

Se a maioria votar pelo afastamento do presidente, o caso seguirá para o Senado, controlado pelo Partido Republicano. Ou seja, Trump só será deposto com apoio de boa parte de sua própria legenda, algo improvável neste momento.

Ansa - Brasil   
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