Polícia israelense invade complexo da agência de refugiados da ONU em Jerusalém Oriental
Autoridades israelenses entraram nos escritórios da agência da ONU para refugiados palestinos em Jerusalém Oriental nesta segunda-feira e hastearam a bandeira de Israel, em uma ação, segundo eles, ordenada por causa de impostos não pagos, mas condenada pela agência como um desafio ao direito internacional.
Acusada de parcialidade por Israel, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) não usa o prédio desde o início deste ano, após Israel ordenar que ela desocupasse todas as suas instalações e encerrasse suas operações.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou veementemente o ataque.
"Este complexo continua a ser uma instalação das Nações Unidas e é inviolável e imune a qualquer outra forma de interferência", disse Guterres em um comunicado.
"Peço a Israel que tome imediatamente todas as medidas necessárias para restaurar, preservar e manter a inviolabilidade das instalações da UNRWA e que se abstenha de tomar qualquer outra medida com relação às instalações da UNRWA."
O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, escreveu no X que a ação de Israel poderia criar "um precedente perigoso em qualquer outro lugar em que a ONU esteja presente no mundo".
DÍVIDA SUBSTANCIAL
O município de Jerusalém disse que fiscais tributários entraram no complexo da UNRWA por causa de impostos imobiliários não pagos no valor de 11 milhões de shekels (US$3,4 milhões), após a emissão de diversos avisos, e seguindo todos os procedimentos necessários.
"Trata-se de uma dívida substancial que precisou ser cobrada após repetidas solicitações, avisos e inúmeras oportunidades dadas para quitá-la, que não foram atendidas", disse à Reuters.
O porta-voz da UNRWA, Jonathan Fowler, disse que o complexo de Jerusalém Oriental seguir sendo considerado parte das instalações da ONU apesar da proibição israelense de suas operações e que a agência não tinha dívidas com o município.
A ONU entrou em contato com as autoridades israelenses várias vezes para lembrá-las de suas obrigações, nos termos de uma convenção da ONU da qual Israel é signatário, disse ele.
O gabinete do primeiro-ministro israelense e o Ministério das Relações Exteriores não responderam imediatamente a um pedido de comentário.
Lazzarini disse que motocicletas, caminhões e empilhadeiras da polícia foram levados e as comunicações foram cortadas. Equipamentos de TI, móveis e outros bens foram apreendidos, disse ele.
A Assembleia Geral da ONU renovou o mandato da UNRWA, estabelecido pela primeira vez em 1949, por mais três anos na sexta-feira. Fowler não quis especular sobre o momento do ataque.
Para ele, Israel conduz uma "campanha de desinformação contínua" contra a UNRWA, cujas responsabilidades quer que sejam assumidas por outros órgãos da ONU.
Palestinos consideram que a existência da UNRWA está ligada à preservação de seus direitos como refugiados, especialmente sua esperança de retornar aos lares dos quais eles ou seus ancestrais fugiram ou foram expulsos na guerra pela criação de Israel em 1948.
CRÍTICAS ISRAELENSES
Israel alega que alguns funcionários da UNRWA eram membros do grupo militante palestino Hamas e participaram do ataque a Israel em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 israelenses e levou à guerra de Israel contra o Hamas, na qual mais de 70.000 palestinos foram mortos, segundo autoridades de Gaza.
A UNRWA demitiu vários funcionários, mas disse que Israel não havia apresentado provas de todas as alegações contra seus servidores.
O Parlamento de Israel aprovou uma lei em outubro de 2024 que proíbe a agência de operar no país e proíbe que funcionários tenham contato com a agência.
A UNRWA opera em Jerusalém Oriental, considerado território ocupado por Israel pela ONU. Israel considera toda Jerusalém como parte do país.