'Rússia está brincando com a guerra', diz chefe da diplomacia da UE
Desde o fim do verão, drones foram vistos em vários países da UE, incluindo Polônia, Romênia, Dinamarca e Alemanha
Rússia é acusada de provocar riscos de guerra ao violar o espaço aéreo europeu, enquanto autoridades alertam sobre possível conflito direto com a Otan e exortam o fortalecimento da defesa militar e energética da Europa e Ucrânia.
A Rússia está "brincando com a guerra", denunciou a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, nesta segunda-feira (13) em visita a Kiev, após uma série de violações do espaço aéreo europeu atribuídas aos russos. De acordo com o serviço secreto alemão, Moscou estaria preparada para entrar em conflito direto com a Otan.
"Cada vez que um drone ou avião russo viola nosso espaço aéreo, existe o risco de uma escalada, voluntária ou não. Já ultrapassamos o limite de um conflito hipotético", declarou Kallas durante uma entrevista coletiva.
"Para evitar a guerra, precisamos transformar o poder econômico da Europa em dissuasão militar", acrescentou a ex-primeira-ministra da Estônia. Kallas foi recebida nesta segunda-feira (13) pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andriï Sybiga.
Desde o fim do verão, drones foram vistos em vários países da UE, incluindo Polônia, Romênia, Dinamarca e Alemanha. Nos dias 22 e 25 de setembro, o governo dinamarquês observou o sobrevoo de vários locais sensíveis, como aeroportos e bases militares, e acusou abertamente a Rússia.
Moscou já havia sido acusada de estar por trás da incursão de cerca de 20 drones no céu polonês no início de setembro. Além disso, três aviões de combate russos foram flagrados no espaço aéreo da Estônia por 12 minutos em 19 de setembro, segundo Tallinn. Já a Alemanha foi alvo de sobrevoos de drones, sabotagens e campanhas de desinformação e influência.
Em Kiev, a chefe da diplomacia discute com as autoridades o apoio financeiro e militar da UE e a segurança do sistema energético ucraniano, prejudicado nas últimas semanas pelo aumento dos ataques noturnos russos.
"O inimigo busca afetar o estado de espírito e o humor da população atacando as infraestruturas energéticas. Estamos plenamente conscientes disso", declarou o ministro ucraniano. Ele pediu proteção reforçada das infraestruturas do país com a ajuda dos aliados da Ucrânia, que tem reivindicado sistemas adicionais de defesa antiaérea.
O Ministério da Energia da Ucrânia anunciou nesta segunda cortes de eletricidade em pelo menos sete regiões no norte, leste, centro e sul do país, após ataques russos contra a rede energética.
"Rússia não se esqueceu da Guerra Fria"
Os serviços secretos alemães alertaram nesta segunda-feira que a Rússia estaria "preparada para entrar em conflito militar direto com a Otan". A ameaça poderia se concretizar antes de 2029. "Em Moscou, acredita-se haver chances realistas de expandir sua zona de influência para o oeste e tornar a Europa, economicamente muito mais poderosa, dependente da Rússia", declarou Martin Jäger, presidente do Serviço Federal de Inteligência (BND), durante audiência na comissão de controle parlamentar, no Bundestag, em Berlim.
Para alcançar esse objetivo, a Rússia não hesitará, se necessário, em entrar em conflito militar direto com a Otan", acrescentou. "Não devemos nos acomodar pensando que um eventual ataque russo só ocorrerá a partir de 2029. Já estamos no meio da ação hoje", acrescentou Jäger, que assumiu a liderança do BND em 15 de setembro.
"Na melhor das hipóteses, a Europa vive uma paz fria que pode, a qualquer momento, se transformar em confronto violento. Precisamos nos preparar para uma nova escalada da situação", continuou Jäger.
"A Rússia persegue agressivamente suas ambições políticas contra a Alemanha, a UE e seus aliados ocidentais", acrescentou Sinan Selen, presidente do serviço de inteligência interna alemão (BfV).
"Os serviços russos ajustam constantemente os níveis de escalada de suas atividades com o objetivo estratégico de enfraquecer as democracias liberais. Como resultado, detectamos uma ampla gama de atividades de espionagem, desinformação, interferência, sabotagem e ciberataques conduzidos por atores e Estados estrangeiros na Alemanha", afirmou. "A Rússia não esqueceu a Guerra Fria", acrescentou, "o que significa que os instrumentos usados naquela época ainda estão disponíveis".
(Com agências)