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Tailândia vai às urnas pela 1ª vez após golpe militar

Esta é a primeira eleição realizada no país desde 2011. Forças Armadas afirmam buscar reestabelecer ordem e estabilidade, mas críticos dizem que foram tomadas medidas para garantir que militares permaneçam influentes na política tailandesa seja qual for o resultado da votação.

24 mar 2019 - 09h48
(atualizado às 09h54)
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A expectativa é que a participação popular seja alta na primeira votação desde 2011
A expectativa é que a participação popular seja alta na primeira votação desde 2011
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os tailandeses participaram das primeiras eleições gerais do país desde o golpe militar de 2014.

Há anos, a Tailândia vive uma instabilidade política, em grande parte por conta dos embates entre apoiadores dos militares e o ex-premiê Thaksin Shinawatra, deposto em 2006.

Depois de assumir o poder, as Forças Armadas prometeram reestabelecer a ordem e a democracia, mas adiaram a realização de eleições por várias vezes.

Seus críticos dizem que a nova Constituição promulgada pelos militares garantirá que eles continuem influentes na política nacional independentemente dos resultados destas eleições.

Mais de 50 milhões de pessoas estão habilitadas a votar no país, e as autoridades dizem que a participação popular pode chegar a 80%.

Mais de 7 milhões de pessoas com idades entre 18 e 26 anos votarão pela primeira vez e podem ser decisivas para a vitória. Por isso, todos os partidos se esforçaram para conquistar esta parcela da população.

Na véspera da eleição, o rei tailandês, Maha Vajiralongkorn, divulgou um comunicado pedindo "paz e ordem" na votação e que os eleitores "apoiem as pessoas boas".

Eleitores têm uma 'escolha simples'

Os tailandeses estão determinados a fazerem com que sua voz seja ouvida quanto aos rumos do país, cinco anos após o último golpe militar, diz o correspondente da BBC News em Bangkok, Nick Beake.

"Essa eleição se resume basicamente a uma escolha simples: você quer que os militares continuem no poder?", diz Beake.

As Forças Armadas governam o país desde 2014, quando promoveram o 12º golpe militar do país desde a reforma política da monarquia, em 1932.

A irmã de Thaksin Shinawatra, Yingluck Shinawatra, era a premiê na época, após seu partido vencer as eleições de 2011, mas seu governo era alvo de diversas manifestações populares desde o fim de 2013 que buscavam derrubá-lo.

Peerasin, de 23 anos, é um dos 7 milhões de tailandeses que votarão pela primeira vez. Ele e sua mãe dizem esperar por uma mudança, mas que seu pai é mais consevador.

As irmãs Mai, que trabalha em um banco, e May, funcionária de uma empresa farmacêutica, dizem não conversar sobre política em casa com a família, mas isso não significa que elas não têm uma opinião sobre a votação.

"O país está sofrendo há muito tempo", diz Mai. "Esperamos que estas eleições sejam pacíficas e que não haja corrupção. Estamos esperançosas."

Quem está na disputa

A eleição é basicamente uma disputa entre partidos pró-Forças Armadas e aliados de Thaksin - o ex-premiê foi deposto por um outro golpe militar em 2006, acusado de corrupção.

Ele vive em um exílio autoimposto para evitar ser condenado por abuso de poder. Mas ainda tem muitos apoiadores, especialmente entre a população rural e mais pobre do país.

Partidos leais a Thaksin venceram todas as eleições realizadas no país desde 2001. Um dos objetivo dos militares era enfraquecer esse movimento, diz Jonathan Head, correspondente da BBC News no Sudeste Asiático.

Desta vez, o partido Pheu Thai é quem lidera a campanha entre os apoiadores de Thaksin.

Gráfico mostra como funciona eleição de premiê na Tailândia
Gráfico mostra como funciona eleição de premiê na Tailândia
Foto: BBC News Brasil

O general Prayuth Chan-ocha, que esteve à frente do golpe que tirou Yingluck Shinawatra do poder em 2014, foi indicado como o único candidato a primeiro-ministro pelo partido recém-formado Palang Pracha Rath Party (PPRP), que é pró-militares.

Outras legendas importantes são a Democratas, liderada pelo ex-premiê Abhisit Vejjajiva, e a Avante Futuro, comandado pelo jovem bilionário Thanatorn Juangroongruangkit.

Quando o último golpe ocorreu, as Forças Armadas disseram que queriam reestabelecer a ordem e a estabilidade do país e impedir que mais protestos populares se repetissem ao longo dos anos.

Mas a junta militar tem sido acusada de ter uma abordagem autoritária, com controle da mídia e uso arbitrário de leis para silenciar seus oponentes.

Também promulgou uma nova Constituição, aprovada em votação popular. Críticos afirmam que ela foi feita para garantir que os militares continuem a ter um papel central na política tailandesa.

E agora?

Os tailandeses votam para eleger os 500 membros da Câmara. Sob a nova Constituição, os 250 integrantes do Senado são indicados pelos militares. As duas casas do Parlamento escolhem então o primeiro-ministro - é necessário obter metade dos votos mais um para chegar ao cargo.

O candidato dos militares, o general Prayuth, precisaria, em teoria, de apenas 126 votos da Câmara para ser o novo premiê. O partido vencedor ou a coalização formada por ele também pode indicar um primeiro-ministro que não seja do Parlamento.

O general Prayuth Chan-o-cha é o candidato a premiê dos militares
O general Prayuth Chan-o-cha é o candidato a premiê dos militares
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A nova Constituição também estabelece um limite no número de assentos que um único partido pode ocupar no Parlamento, independentemente do número de votos que receber, e qualquer futuro governo é obrigado constitucionalmente a seguir o plano de 20 anos criado pelos militares para o país.

Os primeiros resultados da votação devem ser divulgados algumas horas após o fim da votação, às 17h do horário local (7h do horário de Brasília), mas a expectativa é que se leve um pouco mais de tempo para saber qual será o destino da Tailândia, porque os partidos ainda terão de negociar acordos e coalizões.

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