Protestos da geração Z derrubam mais um governo, desta vez na Bulgária
Depois do Nepal e Sri Lanka, protestos anticorrupção e contra política ecônomica liderados por jovens provocam renúncia de premiê búlgaro. Queda do governo ocorre semanas antes da entrada do país na zona do euro.O governo da Bulgária renunciou nesta quinta-feira (11/12) após os protestos em massa liderados pela Geração Z tomarem as ruas do país, na esteira de outras manifestações lideradas por jovens que já derrubaram governos em Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e Madagascar, e que tem pressionado governantes em outras nações, como Sérvia, Filipinas e Peru.
Já a queda do governo búlgaro ocorre apenas algumas semanas antes da entrada do Estado-membro da União Europeia (UE) na zona do euro.
O primeiro-ministro búlgaro, Rosen Zhelyazkov, entregou a renúncia de sua coalizão de governo minoritária, liderada pelo partido de centro-direita Cidadãos pelo Desenvolvimento Europeu da Bulgária (Gerb), após semanas de manifestações contra suas políticas econômicas, em especial um contoverso projeto orçamentário, e em meio indignação pública com a corrupção generalizada no país.
Zhelyazkov anunciou a decisão em um pronunciamento televisionado minutos antes da votação no Parlamento sobre uma moção de desconfiança contra seu governo, menos de três semanas antes da entrada da Bulgária na zona do euro, em 1º de janeiro.
"Nossa coalizão se reuniu, discutimos a situação atual, os desafios que enfrentamos e as decisões que devemos tomar com responsabilidade", disse Zhelyazkov, ao confirmar a renúncia do governo.
Milhares de búlgaros se manifestaram na noite desta quarta-feira em Sófia e dezenas de outras cidades, no mais recente episódio de uma onda de protestos pelo país que destacam contra a incapacidade de sucessivos governos em erradicar a corrupção.
"Percebemos que os protestos foram contra a arrogância e a presunção; não se trata de um protesto social, mas sim de um protesto por valores", disse Zhelyazkov. "Não foi um encontro de opositores políticos sobre políticas, mas sim sobre atitudes, e, portanto, une diferentes componentes da sociedade búlgara."
Oposição pede eleições justas e livres
Na semana passada, o governo de Zhelyazkov recuou de seu plano orçamentário para 2026, o primeiro elaborado em euros, após protestos contra propostas de aumento das contribuições para a seguridade social e dos impostos sobre dividendos para financiar maiores gastos públicos.
Apesar do recuo, as manifestações mantiveram a pressão em um país que realizou sete eleições nacionais nos últimos quatro anos, sendo a mais recente em outubro de 2024, em meio a profundas divisões políticas e sociais.
"[A renúncia] é o primeiro passo para que a Bulgária se torne um país europeu normal", disse Asen Vassilev, líder do partido de oposição Continuamos a Mudança. "O próximo passo [...] é realizar eleições justas e livres, que não sejam marcadas por manipulação eleitoral, como foi o caso das últimas eleições parlamentares", acrescentou Vassilev.
O presidente Rumen Radev, que no início desta semana havia pedido a renúncia do governo, reiterou esse sentimento na quinta-feira: "Entre a voz do povo e o medo da máfia, ouçam as praças públicas", escreveu em postagem no Facebook dirigida aos parlamentares.
De acordo com a Constituição da Bulgária, Radev agora pedirá aos partidos no Parlamento que trabalhem para formar um novo governo. Se não conseguirem - o que parece provável - ele nomeará uma administração interina para governar o país até que novas eleições possam ser realizadas.
O gabinete de Zhelyazkov permanecerá no cargo até que um sucessor seja eleito.
Geração Z à frente dos protestos
O protesto desta quarta-feira em Sófia teve participação majoritária de jovens que entoavam slogans como "não permitiremos que mintam para nós; não permitiremos que nos roubem". Os manifestantes exigiam a renúncia do governo.
Em frente ao Parlamento, faixas exibiam frases como "a Geração Z está chegando" e "Bulgária jovem sem máfia". A manifestação foi inicialmente pacífica, mas terminou em confrontos violentos com as forças de segurança.
As tensões aumentaram quando pequenos grupos de manifestantes se dirigiram aos escritórios dos principais partidos governistas e começaram a atirar garrafas de plástico e de vidro, fogos de artifício e pedras contra os prédios e os policiais no local.
Os serviços de emergência relataram que várias pessoas feridas foram levadas para hospitais, enquanto muitas foram examinadas e receberam assistência no local. A polícia informou que dez pessoas foram detidas.
Com amplo conhecimento digital, a Geração Z - termo que se refere a pessoas nascidas aproximadamente entre 1997 e 2012 - emergiu como uma força política, desafiando o autoritarismo, a corrupção e a desigualdade econômica com ativismo de rua.
Jovens da Geração Z estiveram por trás de manifestações em várias partes do mundo, algumas das quais resultaram na queda de governos como em Bangladesh, Sri Lanka Nepal e Madagascar. Os protestos também geraram abalos em países como México, Indonésia e Peru.
rc (Reuters, AP)